O Espiritismo no Sul de Minas
Dermeval Carinhana Jr. - dcarinhana@gmail.com
Instituto de Estudos Espíritas “Wilson Ferreira de Mello”,
Campinas, SP.
Pela quarta
vez tivemos a honra e a felicidade de visitar, em seqüência, diversos centros
espíritas naquilo que se pode chamar de uma verdadeira viagem espírita. Dessa
vez, o convite nos levou ao Sul de Minas Gerais, nas cidades de Campanha, Boa
Esperança, Três Corações e Varginha. Na bagagem, palestras da série “Colaboradores de Allan Kardec”,
pertencente ao projeto “Conheça Kardec”,
elaborado e desenvolvido em nosso agrupamento espírita, o Instituto de Estudos
Espíritas “Wilson Ferreira de Mello”: “Os
Médiuns e Allan Kardec”; “Os
Espíritos e Allan Kardec”; “A
Correspondência de Allan Kardec”; e “As
Viagens de Allan Kardec”. Como das outras vezes, nossa viagem tinha dois
grandes objetivos: contribuir na propagação do pensamento de Kardec sobre as
idéias espíritas e, como em uma via de mão dupla, recolher na forma de
ensinamento as impressões e experiências em cada centro visitado. Nesse
aspecto, nossa pequena incursão mineira não poderia ter sido mais proveitosa:
em todos os lugares por onde passamos, vimos grupos espíritas, alguns com mais
de 70 anos de atividades, altamente organizados, com grandes idealistas à
frente de seus trabalhos, contribuindo, de forma simples e dedicada, com o
esclarecimento da criatura humana sobre sua natureza espiritual.
Um
ponto que nos chamou verdadeiramente a atenção foi o número de jovens e
crianças presentes às reuniões. Em mais de uma cidade pudemos constatar sua
presença em companhia de seus pais e responsáveis, acompanhando com vivo
interesse e atenção a apresentação de conteúdos sobre a vida e obra de Allan
Kardec. Prova disso, foram algumas das perguntas de elevado teor moral e
filosófico que nos foram endereçadas ao final das exposições. Em Campanha, um
garoto de 12 anos perguntou sobre as motivações que levaram Allan Kardec a
iniciar seus estudos espíritas. Em Três Corações, outro jovem da mesma idade
quis saber sobre o funcionamento de nosso centro, e como havia surgido a idéia
de levar adiante o projeto “Conheça Kardec”. Tais manifestações apenas
confirmam que, a despeito dos poucos anos apresentados pelo corpo físico, os
jovens guardam as mesmas necessidades e possibilidades que quaisquer outros
espíritos ligados a esse planeta. A sabedoria consiste, pois, em se aproveitar
tal potencial, sempre tendo em vista as limitações naturais de cada fase em que
o espírito se encontra.
Outro
aspecto que desejamos destacar consiste nas relações existentes entre os
diferentes grupos espíritas, mesmo localizados em cidades diferentes, algumas
distantes mais de 100 km entre si. Há, entre eles, um respeito mútuo, não por uma
forma de afiliação qualquer, mas sim pelo mais puro laço moral construído com
base na convivência séria e saudável entre seus dirigentes e freqüentadores. Ao
mesmo tempo em que se observa essa relação horizontal de mútua estima, há, por
parte de alguns companheiros, uma ascendência moral natural, daquelas
construídas ao longo do tempo, da experiência e, sobretudo, dos verdadeiros
sentimentos de simpatia para com tudo e para com todos. Nesse sentido, foi em
Boa Esperança e Varginha onde encontramos verdadeiros exemplos de referenciais
de devotamento e empenho na implantação e desenvolvimento de trabalhos
espíritas, apontados não por nós, mas sim pelos companheiros que, reconhecidos
pela ajuda recebida, fizeram questão de compartilhar conosco seus sentimentos
de carinho e agradecimento.
Um
fato que desconhecíamos por completo foi a própria história do surgimento dos
núcleos espíritas nessa região do país. Sabíamos, não há dúvidas com respeito a
isso, da importância e do dinamismo do meio espírita em Minas Gerais, em
particular pela influência natural, e importante, de Chico Xavier, cujo papel
na história do Espiritismo dispensa maiores comentários. No entanto, em todos
os lugares por onde passamos, sem exceção, ficou evidente que a criação e
organização do Espiritismo datam de uma época anterior à própria atuação do
Chico, o que mostra que, não sem motivo, seu trabalho encontrou um ambiente
favorável na região de Minas.
Por
fim, experiências como essa demonstram que, ao contrário do que pensam alguns, o
meio espírita atual é formado por uma grande malha altamente ativa e organizada
de agrupamentos espíritas. Como as pessoas que os compõem, tais centros são
dotados das mais diversas características entre si. Uns são pequenos, ao passo
que outros, grandes. Alguns são muito antigos, enquanto muitos outros possuem
poucos anos de idade. Em muitos casos, ao lado de centros dotados de dezenas de
grupos de estudos, há agrupamentos onde seus dirigentes ainda estão em vias de
firmar um grupo dessa natureza. Em sua maioria, os centros possuem bibliotecas
e livrarias notáveis pela organização e número de livros, enquanto outros
tantos contam apenas com um punhado de livros bem aproveitados por todos. Daí
se deduz que, longe de ser um obstáculo, a diversidade do meio espírita
consiste em belas oportunidades de aprendizados e trocas de experiências entre
todos os envolvidos. Carece, pois, de qualquer base racional e moral a
afirmação de que o meio espírita é despreparado ou está envolto em crises de
toda a ordem. Há muito que fazer, não há dúvidas, em prol da propagação e
avanço do Espiritismo. Contudo, tão certo quanto isso é o fato de que as
pessoas responsáveis por tais desenvolvimentos já se encontram, a maneira dos
primeiros pioneiros espíritas, onde sempre se encontram os verdadeiros
idealistas: realizando de forma alegre e desinteressada suas tarefas no Bem.