Desejos
Orson Peter
Carrara
A
palavra desejo lembra vontade, que
inclusive é uma de suas definições. É a vontade de possuir algo, de alcançar um
objetivo, de ir ou estar em algum lugar, de desfrutar de algum benefício,
posição, cargo, título ou até um apetite alimentar e mesmo uma atração sexual. Digamos,
em síntese, que trata-se de uma aspiração humana. A própria conjugação do verbo
indica: ter vontade, sentir desejo,
entre outras definições.
Entre
o desejo e a conquista – seja do que for – há um espaço enorme que envolvem
providências, conveniências, precipitação, capacidade, utilidade, possibilidade
e outros tantos desdobramentos que não é difícil imaginar e elencar.
É
quando entra a disciplina de um propósito sempre esquecido: a educação do desejo.
Afinal,
como discipliná-lo correta e coerentemente? Como transformar esse sentimento de
querer numa fonte de alegrias para si mesmo e para muitos? As situações são
variadas, claro, individuais e coletivas.
A
educação, por sua vez, mais que instrução que se adquire, está na moralização
dos próprios hábitos e comportamentos, que redundem em polidez, fraternidade,
moralidade e intenso esforço de melhorar a si mesmo e simultaneamente
beneficiar aqueles que estão à nossa volta, em qualquer momento ou situação.
É
exatamente pela ausência dessa educação
do querer que temos vivido o caos social da indisciplina e do desrespeito
às mais elementares noções de civilidade e cidadania. Fruto, sem dúvida, da
ausência de construção sólida desde a infância do querer educado. Tarefa dos educadores, mas não restrito a eles, pois
que inicia-se com os pais e amplia-se para os adultos em geral. Guardamos todos
o dever de transmitir às crianças os bons exemplos de civilidade, de desejos
educados e disciplinados.
O
desejo simplesmente liberado, sem refletir sobre consequências e desdobramentos,
sem respeito à presença ou interesses alheios, tem sido um dos fatores da
violência na vida social.
Se
pensarmos bem, as agressões – inclusive as econômicas e sexuais – são
resultantes dos desejos desenfreados, alheios ao respeito que devemos uns aos
outros e mesmo à indiferença aos sentimentos de outras pessoas. É o desejo
desordenado, comparável à direção de um veículo sem freios ou à montaria de um
animal desesperado que não controla os caminhos que vai atravessando.
É
mesmo o descontrole das emoções convertidas nos desejos, que aguarda a correção
da educação. Isso lembra as paixões.
A
paixão não é um mal em si mesma, pois que da própria natureza humana. Mas, ela a paixão está no excesso acrescentado à
vontade. E podemos acrescentar: o
abuso que delas se faz que causa o mal.
Voltamos
à questão do desejo educado. Afinal, as
paixões são como um cavalo que é útil quando está dominado, e que é perigoso,
quando ele é que domina. Reconhece-se, pois, que uma paixão torna-se perniciosa
a partir do momento em que não podemos governá-la e que ela tem por resultado
um prejuízo qualquer para vós ou para outrem.
Podemos
notar, com facilidade, a questão, pois, da vontade, do desejo e do controle
sobre ele. Quando descontrolado e domina, torna-se um mal.
Uma
paixão por uma invenção, por exemplo, dominada pela disciplina, pelos estudos e
pesquisas, que elimina o fanatismo e nutre o ideal a que destina, é
extraordinária no alcance do objetivo.
Por
outro lado, o desejo descontrolado, por exemplo, de uma atração sexual e,
portanto, sem domínio que gera o raciocínio, pode gerar traumas e tragédias,
sofrimento e lágrimas.
É
a educação do desejo! Saber desejar, direcionar a vontade.
A
causa maior, contudo, da presença de um desejo descontrolado, está, todavia, no
egoísmo. Claro que a precipitação, o não amadurecimento, o não equilíbrio
emocional apresentam-se como ingredientes de expressão, afinal do egoísmo deriva todo o mal. Sim, se
pararmos mesmo para pensar num desejo descontrolado, em qualquer área, que gera
sofrimentos, no fundo está o egoísmo do interesse pessoal. No fundo está o
desrespeito com o sentimento alheio.
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