Utilizar os conhecimentos para progredir
Seguramente
culpável – Orson Peter Carrara
A frase está ali nas entrelinhas e passa desapercebida numa
leitura sem atenção. Mergulhe-se atentamente no texto, todavia, e vamos
encontrando essas orientações seguras. Seguras e diretas, sem rodeios. Já não
podemos alegar ignorância, dada sua lógica e clareza.
Ela está na segunda linha do item 12 do capítulo XVIII – Muitos
os chamados e poucos os escolhidos, de O Evangelho Segundo o
Espiritismo. Esse item está imediatamente na sequência do subtítulo Muito
se pedirá àquele que muito recebeu, que traz transcrito nos itens 10 e 11,
as anotações, respectivamente, de Lucas (XII, 47, 48) e João (IX, 39 a 41), que
faz referência exatamente ao subtítulo.
A frase, que é do próprio Kardec, está, pois, no início do
valioso texto (íntegro no item 12), com sete parágrafos, é a seguinte:
“(...) Todo aquele que conhece os preceitos do Cristo é
culpável, seguramente, de não os praticar (...)”.
Note-se, pois, a vinculação imediata do conhecimento com a
responsabilidade. O que é óbvio, pois que conhecendo, adquire-se o compromisso
de viver o que se sabe. É o que ocorre com a disseminação dos ensinos de Jesus,
porta voz direto das Leis Divinas, que Ele mesmo viveu integralmente, ensinando
seus irmãos menores, que somos os aprendizes.
Nessa linha de raciocínio, escreve o Codificador: “(...) O
ensinamento dos Espíritos, que reproduz estas máximas sob diferentes formas,
que as desenvolve e as comenta para pô-las al alcance de todos, tem a
particularidade de não ser circunscrito a cada um, letrado ou iletrado, crente
ou incrédulo, cristão ou não, pode recebe-lo, uma vez que os Espíritos se
comunicam por toda a parte; nenhum daqueles que o recebem diretamente, ou por
intermediários, pode pretextar ignorância; não pode se desculpar, nem por sua
falta de instrução, nem pela obscuridade do sentido alegórico. (...)”
Uma clareza inquestionável, que não dá brechas a desculpas.
O ensino está disponível.
E prossegue:
“(...) Aquele, pois, que não as aproveita para o seu
adiantamento, que as admira como coisas interessantes e curiosas sem que o seu
coração por elas seja tocado, que não é nem menos vão, nem menos orgulhoso, nem
menos egoísta, nem mesmo apegado aos bens materiais, nem melhor para o seu
próximo, é tanto mais culpado, quanto tenha maiores meios de conhecer a
verdade. (...)”.
Raciocínio lógico. O Evangelho é Lei de Deus e visa nossa
melhora moral. Conhecê-lo e não nos tornarmos melhores (objetivo do
Espiritismo), torna-nos incoerentes com o que vamos conhecendo, distanciados da
responsabilidade do conhecimento sem a vivência correspondente.
No parágrafo seguinte, há referência a essa mesma sintonia
com a prática mediúnica. Deixo de transcrever, recomendando ao leitor sua
leitura integral diretamente na obra.
A conclusão, todavia, da presente reflexão, extraímos do
próprio texto, na obra em referência:
“(...) Aos espíritas, pois, será pedido muito, porque
receberam muito, mas também àqueles que tiverem aproveitado, será dado muito. O
primeiro pensamento de todo espírita sincero deve ser o de procurar, nos
conselhos dados pelos Espíritos, se não há alguma coisa que possa lhe dizer
respeito. (...)”.
Note-se que as expressões “pedido muito” ou “receberam
muito” abre outras perspectivas de análise, o que não faremos aqui, deixando
para outra oportunidade. Mas o “procurar nos conselhos dados pelos Espíritos
(...)” algo que nos diz respeito é atitude altamente recomendável, prudente e
protetivo de possíveis lágrimas no futuro.
A menção de culpa, todavia, não deve ser direcionada para
punição. Ela está toda na avalição feita pela própria consciência de cada um,
que cria os arrependimentos e remorsos que se apresentam no futuro, nos
confrontos inevitáveis conosco mesmo. Uma vez que sabíamos, porque não seguimos
ou fizemos?
Aí surgem os remorsos, exigindo reparações. A Lei, todavia,
é de amor, de misericórdia, e nos abre contínuas portas para reconstruirmos a
própria paz, comprometida por comportamentos incompatíveis com o que já
sabíamos.
A cultura de culpa, todavia, é ruim. A palavra é usada aqui com efeito didático, de melhor entendimento, como a indicar que a nossa infelicidade devemos a nós mesmos, pela omissão ou negligência no trato com os reais objetivos de viver e aprender.
É um processo lento, gradativo, mas, convenhamos, muito justo.
É um aprendizado. Ele trará amadurecimento que nos libertará
das algemas dos condicionamentos, vícios e vai abrindo espaços novos para
outros empreendimentos na conquista da evolução.
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