Nova dívida?


 

Contrai nova dívida – Orson Peter Carrara

 

As dores de toda espécie e as adversidades em geral normalmente provocam em nós uma certa indignação, em alguns casos até revoltas e incompreensões. Necessitados do exercício de resignar-se, não nos damos conta de seus benefícios. A indicação abaixo aborda a velha questão.

A revolta, a rebeldia, a inconformação só agravam as situações adversas. Cabe com perfeição aqui o capítulo V – Bem aventurados os Aflitos, de O Evangelho Segundo o Espiritismo. O destaque da conhecida bem aventurança no capítulo mais longo da obra oferece rico manancial para a grande virtude da resignação, especialmente com o belo texto constante de apenas dois itens: 12 e 13 e com o título Motivos de resignação. Destaque-se que o texto é do próprio Codificador.

No texto em questão (no item 12), encontramos: “(...) quem murmura nas aflições, e não as aceita com resignação (...), quem acusa Deus de injustiça, contrai nova dívida que faz perder o benefício que se poderia retirar do sofrimento (...)”.

Mais adiante, já no item 13, afirma o Codificador – referindo-se ao comportamento de compreender a brevidade da vida material, quando se considera o ponto de vista da vida espiritual, faz a criatura humana: “(...) moderar seus desejos, a contentar-se com sua posição sem invejar a dos outros, de atenuar a impressão moral dos reveses e das decepções que experimenta; (...) ao passo que pela inveja, ciúme e ambição, tortura-se voluntariamente, e aumenta assim, as misérias e as angústias de sua curta existência.”

Nem é preciso dizer da preciosidade do capítulo, recheado dessas pérolas.

A dor, que também pode ser física, apresenta-se, todavia, mais expressivamente nas graves questões morais, que nem é preciso relacionar.

Mas para efeito didático de bom aproveitamento do ensino constante do trecho, destaquemos:


a)      Quem reclama ou revolta-se e mesmo acusa a Deus, contrai nova dívida;

b)     Perde-se o benefício resultante da aflição enfrentada, quando sem coragem e resignação, optando pela revolta e rebeldia;

c)      Moderar os desejos, contentar-se com a própria posição sem inveja ou ciúme, atenuando as impressões que normalmente alimentamos com as decepções e dificuldades que vamos enfrentando.


Eis, pois, uma seleção para boa apreciação e profunda reflexão. Há que se pensar no agravamento com acréscimo de nova dívida; há que se considerar que enfrentar o sofrimento com coragem e resignação acresce aprimoramento moral e finalmente o desejo de moderação interior – em todas as direções – ajuda-nos expressivamente numa direção renovada.

O segredo, a grande pérola, todavia, está resumida no início do item 13,, uma única frase que depois segue em outras considerações: “O homem pode abrandar ou aumentar a amargura das suas provas pela maneira que encara a vida terrestre (...)”. Eis o detalhe!

Esse “encarar” nos leva aos apegos de toda espécie (inclusive os mentais e psicológicos) e seus conhecidos desdobramentos ou ao viver confiante, sabendo de antemão que não somos daqui, aqui estamos temporariamente e que, espíritos imortais, glorioso destino nos aguarda – de intensa felicidade e produtivo trabalho em favor do bem geral – e que nos cabe alcançar pelo esforço continuado de melhora moral, para merecer esses novos estágios.

A resignação não é mera virtude apenas a ser conquistada. É também passaporte moral que nos capacita para planos maiores. Ampliamos nossa visão através de sua vivência...

Cada pérola vamos encontrando... É o Evangelho e suas lindas lições.


Nenhum comentário:

Agradecemos sua visita e seu comentário!
PS: Se necessário, o autor responderá.