Há 153 anos, depois do lançamento

Obra ensejou diversas manifestações

São notáveis as manifestações iniciais sobre impressões decorrentes do lançamento de O Livro dos Espíritos. Allan Kardec publicou as principais delas em sua Revista Espírita1, de janeiro de 1858, mês em que a publicação foi lançada.
O jornal Courrier de Paris, de 11 de junho de 1857, em artigo assinado por G. Du Chalard, estampou comentários muito interessantes que transcrevemos parcialmente, mas recomendamos com ênfase a leitura na íntegra diretamente no original:
“(...) Quem escreveu aquela introdução que abre O Livro dos Espíritos deve ter a alma aberta a todos os sentimentos nobres. (...)
Muitas vezes nos interrogávamos e, durante muito tempo, antes de ter ouvido falar em médiuns, a respeito do que se passava nas regiões que se convencionou chamar o alto. Há tempo chegamos mesmo a esboçar uma teoria sobre os mundos invisíveis, guardando-a ciosamente para nós e nos sentimos muito felizes porque a encontramos, quase que por inteiro, no livro do Sr. Allan Kardec.

A todos os deserdados da Terra, a todos quantos marcham e que, nas suas quedas, regam com as lágrimas o pó da estrada, diremos: Lede O Livro dos Espíritos; ele vos tornará mais fortes. Também aos felizes, aos que pelo caminho só encontram as aclamações e os sorrisos da fortuna, diremos: Estudai-o e ele vos tornará melhores.
O corpo da obra, diz o Sr. Allan Kardec, deve ser atribuído inteiramente aos Espíritos que o ditaram. Está admiravelmente dividido no sistema de perguntas e respostas. Por vezes estas últimas são de uma bondade sublime, o que não nos surpreende. Mas não foi necessário um grande mérito a quem as pôde provocar? (...)
Lendo as admiráveis respostas dos espíritos na obra do Sr. Allan Kardec, constatamos que há ali matéria para um belo livro. Logo verificamos, entretanto, o nosso engano: o livro já está escrito. (...)
O sr. é homem de estudo e tem aquela boa-fé que apenas necessita instruir-se? Então leia o livro primeiro sobre a doutrina espírita.
Está na classe das criaturas que apenas se ocupam consigo mesmas e que, como se costuma dizer, fazem os seus negócios muito tranqüilamente e nada enxergam além dos próprios interesses? Leia as Leis Morais.
A desgraça o persegue encarniçadamente e a dúvida o tortura por vezes no seu abraço gelado? Estude o terceiro livro: Esperanças e Consolações.
Todos quantos aninham pensamentos nobres no coração e acreditam no bem, leiam o livro da primeira à última página.
Aos que encontrassem matéria para zombaria, o nosso sincero lamento”.

* * *

Em outras duas cartas recebidas, que Kardec também publicou na mesma edição da Revista Espírita, destacamos novamente em transcrição parcial:

a) “(...) Impossível descrever o efeito em mim produzido: sinto-me como um homem que saiu da escuridão; parece-me que uma porta, até hoje fechada, abriu-se subitamente; minhas idéias ampliaram-se em poucas horas! Oh! Quanto a humanidade e todas essas miseráveis preocupações me parecem mesquinhas e pueris ao lado desse futuro de que não duvidava, mas que me era de tal modo obscurecido pelos preconceitos, que eu apenas o imaginava! Graças ao ensino dos Espíritos, agora se me apresenta sob uma forma definida, perceptível, maior, mais bela, e em harmonia com a majestade do Criador. Quem quer que leia esse livro meditando, como eu, aí encontrará inesgotáveis tesouros de consolações, pois que ele abarca todas as fases da existência. Em minha vida sofri perdas que me afetaram vivamente; hoje não me causam nenhum desgosto e toda minha preocupação é empregar utilmente o tempo e minhas faculdades para acelerar meu progresso, pois agora para mim o bem tem uma finalidade e compreendo que uma vida inútil é uma vida egoística, que não nos ajudará a avançar na vida futura.(...)”
b) “(...) Faço meus amigos partilharem das convicções adquiridas na leitura de sua obra; todos se sentem felizes; compreendem agora as desigualdades das posições sociais e não murmuram contra a Providência; a esperança fundamentada num futuro mais feliz, desde que bem se conduzam, os conforta e lhes dá coragem (...)”

A primeira das cartas está assinada apenas como Capitão reformado D... e a segunda com a simples indicação C...
O Codificador cita que recebeu muitas outras correspondências e principalmente questionamentos. Mas a seleção que publicou diz bem dos benefícios que a obra trouxe, já em seu lançamento, para aqueles que a estudaram sem prevenção e com o sincero desejo do próprio aperfeiçoamento.
E até hoje a obra vem espalhando bênçãos de uma doutrina que não tem qualquer espécie de partidarismo ou vinculação a interesses que não sejam o progresso e a felicidade humana, desdobrando o pensamento de Jesus e esclarecendo sobre as Divinas Leis que nos dirigem.

(1) Tradução de Julio Abreu Filho, edição da Edicel.

Nenhum comentário:

Agradecemos sua visita e seu comentário!
PS: Se necessário, o autor responderá.