Perversidade
Duas
categorias de perversos: os francamente maus e os hipócritas
Orson Peter Carrara
É mais fácil recuperar um perverso do que um hipócrita.
Sim, os francamente maus praticam o mal mais por instinto do
que por cálculo e não procuram se passar por melhores do que são. Há neles um
gérmen latente que é preciso fazer desabrochar e que se consegue por meio da perseverança,
da firmeza aliada à benevolência, dos conselhos, do raciocínio e da prece. As
evidências e benefícios do bem normalmente os convence e os conquista para um
novo caminho.
Os hipócritas, por sua vez, normalmente muito inteligentes,
mas sem fibra sensível no coração; nada os toca, simulam os bons sentimentos
para captar a confiança, e felizes ficam quando encontram tolos que aceitam
suas ideias, pois podem manipulá-los à vontade.
Tais raciocínios e parciais transcrições, com adaptações
para elaboração do artigo, foram extraídas do item 75 – Prefácio,
constante do capítulo 28 de O Evangelho Segundo o Espiritismo, que traz
uma seleção de modelos de preces para diferentes situações e toda ela
antecipada por pequenos e preciosos prefacinhos, como é o caso.
Leva o subtítulo Pelos Espíritos endurecidos e contém
a valiosa orientação que nos inspira. Embora referindo-se a espíritos já
desencarnados, o raciocínio cabe também entre nós, os encarnados, pois como o próprio
Codificador afirma: “(...) No mundo invisível, como no mundo visível, os
hipócritas são os seres mais perigosos, porque atuam na sombra, sem que ninguém
disso desconfie; têm apenas as aparências da fé, mas fé sincera, jamais.”
Esse é o trecho final do pequeno Prefácio, antes do
modelo de prece, específico. E aí vê-se a abrangência da questão, perfeitamente
válido o raciocínio aplicado aos espíritos, para os encarnados.
Notemos que o início do texto avaliza com propriedade essa
questão. Transcrevemos o trecho inicial: “75. Prefácio. — Os maus Espíritos são
aqueles que ainda não foram tocados de arrependimento; que se deleitam no mal e
nenhum pesar por isso sentem; que são insensíveis às reprimendas, repelem a
prece e muitas vezes blasfemam do nome de Deus. São essas almas endurecidas
que, após a morte, se vingam nos homens dos sofrimentos que suportam, e
perseguem com o seu ódio aqueles a quem odiaram durante a vida, quer
obsidiando-os, quer exercendo sobre eles qualquer influência funesta. (...)” .
É a realidade de nossos dias, tanto nos atendimentos
mediúnicos onde isso se pode verificar, como nos relacionamentos entre os
encarnados, onde também comparecem os que se deleitam no mal, os que não foram
tocados de arrependimento e nenhum pesar sentem pelos prejuízos que causam. É
interessante porque lá, como aqui, também existe vingança, perseguição,
exercendo nefasta influência por onde passam.
E ainda mais interessante é que aqui, em nosso plano, também
podemos conquistar e reconduzir almas ao bem com as iniciativas educativas e
solidárias, sendo mais fácil sensibilizar os francamente maus, pela evidência e
exemplos de amor à eles dirigidos inclusive pela prece. Mas também lá, como
aqui, é mais difícil sensibilizar os hipócritas que mentem, disfarçam, manipulam,
misturam-se nas diferentes classes e segmentos para enganar, fraudar e
prejudicar, conduzidos pela insensibilidade.
Por isso o modelo de Prece, colocado a seguir, no
item 76, nos leva a profunda reflexão de amor em favor desses espíritos ainda
perversos, estejam na condição de francamente maus ou estagiando na hipocrisia,
incluindo os encarnados também.
Para concluir, expressivo demais destacar um pequeno do
referido modelo de Prece:
“(...) Dirás que te é impossível; porém, nada é impossível
àquele que quer, porquanto Deus te deu, como a todas as suas criaturas, a
liberdade de escolher entre o bem e o mal, isto é, entre a felicidade e a
desgraça, e ninguém se acha condenado a praticar o mal. Assim como tens vontade
de fazê-lo, também podes ter a de fazer o bem e de ser feliz. (...)”.
Uma boa reflexão para orientar nossas escolhas diante da
inevitável Lei do Progresso. E a hipocrisia não nos faz bem...
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