Escolhas (de políticos) nas eleições – Orson Peter Carrara


Como ignorar o processo de transição política, na renovação de cargos do governo? Conquistamos o direito das eleições diretas e agora temos a opção de escolha dos candidatos diretamente vinculada ao voto nas urnas.

Mas como agir diante dos quadros gritantes de corrupção e verdadeiro caos de distorções dos objetivos democráticos e da ciência política? Não é preciso reprisar a história, não é mesmo? Nem tampouco falar sobre a autêntica “piada” dos repetidos discursos, dos ataques mútuos, da luta desenfreada pela conquista do poder e dos interesses que movem a paixão política. Ou devermos falar das manipulações de bastidores de candidatos e partidos que perdem a noção da coerência e justiça para convencer o eleitor? Não, não é preciso. É evidente demais e nossa história nacional recente deixou marcas e lesões irreversíveis.
Mas, então, o que fazer? As eleições aí estão. Deveremos, obrigatoriamente, comparecer às urnas. Em quem, afinal, votaremos?
Bom, o voto é direito e dever caracterizado pelo sigilo, embora escancarado nas opções declaradas em adesivos e bandeiras estampadas em carros e residências e na declaração verbal aberta e muitas vezes agressiva que desonram o direito da opção.
Tudo isso, porém, são ocorrências já conhecidas do cotidiano brasileiro. O ponto central que deve ficar marcante para todos nós, eleitores, é a responsabilidade que assumimos com o voto. Sim, claro, colocamos no poder pessoas inescuprulosas, despreparadas, que buscam interesses pessoais a todo custo ou interesses específicos de determinados grupos, em detrimento do interesse coletivo nacional que deve ser o foco principal.
Uma vez conquistado o direito das DIRETAS, assumimos responsabilidade coletiva, com desdobramentos futuros. Nada mais lógico. Tornamo-nos co-responsáveis pelos destinos do país, na legislação, nas ações do governo, pois nosso voto coloca esse ou aquele no poder, que pode gerar verdadeiros desastres econômicos, culturais, sociais e outros que a história já conheceu sobejamente.
Alguém poderia perguntar: mas a responsabilidade do político em si. É ainda mais grave. Agirá e sua ação vai gerar responsabilidades que exigirão reparações caso lesem o patrimônio público, a nacionalidade, os valores culturais e morais da sociedade.
Mas os eleitores também assumimos responsabilidade. E grave responsabilidade!
É preciso agora pensar e refletir, estudar e ponderar os caminhos dos partidos, suas propostas a favor ou contra a vida, dos destinos políticos que desejam impor ao país, dos favorecimentos ilícitos de seus candidatos em sua história política.
O momento, todavia, traz à reflexão o estudo da liberdade. Sim, a liberdade de escolha. Permito-me adaptar, com transcrições parciais, algumas reflexões:

a) Nâo há uma liberdade absoluta porque todos necessitamos uns dos outros;
b) Desde que haja dois seres humanos juntos, eles têm direitos a respeitar e não têm mais, por conseguinte, liberdade absoluta.;
c) Quanto mais inteligência tenha um homem para compreender um princípio, menos é escusável de não aplicá-lo a si mesmo;
d) O homem simples, mas sincero, está mais avançado do que aquele que quer parecer o que não é;
e) O mal é sempre o mal, e todos os sofismas não farão que uma ação má se torne boa;
f) Constranger os homens a agirem de modo contrário ao que pensam, é torná-los hipócritas. A liberdade de consciência é um dos caracteres da verdadeira civilização e do progresso;
g) Quais os sinais para se reconhecer doutrinas com expressão da verdade? Será aquela que faz mais homens de bem e menos hipócritas, porque toda doutrina que tiver por conseqüência semear a desunião e estabelecer divisões de interesses não pode ser senão falsa e perniciosa.

Tais itens, acima enumerados, adaptados em transcrição parcial do capítulo X – Livro Terceiro – Lei de Liberdade, de O Livro dos Espíritos, questões 825 a 872, podem ser estudadas para embasamento do momento político que vivemos no Brasil, para formação dessa consciência do exercício de voto.
E por falar em escolhas, não posso deixar de sugerir ao leitor – até para embasar o estudo da velha questão humana – o romance A Escolha (bem sugestivo o título para esse instante das opções políticas, embora o livro não envolva política nem votos), psicografado por Ariovaldo Cesar Junior e ditado pelo Espírito Florisbela de Assis, numa trama que apresenta os desdobramentos de uma escolha equivocada... Trata exatamente de uma estudante que, para aumentar seus rendimentos, opta pela prostituição. Uma escolha, sem dúvida, determinada pela liberdade individual, tema que nos motivou a presente abordagem, com os desdobramentos que a bela história em si traz ao leitor, com muitos ensinamentos.
Estaremos também nesse momento político do Brasil fazendo escolhas equivocadas? Estaremos prostituindo também o voto como a personagem do livro? OU estamos realmente nos esforçando para exercer o direito e o dever de voto com lealdade à consciência?
São respostas que só podem ser obtidas individualmente.