Poema que inspirou Mandela
por Orson Peter Carrara
O poema Invictus, do poeta Inglês William Ernest Henley (1849-1903), foi escrito em 1875, publicado pela primeira vez em 1888 e citado por Nelson Mandela – que comemorou 20 anos de liberdade em 2010 – como fonte de inspiração durante seu tempo na prisão.
Nelson Mandela, que nasceu em 1918, é advogado, ex-líder rebelde e ex-presidente da África do Sul de 1994 a 1999. Principal representante do movimento antiapartheid, é considerado pela maioria das pessoas um guerreiro em luta pela liberdade, embora tenha sido chamado de terrorista pelo governo sul-africano, o que lhe valeu quase 30 anos de prisão. Passou a infância na região de Thembu, antes de seguir carreira em Direito. Em 1990 foi-lhe atribuído o Prêmio Lênin da Paz, que foi recebido em 2002. Na África do Sul também é conhecido como 'Madiba', um título honorário adotado por membros do clã de Mandela. O apartheid foi um regime de segregação racial adotado de 1948 a 1994 pelos sucessivos governos do Partido Nacional na África do Sul, no qual os direitos da grande maioria dos habitantes foram cerceados pelo governo formado pela minoria branca.
O filme Invictus, lançado no final de 2009, em comemoração aos 20 anos de liberdade de Mandela, retrata essa ocorrência histórica. Eis a sinopse da produção americana: Recentemente eleito presidente, Nelson Mandela (Morgan Freeman) tinha consciência que a África do Sul continuava sendo um país racista e economicamente dividido, em decorrência do apartheid. A proximidade da Copa do Mundo de Rúgbi, pela primeira vez realizada no país, fez com que Mandela resolvesse usar o esporte para unir a população. Para tanto chama para uma reunião Francois Pienaar (Matt Damon), capitão da equipe sul-africana, e o incentiva para que a selação nacional seja campeã. A direção é de Clint Eastwood.
O poema, por sua vez, que inspirou Mandela, traduz verdades importantes que merecem ser conhecidas. Transcrevo ao leitor:
De dentro da noite que me cobre,
Negra como a cova, de ponta a ponta,
Eu agradeço a quaisquer deuses que sejam,
Pela minha alma inconquistável.
Na cruel garra da situação,
Não estremeci, nem gritei em voz alta.
Sob a pancada do acaso,
Minha cabeça está ensanguentada, mas não curvada.
Além deste lugar de ira e lágrimas
Avulta-se apenas o Horror das sombras.
E apesar da ameaça dos anos,
Encontra-me, e me encontrará destemido.
Não importa quão estreito o portal,
Quão carregada de punições a lista,
Sou o mestre do meu destino:
Sou o capitão da minha alma.
O teor de estímulo e coragem trazido pelo poema inspirou Mandela em sua luta. Por outro lado, se prestarmos bastante atenção no final do poema: Sou o mestre de meu destino, Sou o capitão de minha alma, encontraremos sólida verdade que não podemos esquecer: nossas ações, escolhas e decisões determinam nossos caminhos. Embora óbvias, tais verdades são normalmente desprezadas e despencamos nos precipícios das angústias, decepções, frustrações, abatimentos, medos e tristezas sem fim que afetam a saúde e nos fazem sofrer. Não é melhor recordar a afirmação que deve nortear nossos caminhos: Sois Deuses!? Como nos entregarmos a tantos abatimentos com tanta potencialidade interior que todos trazemos? Sigamos adiante, destemidos e agindo...
Veja o filme, leitor. É autêntica lição de vida para refletir com seriedade.