Bases no Evangelho e critério de justiça

por Orson Peter Carrara

  Um dos princípios que estruturam o corpo doutrinário do Espiritismo é a pluralidade das existências, ou reencarnação. 
Renegada, incompreendida por muitos, seu quesito principal é a justiça. Afinal é a única realidade capaz de explicar os extremos humanos em todos os sentidos. Podemos perguntar: por que uns nascem pobres e outros ricos? Por que tudo para uns e nada para outros? Por que uns são inteligentes, capazes, saudáveis, outros incapazes, enfermos, limitados em vários sentidos? Por que uns passam a vida com facilidade e outros com dificuldades atrozes, materiais, morais, espirituais, de saúde e de oportunidades? Como explicar os gênios de todas as áreas? Como entender uma existência inteira travada numa cama ao lado de outros que desfrutam de saúde inabalável? E as crianças sem cérebro ou com doenças terminais? Como explicar um Hitler, um Einstein, uma Madre Teresa, ou Irmã Dulce, ou Chico Xavier, ou ainda Zé Arigó, Bill Gates e João Paulo II, Zilda Arns e Fernandinho Beira-mar ou outros comportamentos e vida completamente extremas. Poderíamos ficar relacionando aqui, mas nem é preciso, o leitor já percebeu as diferenças humanas.
   Por outro lado, estamos assistindo a tragédia brasileira no estado do Rio de Janeiro, dentre tantas outras ocorridas no planeta, com morte, sofrimento, destruição, como nos terremotos, tsunami, epidemias, guerras, etc.  Nem é preciso continuar...
   Como podemos conciliar tudo isso com a Bondade e Grandeza de Deus, perfeição absoluta, Criador de todas as coisas, Pai da Vida, causa de tudo que existe? Como entender que ele permita tanto sofrimento aos próprios filhos? E como conciliar ao mesmo tempo sortes tão diferentes para que uns tenham saúde, dinheiro e facilidade, enquanto para outros tudo falta...? Deus teria preferência por alguns filhos? Inconcebível pensar isso.         

Claro, tudo acontece porque somos a causa. Somos relapsos, irresponsáveis, descuidados, indiferentes, egoístas, vaidosos, prepotentes, e por aí vai. É preciso continuar? A vida apenas nos devolve o que fazemos. Desrespeitamo-nos mutuamente, desrespeitamos a natureza, violentamos a vida, esperamos o que? E o mais interessante, tudo isso não é castigo, é apenas conseqüência de nossas infantilidades e  precipitações coletivas, afinal a sociedade é a soma dos indivíduos. Todavia, a causa nem sempre está nessa existência... A reencarnação é um processo evolutivo, oferecendo-nos continuadas oportunidades de aprendizado e progresso. O que não fizemos agora, faremos mais tarde. O que negligenciamos fazer hoje, teremos que fazer amanhã. As lesões que causamos ao próximo e a nós mesmos ontem, estamos reparando hoje, por exigência consciencial.  Por conseqüência, o bem que fazemos hoje nos trará felicidade amanhã. Ela é um mecanismo justo porque traz a cada um o resultado de suas ações, nos aprendizados, provas e reparações para com a própria consciência e à própria vida. Somos o que fizermos de nós. Daí as diferenças em todos os sentidos. Os que se esforçam, alcançam mais, os que negligenciam, colhe tais frutos. O sofrimento, em qualquer área, contudo, não significa reparação, mas pode ser necessidade de aprendizados. Embora ninguém esteja abandonado ou esquecido, mas todos teremos que nos esforçar para progredir. Isso é Lei! E para os que rebatem ou não conseguem compreender o sábio mecanismo dessa lei natural da vida, basta buscar o Evangelho, base do Espiritismo, e estudar. Para qualquer assunto que queiramos abordar, antes é preciso conhecer. Não podemos emitir opiniões precipitadas ou apaixonadas do que não conhecemos.  Isso vale para qualquer assunto, pelo menos em respeito à liberdade de expressão e opção de qualquer pessoa ou grupo social. Afinal, não sabemos exatamente o nível de entendimento de cada pessoa. Como julgar algo que não conhecemos devidamente? É preciso antes de falar, conhecer...  É o caso do Espiritismo e da reencarnação.