Depoimento de mãe na desencarnação da filha
Entrevista com LUCY DIAS RAMOS
Orson Peter Carrara
Livro destaca detalhes e traz mensagens
psicografadas
Graduada em Ciências Sociais e Administração Hospitalar, natural de Rio
Novo-MG e radicada em Juiz de Fora-MG há várias décadas, Lucy é de família
espírita e vincula-se à Casa Espírita daquela cidade mineira. Integrante da
AME-JF no Conselho Fiscal e coordenadora de vários grupos de estudos, Lucy
viveu experiência peculiar com a desencarnação da filha Sandra, que depois
enviou mensagens psicografadas por Suely Caldas Schubert, e que são relatadas
em seu mais recente livro. Conheça um pouco mais da conhecida e lúcida autora.
1 - Seu mais recente livro aborda uma vivência pessoal. Qual foi essa
vivência e qual o título da obra e editora?
Meu mais novo livro "Maior que a Vida" (FEB), é uma narrativa
de minha vivência ao lado de minha filha mais velha, que era médica e
lutou durante cinco anos contra o câncer. Sendo também espírita, vivemos nós
duas uma experiência dolorosa, mas com resignação e serenidade íntima, usando
de todos os recursos que a Doutrina Espírita nos concede. Líamos juntas,
orávamos e enfrentávamos este transe doloroso com coragem e confiança em Deus.
Todos os dias eu retornava ao meu lar e escrevia o que havíamos
vivido durante aquele dia, como um diário, anotações que se transformaram no
livro.
2 - Nos capítulos da obra essa experiência conjugada de conhecimento do
Espiritismo e a situação vivida estão desdobrados de que forma?
Procurei destacar o valor do conhecimento espírita e da vivência
evangélica que sempre procuramos ter em nossa vida de relação, alimentando a
esperança nos corações dos que venham a passar situações semelhantes. A
primeira parte do livro contém a narrativa dos fatos que vivemos e a segunda
parte mensagens escritas sobre a morte, algumas delas eram palestras que fiz
após a morte de minha filha quando integrava o Grupo dos Entes Queridos, na
Casa Espírita que presta apoio e assistência espiritual aos que sofrem a dor da
separação física dos familiares que partiram para o mundo espiritual.
3 - Qual a razão principal de ter transformado uma experiência pessoal
em livro?
Durante as anotações antes do falecimento de Sandra, não pensava num futuro
livro, escrevia como uma catarse que fazia bem para mim mesma. Uma amiga
psicóloga com a qual fiz terapia naquela fase, sabendo que escrevo me
aconselhou a transformar minhas anotações em um livro que viria a beneficiar
muitas pessoas. Concluí o livro logo após um ano de sua desencarnação. Foi
difícil. Alguns capítulos escrevi chorando e o que narra seus últimos dias eu
não consegui reler, ainda. Ressalto que o objetivo principal é reafirmar
que com a fé e o amor no mundo íntimo encontramos força para prosseguir vivendo
e trabalhando no bem, superando o sofrimento.
Minha família é de formação espírita, mas alguns familiares (como genros
e noras), alguns outros que não são espíritas, receberam muito bem o livro,
principalmente, os que compõem a família de minha filha, como seu marido e
filhos. Mesmo aqueles amigos que são de outras religiões estão lendo o livro e
fazendo comentários favoráveis.
5 - Quais outros são os livros de sua autoria? Relacione título e
editora, por favor.
Recados de Amor (2008), Luzes do Entardecer
(2009), ambos editados pela FEB. Já em fase final na gráfica, também a ser
editado pela FEB, com lançamento previsto para 2011, o livro Gotas de Otimismo
e Paz, com prefácio de nosso estimado confrade Rogério Coelho. Será um livro
diferente, com mensagens enfocando nossa vivência e nossas lutas diárias,
procurando mostrar como a Doutrina Espírita nos motiva a ser feliz e viver
tranquilos, mesmo em processos de reajuste e dor.
6 - De que forma a Sra. sentiu em si mesma a importância do conhecimento
espírita diante do fato doloroso?
Foi de grande importância, principalmente por sentir o
conforto e o apoio espiritual durante os momentos mais difíceis. A presença
constante dos amigos espirituais e benfeitores que nos amparavam amenizaram o
sofrimento e o conhecimento espírita nos deu a certeza do reencontro além de nos
demonstrar a transitoriedade da vida física. Fomos nos preparando e nos
alimentando com este conhecimento e nas horas de desdobramento espiritual pelo
sono físico, aconteciam encontros com familiares e amigos desencarnados,
sentíamos o quanto estávamos sendo ajudados a superar este transe difícil.
7 - Com a experiência vivida, o que a Sra. teria a dizer a pessoas
que vivem situações semelhantes?
Que não se desesperem. Confiem em Deus porque tudo passará um dia, a dor
será menos intensa e precisamos prosseguir vivendo com serenidade íntima.
Quanto mais calmos e confiantes, mesmo sofrendo, nossos entes que já partiram
receberão os reflexos de nossos pensamentos, de nossas atitudes e não merecem
receber emanações de nossa intemperança e de nossa dor com desequilíbrio.
Precisam se refazer e seguir sua destinação espiritual, como nós também um dia
iremos. Eles também sentem nossa falta, sentem saudades, mas não podemos
impedir sua caminhada nesta outra dimensão de vida e tentar retê-los a nosso
lado. Se você os ama, ore e confie em Jesus. O intercâmbio espiritual dará a
você o alívio e a serenidade necessários. Mas é preciso que você esteja bem
harmonizado intimamente para poder estar em contato com seu ente querido sem
perturbá-lo com suas lágrimas e inquietações... Ao se preparar para dormir, ore
a Jesus, peça por você e por ele... Certamente você o encontrará durante o sono
físico.
8 - Essa temática de separação temporária de entes queridos é sempre
oportuna para abordagem? E qual a melhor forma de abordagem para o público
e nos diálogos individuais?
Considero oportuna porque todos já passamos ou
estaremos em situações idênticas. É importante ressaltar o valor da crença na
imortalidade da alma e a possiblidade do reencontro que poderá ser de várias
maneiras até que possamos ir, também, para o mundo espiritual. Devemos
destacar, também, a transitoriedade da vida física, procurar despertar em cada
pessoa que nos ouça ou nos procure para um diálogo esclarecedor, a necessidade
do despojamento, de nos ir libertando da vida material em todos os sentidos
(pessoas, coisas, bens materiais, títulos etc.). Incentivar o trabalho no bem.
Quando minha filha desencarnou, procurei intensificar ainda mais meu trabalho
na Casa Espírita, indo todos os dias, fazer outras tarefas como
atendimento fraterno, palestras no Grupo dos Entes Queridos, escrevia mais
intensamente etc. Isto ajudou bastante até que voltasse a realizar apenas as
tarefas que já fazia e que considero uma benção poder estar ainda realizando.
9 - Cite o que mais lhe chamou atenção na psicografia da mensagem de sua
filha por Suely Caldas Schubert?
A semelhança dos conceitos, do que falávamos e
tudo o que passei para ela desde sua infância em nosso Culto do Evangelho no
Lar. Há um trecho que desejo repetir: "Não há morte, só Vida! É uma
adaptação lenta, aqui não se corre como acontece aí, não temos necessidade de
contar os minutos, porque o expediente do dia terminou e devemos voltar à casa,
ao lar - aqui é o Lar. Estamos nele o tempo todo. Gradualmente
nossa consciência se expande e nova percepção da vida nos impregna. (...) Uma
coisa é certa: predomina o amor!" Em muitas cartas que ela me escrevia,
quando morava em outra cidade, ou mesmo no Natal ou Dia das Mães, o estilo é o
mesmo e sempre falava do amor que nutríamos mutuamente, que iria transcender a
vida física...
10 - A mensagem de Sandra está publicada no livro? E como foi a reação
de amigos e familiares com o conteúdo da mensagem?
A mensagem a que você se refere está no livro, mas
existe outra que recebi uns 6 meses após a desencarnação, também psicografada
pela Suely C. Schubert, que é menos extensa e fala de maneira bem equilibrada
sobre a chegada no mundo espiritual. Está também inserida no livro. A reação
dos amigos e familiares foi positiva, coerente com o grau de conhecimento da
possibilidade deste intercâmbio espiritual. Mas não ouvi nada que pudesse
mostrar descrença ou dúvida com relação ao que foi escrito. Muito confortadora
para todos nós que a conhecemos e pudemos conviver com ela.
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