por ORSON PETER CARRARA
Karina Granado:
“Falta de respeito e
pré-julgamento
são os grandes vilões da aceitação social”
são os grandes vilões da aceitação social”
A confreira paulista
conta como surgiu e funciona o Posto de Rua Eurípedes Barsanulfo, que atende
a população de rua na cidade de São Carlos
Karina Granado (foto), espírita
desde a infância, voluntária da importante tarefa de atender desabrigados que
dormem nas ruas, é a nossa entrevistada da semana. Natural de Jundiaí-SP, ela
reside em São Carlos-SP, onde atua como advogada e professora universitária.
Primeira secretária da Sociedade Espírita Obreiros do Bem, que mantém a
mencionada atividade aos domingos, ela nos relata essa experiência, que foi
inspirada em ação desenvolvida no Vale do Anhangabaú, na Capital de São
Paulo.
Descreva o trabalho desenvolvido pelo
grupo nas manhãs de domingo.
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O Posto de Rua Eurípedes Barsanulfo
é uma atividade voluntária, sem fins lucrativos que existe em São Carlos-SP
desde maio de 2002. O trabalho acontece todos os domingos na praça Paulino
Botelho (centro da cidade), a partir das 8 horas e atende entre 50 e 70 pessoas
em situação de rua. Entre os voluntários, discutimos por meia hora assuntos
relacionados a essa população, trocamos experiências e organizamos as tarefas.
Na praça, primeiramente oferecemos um café. Depois, todos se reúnem para uma
pequena palestra instrutiva sobre temas relacionados à rotina dessa população:
trabalho, família, vícios, higiene, etc. Em seguida, inicia-se o ‘posto de
higiene’, onde é possível fazer pequenos curativos, cortar o cabelo, a barba e
as unhas, além da doação de roupas, calçados e itens de higiene.
Concomitantemente, é servido uma nutritiva sopa e salada de frutas e quando
possível – pois dependemos de doações – fazemos um cardápio diferente como
macarronada, galinhada etc. O objetivo deste trabalho não é apenas a doação dos
materiais acima citados: estes são apenas um meio para que a verdadeira intenção
possa ser realizada: a ‘conversa fraterna’, oportunidade de ouvir as demandas de
cada indivíduo, formando vínculos de amizade, resgatando a autoestima e
mostrando a cada um que a situação de rua é
provisória
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Quando surgiu esse trabalho e qual foi a motivação inicial?
A motivação inicial foi a de perceber
que esta população em situação de rua aumentava a olhos vistos diante do cenário
brasileiro e não havia um trabalho que a atendesse de maneira direta. O Posto de
Rua foi inspirado em um trabalho que era realizado no Vale do Anhangabaú em São
Paulo, o qual, após adaptações, foi implementado em São Carlos.
Quantas pessoas participam e de
quantas instituições?
Somos em torno de 15 voluntários fixos
e muitos outros que contribuem como podem. O interessante do Posto de Rua é que
os voluntários participam de muitas casas espíritas e chegam até aqui com o
desejo sincero de ajudar aqueles que não possuem moradia, trabalho, família,
saúde, dignidade, respeito. A presença de cada um é especial e muito importante,
mas com o tempo percebemos que somos os maiores ajudados, diante de tantos
exemplos de vida.
Qual a experiência mais marcante que
ficou do trabalho ao longo dos anos?
Ao trabalhar no Posto de Rua, damos a
cada dia mais valor a tudo o que temos: o simples abrir de uma torneira, um
cobertor no inverno e o alimento no momento da fome são coisas tão simples mas
que, com a correria do dia a dia, acabamos não lhes reconhecendo o valor.
Reconhecemos ainda a importância da tolerância, da paciência, da amizade e da
caridade.
Quais os casos mais
marcantes?
Temos histórias de homens empregados
em metalúrgicas que perderam suas famílias em acidentes automobilísticos e,
diante disso, largaram tudo e foram andar pelas ruas. A falta de amigos,
familiares ou crença em algo maior às vezes torna insuportável o enfrentamento
diante de uma dificuldade.
Quais as maiores
dificuldades?
Na verdade, a maior dificuldade é o
preconceito que muitos possuem com relação à população em situação de rua. Neste
trabalho vemos homens e mulheres iguais a nós, com medos, dificuldades, vícios
e, infelizmente, são só os defeitos que saltam aos olhos. Todas as virtudes,
sonhos, sorrisos e qualidades não são percebidos. No Posto de Rua temos esta
oportunidade: reconhecer o outro como ser humano e respeitá-lo por ser um irmão,
um igual que, momentaneamente, passa por difícil situação. Nossa função é ajudar
naquilo que for possível.
Quais os recursos de que precisam para
execução do trabalho?
O trabalho depende exclusivamente de
doações. Sempre pedimos roupas, calçados e utensílios de uso masculino e
cobertores, porque são os materiais de que mais necessitamos.
De onde vêm os
recursos?
De pessoas sensibilizadas e dispostas
a ajudar aqueles que nada possuem.
Como a cidade reage ou recebe essa
atividade que, ao longo dos anos, já deve ser bem conhecida?
Antigamente era mais difícil, mas
muitos ainda não se conformam em "perdermos nosso tempo" com essa população.
Acham que não vale a pena, pois julgam que são preguiçosos e estão nessa
situação porque querem. Não é isso, porém, o que acontece. Desemprego, falta de
oportunidade, humilhação social fazem com que "dar a volta por cima" seja muito
difícil. A falta de respeito e o pré-julgamento do outro ainda são os grandes
vilões da aceitação social. Já houve caso de uma pessoa muito abastada
economicamente, mesmo vendo os trabalhadores em dia de chuva correndo para
atender a todos os assistidos, parar e perguntar se não tínhamos medo de pegar
piolho!...
Algo mais que gostaria de
acrescentar?
Pedimos a ajuda de todos aqueles que
puderem contribuir conosco. Qualquer dúvida, pode entrar em contato pelo
e-mail: Karina_granado@yahoo.com.br ou divulgacao@obreirosdobem.com.br .
Em breve estaremos com um site com maiores informações.
Em breve estaremos com um site com maiores informações.
Nota do
autor: O Posto de Rua Eurípedes Barsanulfo e outras
atividades mantidas pela instituição podem ser conhecidos no site www.obreirosdobem.com.br
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