Abra a Geladeira


      Tem gente que pensa que a vida tudo faz contra nós. É o contrário: a vida tudo faz a nosso favor; tudo conspira a nosso favor e a felicidade só não se concretiza porque não entendemos as mensagens que a vida envia diariamente.
      Aquele homem estava diante de uma pia lotada de pratos, talheres e panelas para lavar. Confabulava consigo próprio, contrariado, e perguntando mentalmente porque enviuvara. Por que a esposa o deixara tão cedo? Agora ele estava ali, arrumando cozinha, com cinco filhos pequenos para cuidar, sentindo-se pressionado com a quantidade de afazeres domésticos e o barulho ensurdecedor das crianças.
      E, ao mesmo tempo, perguntava-se como era possível a uma mulher dar conta de tanto serviço: era o almoço, as roupas para lavar e passar, a casa por limpar, a educação dos filhos, os afazeres da escola de cada um, sem contar a atenção ao marido, aos filhos, etc. E como se sentiriam em relação a si mesmas?
      Porém, estava contrariado. O filho menor o indagava o tempo todo onde estava o outro irmão. Eles brincavam de esconde-esconde e a todo momento o filho lhe perguntava onde o irmão teria se escondido. Mas, a irritação do pai tornava a pergunta repetida, insuportável.
      Nesta pressão toda, toca a campanhia. Ele vai atender e depara-se com um mendigo, que lhe pede um prato de comida. Ele diz não ter comida. O mendigo insiste que deve haver algo na geladeira. Sua irritação vai ao extremo diante daquilo que ele julga uma petulância: um mendigo insistir por um prato de comida da geladeira. Com isso descarrega-lhe todo seu nervosismo, indagando quem ele pensa que é para lhe ordenar tal coisa.
      O mendigo, então, explica que sua esposa (e pergunta por ela, sendo esclarecido sobre a morte da esposa) sempre lhe atendera com carinho e que sempre buscava na geladeira algo para lhe oferecer. Ele não tinha residência e todo mês passava por ali, detalhando o atendimento da esposa para com ele. E insiste pedindo que abra a geladeira. Ele, muito nervoso e afirmando não haver nada na geladeira, resolve por ir abrir a geladeira para mostrar ao intruso que nada havia a lhe servir.
     No momento em que abre a geladeira, dá um grito. O filho pequeno estava lá, escondido na geladeira. Abriu, entrou e fechou por dentro. Porém, não conseguia abrir...
      Foi aquela correria até o hospital, acompanhado pelo mendigo. O médico atendente afirma, então, que o garoto foi salvo por segundos...
      Somente aí ele pode compreender a vinda do mendigo até sua casa exatamente naquela hora. E como o gesto de sua esposa repercutiu em favor do filho.
      A vida estava a seu favor. A morte da esposa ou do marido é um fato a que todos estamos sujeitos. Porém, é preciso considerar as aparentes contrariedades nada mais são que providências a nosso favor.
      Quantas pessoas não se livram de acidentes ou dissabores diante de um fato inesperado que lhes impede de prosseguir viagem ou tomar determinadas iniciativas. Isto é simplesmente a vida agindo pela nossa segurança e proteção.
      Portanto, cabe prestar atenção nos detalhes. Prestar atenção nos acontecimentos à nossa volta, para entender que muitos deles estão sinalizando simplesmente a proteção que precisamos, embora se apresentem com aparência de tribulação, dificuldade ou algo que encaremos contra nós.
      Este relato foi contado por Divaldo Franco em palestra proferida em Santo André-SP, em setembro de 2002, e julgamos oportuno trazê-lo aos nossos leitores
Artigo publicado em O Espírita Fluminense, edição de Maio/Junho de 2005 e reproduzido com a permissão do autor

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