MÁSCARA E NÃO UMA META


por Orson Peter Carrara.


Apropriemo-nos definitivamente de nossa condição humana. Isso significa dizer que cometemos equívocos, temos fragilidade e, em última análise, estamos todos – todos mesmo – num processo contínuo de aprendizado. Ora, se estamos aprendendo estamos sujeitos a erros, tropeções, quedas, novos equívocos e igualmente com oportunidades de reparação dos citados  equívocos, que, na verdade, nada mais são que novos aprendizados.

             Quando cometemos um erro (preferível que substituamos a palavra “erro” por equívoco),  estamos diante de três novos caminhos, que se apresentam numa seqüência inevitável: arrependimento, expiação (conseqüência do equívoco) e reparação.

            Adentramos este assunto porque a consciência de culpa tem sido implacável juiz, a corroer esperanças de muita gente. E temos que pensar bem nesta questão, pois errar (ou equivocar-se) é algo absolutamente normal e natural, justamente pela condição humana em que nos situamos. Errar é normal, permanecer ou teimar no erro, aí sim é outra questão.

             Uma vez consciente de um equívoco, procuremos reparar, mas deixemos de sofrer tanto por algum desacerto do caminho. De páginas de um livro que cito a seguir, extraio o seguinte texto: “ (...)  O perfeccionismo é apenas uma maneira socialmente mais aceitável de lidar com a baixa valorização. Parecer perfeito nunca foi sinal de saúde mental. Bem ao contrário. Ter a coragem de ser imperfeito indica muito mais uma auto-estima  saudável do que fingir ser impecável. (...) Ter maturidade significa reconhecer que vamos continuar errando, mas seremos capazes de rever nossas ações e corrigi-las. Fingir ser impecável é na verdade um sinal de imaturidade.(...)” (do livro Jesus, o maior psicólogo que já existiu, de Mark W. Baker, Edit. Sextante).

            Ora, é exatamente este aspecto da tentativa de “fingir” maturidade ou de parecer impecável que torna as criaturas infelizes. O uso de máscaras, tentando parecermos o que não somos ou não conseguimos ser, é na verdade, causa de muitas aflições.

            Tenhamos a coragem de sermos nós mesmos. Não devemos explicações ou justificativas a ninguém, exceto a Deus e à própria consciência.

             Conscientes que estamos sujeitos a erros, ou equívocos – repetimos –, entenderemos, com mais facilidade, que as demais pessoas encontram-se na mesma situação, igualmente em aprendizado. Agindo assim, deixaremos os julgamentos precipitados e levianos. Também deixaremos de nos cobrar (ou de cobrar os outros) por comportamentos que ainda não assimilamos.

             Por outro lado, ao reconhecer os comportamentos indesejáveis e as tendências inferiores que ainda carregamos, aceitemo-nos como somos, mas lutemos – com todas as forças – para nos despojarmos desses infelizes comportamentos ou tendências, ao invés de nos acomodarmos a eles. É uma luta permanente, quase sem fim, mas viável e possível.

             Não somos impecáveis, nem tão maduros como nos julgamos. Igualmente não somos perfeitos. Porém, algo somos muito capazes: reparar os próprios caminhos.

            Em virtude dessa capacidade de reação e renovação do próprio comportamento, afastemos de vez de nossos dias, a baixa auto-estima, a tristeza, a depressão, o isolamento. Ergamos a cabeça na luta por fazer-nos melhores a cada dia. Mais entusiastas, mais animados, mais cheios de boa vontade, mais dispostos ao bem. E, paremos de julgar comportamentos alheios, pois, não conhecemos a história completa de cada vida, motivações, medos, complexos, limitações e aspirações que movem cada pessoa.

             Cuidemos de tirar as próprias máscaras, isso sim, e fixemos metas de progresso para nossos próprios passos, usando a determinação e a coragem de sermos nós mesmos!

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