Paixão e apego cegam...
por Orson Peter Carrara
Convenhamos, com lucidez, que ninguém é
dono de nada, nem de ninguém. A posse de bens materiais é temporária,
fugaz. Da mesma forma a convivência com alguém querido também é muito
passageira. Num instante, estamos separados por motivos de origem
variada.
Aliás, cada um de nós terá que construir,
individualmente – embora no aprendizado da convivência comum e coletiva
–, a própria segurança interior. A vida é sábia e coloca-nos neste
patamar de aprendizado e aprimoramento. Mas não somos donos de nada.
Tudo que julgamos possuir, na verdade, nos é cedido por um determinado
tempo.
Esta visão abrangente deveria livrar-nos dos
prejuízos decorrentes da paixão e do apego. Ambos costumam nos causar
cegueira diante das situações. Mas face à fragilidade que todos
carregamos, somada na maioria das vezes pela imaturidade emocional ou
psicológica, e pela alta dose de egoísmo que ainda caracteriza o
comportamento humano, vamos dando nossas “trombadas” que causam
sofrimentos, inclusive em terceiros (e, pior: na maioria das vezes, em
pessoas queridas).
Referido sentimento, o egoísmo,
ilude-nos a consciência. Passamos a nos sentir donos de bens materiais e
de pessoas, como se pudéssemos dominar alguém. É óbvio que em muitas
situações e circunstâncias, até exercemos algum domínio sobre pessoas.
Mas isso será sempre ilusório e prejudicial, pois que a liberdade é
atributo inviolável de qualquer pessoa e cedo ou tarde, toda imposição
redundará em graves e severos prejuízos.
Basta
consultar a história. De pessoas, grupos, famílias e até nações
inteiras. Quantos sofrimentos causados pelo desejo e tentativas de
posse, domínio, imposição? E mais interessante: quando nos comportamos
assim, não percebemos... Estamos cegos, iludidos pelo orgulho, com visão
embaçada pelo egoísmo. Que pena! Lamentável que nos permitamos tais
comportamentos.
A paixão é um amor enfermo, com foco desviado. O apego é ilusão. Onde vão parar? Só podem causar sofrimentos.
É, mas algo a ponderar: somos seres humanos! Estes, pela
própria condição humana – admitamos – falhamos! Claro, óbvio, somos
criaturas em aprendizado. Estamos ainda em caminho.
Porém, para amenizar tudo isso, prefiramos distribuir amizade, esperança, alegria.
Será melhor, muito melhor, para nossa felicidade e para felicidade geral.
Prefiramos respeitar, entendendo que cada pessoa tem o
direito de escolher o próprio caminho, ainda que este caminho seja
equivocado. É a única maneira, todavia, de aprender. É errando, pois,
que se aprende.
Ora, o ser humano é razão maior da vida! Quem somos para impor, dominar? Que autoridade temos para isso?
O amor liberta! O amor compreende! O amor... Ah! o amor! O
amor... sacrifica-se, mas jamais sacrifica. O amor nunca impõe. O amor
aceita, não cria apegos, nem domina...
O amor é a essência da vida. O amor, sem paixão doentia, é o que está nos faltando viver.
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