Memórias de confissões

por Orson Peter Carrara
             Segundo o dicionário, confissão é revelação de culpa, de próprio delito ou de ato reprovável. Pode ser também um desabafo, uma confidência ou a revelação de sentimentos. Segundo os preceitos do Catolicismo, é prática da revelação dos chamados pecados – que é uma culpa ou falta – a um confessor, tendo em vista a absolvição. 

           Imagine o leitor uma obra repleta de relatos dessas memórias de confissões. Claro que sem identificação de nomes, locais ou épocas, tendo em vista o caráter de privacidade da própria confissão no ambiente dos confessionários católicos, mas sim com o objetivo de desdobrar ensinos morais de grande alcance para os leitores. Considerando que o sentimento de culpa ou mesmo a consciência de faltas cometidas apresentadas em confissões podem representar com exatidão boa parte das grandes tragédias humanas, dos dramas íntimos e dos imensuráveis conflitos de toda ordem, tais relatos igualmente desdobram-se em grandes ensinos morais, especialmente quando o autor agrega a essas narrativas sua grande sensibilidade, acentuado amor ao próximo, fé operante e uma grande noção de dever perante a própria consciência.

            Referimo-nos ao Padre Germano, notável personalidade –  aqui como pseudônimo –que viveu possivelmente entre 1750 e 1830 na França ou Espanha ou na divisa desses dois países, e que se tornou famoso pela bondade expressa em sua sabedoria e desprendimento, bem como no cumprimento exato do dever sacerdotal, além da conduta do verdadeiramente importar-se com o próximo, no comportamento de caridade e amor ao próximo.
 
Referido livro chama-se Memórias do Padre Germano e foi organizado por Amália Domingo Soler. É composto de contos – cada capítulo é um conto – onde o sacerdote desnuda-se perante o leitor, apresentando seus sentimentos e conflitos humanos próprios, mas igualmente apresentando os relatos das confissões, para comentá-los com muita sabedoria e ensinamentos para qualquer leitor.

Para citar apenas alguns exemplos, ele amou uma mulher sem jamais lhe tocar, mantendo-se fiel ao dever sacerdotal; recolhia marginais em sua própria casa para recuperá-los moralmente; ia ao encontro do sofrimento, onde ele estivesse, para atenuar as agruras humanas; afirma categoricamente que as virtudes que a ele atribuam – ele ficou famoso pelo elevado número de pessoas que o buscavam para orientações – não eram virtudes mas simplesmente o cumprimento de seu dever perante os homens.

              De leitura muito agradável e extremamente cativante, a sequencia dessas memórias traduzem a nobreza de uma alma, refletem a confiança em Deus, o amor ao próximo e o acentuado destaque para o cumprimento do dever, como já citado. É livro para ser sentido, apreciado demoradamente, muito mais que ser lido. São textos comoventes que muito ensinam.

                Apresento referida indicação neste momento de proximidade das eleições municipais, tendo em vista do DEVER que detemos uns para com os outros ou perante a cidade e a responsabilidade na decisão da escolha pelo voto. É preciso pensar nisso com seriedade.

              Ao mesmo tempo pensamos também no alto índice de suicídios que ocorrem nos dias atuais, dirigindo-nos aos que se debatem nas agruras das aflições de qualquer origem. Mas claro que também nos desafios da convivência familiar, da violência urbana, da expansão das drogas, entre outros desafios.

          É que o livro, em sua íntegra, nos contos romanceados, aborda diretamente todas essas questões humanas: os conflitos íntimos, os medos, as dificuldades de relacionamento, os dramas e tragédias do cotidiano, oferecendo conforto, lógica e muitos ensinos que equilibram a mente e asserenam  o coração!
          São páginas e capítulos para serem saboreados com muito gosto, tamanho o conteúdo moralizador, confortador e muito atraente.
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