Como melhorar?
Orson Peter Carrara
Há um meio prático de se melhorar nesta vida, moralmente falando,
resistindo às más tendências e procurando adquirir mais virtudes?
Sim! Tornarmo-nos mais pacientes, decididos, compreensivos, tolerantes e
também mais determinados. Mas ao mesmo tempo mais dóceis no trato, mais gentis,
mais dedicados no bem. E não é só: também mais responsáveis e comprometidos com
as causas humanitárias, mais disciplinados nos comportamentos e mais conectados
ao respeito às diferenças, às leis, às instituições.
E, claro, aprendermos a domar em nós mesmos os instintos agressivos e
egoísticos, que tanto prejuízos causam na convivência.
Uma recomendação do filósofo Sócrates indica o melhor
caminho: Conhece-te a ti mesmo!
Isso
significa uma viagem interior de questionamentos, uma entrevista onde somos o
entrevistado e o entrevistador. Sim, questionarmos a nós mesmos, avaliando
diariamente o próprio comportamento para averiguar se
alguém tem algo a reclamar de nós ou se cumprimos com o próprio dever no dia
que passou. Esta auto-avaliação pode ser resumida em cinco itens:
a) Interrogarmo-nos
sobre o que temos feito;
b) Com que objetivo
fizemos ou agimos dessa ou daquela forma;
c) Se fizemos
algo que censuraríamos se praticado por outra pessoa;
d) Se algo fizemos
que não ousaríamos confessar;
e) Se ocorresse a
morte, teríamos temor do olhar de alguém?.
E poderíamos ainda examinar se agimos contra Deus, contra nosso
próximo e contra nós mesmos. As respostas obtidas nos darão o descanso para a
consciência ou a indicação de um mal que precisa ser curado. Havendo dúvida
sobre determinado comportamento, há ainda um passo decisivo: se estivermos
indecisos sobre o valor de uma das ações, perguntemos como a qualificaríamos,
se praticada por outra pessoa. Se a censuramos noutrem, não a podemos
ter por legítima quando formos o seu
autor. Esta dica, inclusive, é precisa para possíveis
questionamentos sobre ilusões do julgar-se a si mesmo, atenuando as faltas ou
tornando-as desculpáveis. Se censuramos no comportamento de outra pessoa, é
sinal que não aceitamos. E, portanto, trata-se de comportamento que não devemos
adotar.
A formulação nítida e precisa de questões
dirigidas a nós mesmos sobre o móvel de nossas ações ou o questionamento de
nossas motivações é o caminho de nos conhecermos. E, convenhamos, conhecendo a
nós mesmos, alcançaremos a reforma moral. Imagine-se agora se cada ser humano
travar essa intensa luta consigo mesmo para melhorar-se a si mesmo, teremos um
mundo melhor. É o que todos desejamos, não é?
Afinal, a melhora moral do planeta com seus saudáveis
desdobramentos começa na intimidade individual. Isso influirá na educação dos
filhos que igualmente fará homens de bem. O processo é simples no geral,
complexo nos detalhes, mas é o único caminho se desejamos melhorar o mundo em
que vivemos.
Tolas vaidades, egoísmo, prepotências e arrogâncias,
orgulho de qualquer origem, ciúmes e invejas já estão ficando fora de moda e
incompatíveis com a nova era que a humanidade está construindo. É hora de
demiti-los. Não precisamos deles.
Para viver melhor, é preciso ser melhor! É o que ensina
Agostinho na notável questão 919 de O
Livro dos Espíritos.
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