Precipitados no julgar

Orson Peter Carrara


Uma experiência pessoal recente levou-me a refletir novamente no quanto somos precipitados no julgar. As conclusões são apressadas, sem reflexão, e normalmente destituídas de fundamento porque desconhecedoras das razões que envolvem os fatos em si.

Isso é próprio do ser humano e pode ser aplicado a situações variadas em todos os campos do relacionamento entre as pessoas, como ou sem convivência e mesmo nos desafios próprios conosco mesmo. O problema está entre cônjuges, entre pais e filhos, entre sócios, colegas, entre familiares variados e mesmo com quem nem conhecemos. A lista vai longe...

Ocorre que o trabalho de editor leva-me a ler originais de obras a serem futuramente publicadas, para análise de conteúdo, onde posso sugerir, alterar mediante consulta, inserir ou excluir trechos e, claro, na leitura preliminar deparar-me com erros gramaticais antes de irem para o trabalho do revisor que vai ler com olhos de corrigenda para a forma gramatical correta. É outra etapa, com outro profissional.

Mas em situação recente, nessa leitura preliminar, deparei-me com muitos erros de ortografia, em palavras com grafia solidamente assimiladas pela maioria e apresentadas no texto com letras trocadas, apesar da similitude da pronúncia. Isso levou-me diretamente à atitude de crítica ao autor. Como o autor poderia ter escrito tais palavras com tais letras? Inadmissível pensava eu, em crítica ao autor.

É o caso das palavras parônimas, de significados diferentes, mas muito semelhantes na pronúncia e na grafia. Por exemplo: absorver com absolver, cavaleiro com cavalheiro, eminente com iminente, entre outros inúmeros casos existentes.

Pois bem! Em outro posterior contato, comentei por fone sobre os casos desses erros de ortografia e o autor, com tranquilidade, informou-me ter deficiência visual e que a escrita das palavras ocorre por audição e não por visão do que está escrevendo. Pronto! Corei de imediato, pensando no julgamento precipitado e na verdadeira causa da questão.

E assim somos, os seres humanos, com nossos julgamentos precipitados, sem conhecimento da autêntica razão que movem os fatos e as circunstâncias, atitudes e posturas. Esse é apenas um exemplo simples, até de confissão pessoal, mas cabível para refletirmos em quantas situações do cotidiano, privadas ou públicas, não estão enquadradas no mesmo princípio.

Será interessante, a esta altura, pensar no conteúdo dos pensamentos abaixo, constante do capítulo Críticas a Esmo, do livro Vigiai e Orai, de Carlos Bacelli:
   a)      Todos agem movidos pelas suas carências;
   b)      A fragilidade é própria do ser humano;
   c)       Habitualmente caímos naquilo que mais condenamos;

E a conclusão do texto é fascinante, requerendo uma pausa para pensar seriamente nas razões que nos movem: É a ignorância que nos induz a infelizes opções e equivocadas escolhas.

Como isso cabe nas situações do cotidiano! A ignorância ali não é pejorativa, é falta de conhecimento mesmo da realidade que caminha por trás dos acontecimentos e que muitas vezes não vemos. Por isso vemos as tragédias que se multiplicam em todas as áreas do relacionamento humano. O exemplo da grafia incorreta não é nada diante dos fatos que se agitam diariamente nos conflitos humanos, mas dão a ideia do que precisamos compreender mais: as motivações, as bagagens, os interesses, carências, conquistas e dificuldades estão nas causas que geram tantas angústias todo dia e nós, com nossa ignorância plena das razões que movem cada um, saímos nos julgamentos apressados, esquecidos que também aqueles que se equivocam, caem e erram, também caminho pela ignorância de alguma forma...

Como julgar? 
Não temos conhecimento completo da história de cada um.
Por isso a recomendação fundamental: Não julgueis!

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