Contrastes
Orson Peter Carrara
O
Verdão, no ano de seu centenário, torna-se verdinho, um time morto em campo,
fruto de uma administração desastrosa. Bem de acordo com a teimosia, no São
Paulo, de Ceni, que não se decide que já deveria ter parado há muito tempo,
tendo perdido a oportunidade de sair a tempo com glória, como fez Marcão. E
pior: no ano da Copa do Mundo no Brasil vemos a atual geração de futebol –
incluindo também a teimosia de Felipão – jogar pelo ralo a tradição e garra da
Seleção Brasileira. Isso sem falar em outros papelões bem conhecidos.
Estive
em Três Corações-MG e pude visitar os vários monumentos e homenagens a Pelé, na
época de glória do futebol. A visita e a memória ali preservada levaram-me a
essas reflexões. Mas o futebol também reflete o momento complexo e difícil do
país, igualmente entregue ao descalabro gerado pelo jogo de interesses movido
pelo egoísmo e pela sedução do poder.
Pessimismo?
Não! Em absoluto! A crise gerada pelos interesses vem de longe. Não é de agora,
ela integra a história humana. É uma luta desafiadora. Na verdade, as crises
trazem o progresso, mas muitas dificuldades poderiam ser evitadas não fossem
nossa teimosia humana e especialmente os efeitos danosos do egoísmo e do
orgulho, ainda imperantes em nossa mentalidade coletiva.
Estamos
em 2014. Nos dias 23 e 24 de agosto de 1572, na França, o sangrento Massacre da
Noite de São Bartolomeu, por causas religiosas e políticas, tornou-se um dos
espetáculos mais horrendos de nossa história. Há exatos 60 anos, em 1954,
também no dia 24 de agosto, no Brasil, o Presidente Getúlio Vargas suicida-se
com um tiro no peito, pressionado pelas crises no país.
Mas,
apesar das crises contínuas da vida humana, voltemos a atenção para o momento
atual do país. Estamos aí, às vésperas das eleições, exigindo intensa reflexão.
O voto é instrumento de construção da democracia. Depois de anos de lutas pela
construção plena da liberdade, com participação de importantes vultos na
história recente do país, vemo-nos ameaçados com o bem que mais desejamos na
vida social: a liberdade.
Anular
o voto ou não votar é o caminho mais fácil, mas incoerente com a necessidade do
presente, que exige posicionamento firme, coerente e corajoso, pois a omissão
política e mesmo a indiferença com os interesses coletivos do país gerou o quadro
complexo que estamos vivendo, com justas preocupações. O desinteresse pela
cidadania, gerado pelo egoísmo e a acomodação, levou ao delicado momento.
Chegou
o momento da consciência coletiva. Afinal como usamos o voto: para interesses e
causas pessoais ou no interesse da nação? Como candidatos ou eleitos, qual o
interesse de participação na vida política do país? Ainda nos move o interesse
pessoal?
São
contrastes a serem revistos. O modelo de manipulações de bastidores já mostrou
estar ultrapassado, sendo uma das causas das contínuas crises que se repetem em
instituições de qualquer perfil, com reflexos diretos na vida individual e
coletiva.
Quando
é que aprenderemos a respeitar os limites da liberdade? Pensamos que tudo
podemos ou que somos o dono de tudo, que dominamos... Mas, felizmente, a vida
com sua sabedoria sempre surge abundante para nos colocar no lugar e mostrar
nossa fragilidade.
Mais
cedo ou mais tarde, convenhamos, a vida nos colocará no nosso devido lugar.
Quanta ilusão produz o poder! Quantos prejuízos morais e materiais,
educacionais e sociais oriundos do desconhecimento de que há leis sábias e
justas que regem a vida humana e que sempre responderemos – sem configurar
castigo, mas sim se apresentando como consequência – pelos danos que causamos a
nós mesmos, à coletividade, ao progresso e à paz que temos o dever de
preservar.
Melhor
abrirmos bem os olhos enquanto há tempo claro...
Afinal,
os estados conscienciais definem nosso céu ou inferno interior, pela
consciência tranquila ou pelo remorso e arrependimento que sempre colheremos
pelas ações que nos deixemos empolgar, muitas vezes inadvertidamente. Quando a
consciência acordar para a própria realidade, esses estados surgirão
inevitáveis e fortemente presentes!
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