Maior dos males
Orson Peter
Carrara
De todos os males e imperfeições
humanas, qual o pior deles? A pergunta fora dirigida pelo aprendiz ao seu
mestre. A sabedoria da mente lúcida daquele condutor de almas respondeu sem
hesitar: – É a inveja!
Ela é a raiz de todos os males,
fonte de desgraças, inimiga virtual do bem geral e coletivo. Na verdade, se bem
analisada, ela é a causa de todas as falhas humanas, gerando a calúnia, a
desarmonia, a deslealdade, a ambição. Ela também é a grande administradora das
guerras e dos ódios e como ágil serpente, infiltra-se por toda parte, envenena
relacionamentos, corrompe e avilta.
O olhar do invejoso é estéril,
frio, inexpressivo. Suga, insaciável, a seiva da árvore que a abriga, morde a
mão de quem lhe presta auxílios e, incrivelmente, é inimiga de todo aquele que
lhe faz bem.
Não sabe agradecer e se lhe
atendem em suas necessidades, cercado de atenções, afasta-se logo e alega que
apenas lhe pagaram pelo muito que deviam. Por outro lado, se lhe dão de beber
quando tem sede (o exemplo da sede amplia-se para outras questões), bebe
avidamente, mas proclama depois que a água não estava pura.
A inveja é aquela voz a reclamar
de maneira permanente e principalmente a quem lhe ampara. E, pior, parecendo
ter amigos, fale e age na ausência deles como verdadeiro inimigo que é, no uso
da intriga e da maledicência.
E é possível reconhecer a inveja
nas almas humanas? Conhece alguém assim?
Sim, é fácil. O homem dominado
pela inveja é o mais infeliz de todos. Jamais se satisfaz. Se possui um bem,
prefere ambicionar o alheio, as aos bens alheios nega todo bem. Vive angustiado
e amargurado. Não sorri, não sonha, não chora porque insensível.
Também não olha francamente,
apenas entreolha, e está sempre a distribuir amargor e mal estar ao seu redor.
Essa imperfeição humana deforma de maneira tão expressiva a alma humana que se
torna fácil reconhecer um invejoso.
Afastemo-nos, pois, da inveja se
desejamos a felicidade. A inveja é uma bobagem moral, uma perda de tempo sem
precedentes. Por que comparar-se com o outro, com a posição alheia? Cada vida é
uma vida. Filha ou geradora do ciúme, é um mal a ser combatido.
E pergunta ainda o aprendiz: – Que fazer, então, contra esse terrível mal?
E respondeu o sábio:
– Nada!
A não ser amar. Ama teu próximo, mais que a ti mesmo, e assim estarás livre da
inveja.
Nota do autor: Texto com
adaptações, inclusive com transcrições parciais, da crônica O maior dos males,
extraído do livro À sombra do Olmeiro,
de Dolores Bacelar, edições Correio Fraterno.
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