Tim Maia
Orson Peter Carrara
Saí do cinema com o coração apertado. O sentimento
desperto, ao assistir ao filme, foi de imensa compaixão para com nossas
dificuldades humanas.
O notável músico, produtor, cantor, compositor, que
deixou músicas lindas e empolgantes, levou uma vida difícil, iludido pela
conquista material, levado pelas drogas. Tim Maia é o nome artístico de
Sebastião Rodrigues Maia (28/09/42 – 15/03/98). De infância pobre, família com
muitos irmãos, viveu os primeiros tempos da mocidade com contatos com grandes
nomes da música brasileira, entre eles Roberto e Erasmo Carlos, entre outros.
A história de vida do cantor e compositor mostra bem o
quanto nos iludimos pelas conquistas materiais e o quanto precisamos nos
estender as mãos uns aos outros, considerando nossas fragilidades morais e
emocionais.
Longe de qualquer julgamento, consideremos que não
temos o direito de julgar comportamentos e dramas alheios. Afinal cada criatura
tem o seu drama próprio, a sua aflição, a sua dificuldade, a sua dor. Antes de
julgar, na verdade, devemos nos compadecer e entender o próximo e suas lutas
para que, inclusive, aprendamos igualmente com as lutas alheias.
A compaixão nos pede colocarmo-nos no lugar do outro,
entender sua dor e igualmente algo fazer ou fazer o que nos está ao alcance
para atenuar as agruras e aflições alheias, diminuindo os intensos dramas, tão
variados e de tantas origens.
Notem os leitores a influência da infância difícil
sobre a vida do conhecido cantor, o desprezo que sofreu, o preconceito que
enfrentou, o exemplo danoso de lideranças religiosas a que se vinculou – uma na
infância por tradição e outra já maduro, inclusive levado por um certo
fanatismo.
Na verdade a compaixão está além do dó. O dó fica
apenas no sentir. A compaixão age em favor das agruras alheias para diminuir ou
suavizar os dramas que enfrentam aqueles que nos fazem sentir o doce sentimento
da compaixão.
Perdemo-nos, os seres humanos, na orientação de vida,
por motivos variados. Levados por ilusões diferentes, seja da posse, do poder,
do sexo desvairado, da escravização pelo dinheiro, pela vaidade ou pelo
orgulho. São experiências diferentes que cada um de nós enfrenta, justamente
para aprendermos e amadurecermos.
Vendo o filme e sentindo o drama do cantor, sua decepção,
seu amargor, sua solidão, cabe-nos o dever de orar pelo notável compositor,
levado pelo materialismo, mas sem deixar de ser um ser humano, frágil como
qualquer um de nós. Muitos nos iludimos com possível domínio sobre os outros e
nos esquecemos do domínio sobre nós mesmos.
Por isso recomenda o benfeitor André Luiz: “(...) Sê o
investigador de ti mesmo, o defensor do próprio coração, o guarda de tua mente
(...)”.
Daí a importância da autoanálise da própria conduta,
da observação dos atos que nos determinam as ações e reações diárias, da
vigilância sobre as palavras que proferimos, do aprimoramento verbal e mental
que nos caracteriza, da ponderação sobre nossas próprias responsabilidades e do
aperfeiçoamento dos sentimentos.
Convenhamos: somos almas frágeis, carentes
emocionalmente e todos trazemos ainda inúmeras imperfeições morais.
Mas não esqueçamos: somos ao mesmo tempo seres
potencialmente capazes de superar nossas fraquezas. A vida pede essa decisão.
Vibremos em favor de Tim Maia. É alguém como qualquer
um de nós, talentoso em sua área (aliás, a rouquidão da voz é sua grande
marca), mas igualmente como qualquer um de nós, todos necessitados de
permanente esforço pelo aprimoramento moral.
Se puder, veja o filme.
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