Chuchus multiplicados
por Orson Peter Carrara
Ela
não se conformava com a atitude do cunhado: achava-o um tremendo "mão
aberta". Esse negócio de dar sem receber não era com ela, embora
estimasse a atitude do familiar. Um dia chamou-o e disse-lhe não acreditar
nessas teorias de servir, de ajudar o próximo, de dar e doar sempre sem receber
qualquer recompensa. Afinal, via que ele nada recebia em troca do tanto que
doava, que realizava...
Mas
ele ponderava que tudo o que fazíamos com sinceridade e amor no coração, Deus
abençoava. E sempre que distribuímos, doamos, fazemos uma boa ação e mais cedo
ou mais tarde a vida nos responderá de alguma forma. Afinal, concluía, quem faz
o bem, colhe o bem.
Ela,
para provar-lhe o erro da teoria, resolveu experimentar. Disse que tinha dois
chuchus e que os doaria ao primeiro que aparecesse, mas queria ver se receberia
mesmo outros dois em troca... Mal acabara de falar quando a vizinha do lado
esquerdo, pelo muro, chama: - Dona Maria, pode me dar ou emprestar dois
chuchus? Embora surpresa, afirmou: - Pois não, minha amiga, aqui os tem. Faça
deles bom uso.
Em
instantes, antes que se refizesse da surpresa, a vizinha do lado direito,
também pelo muro, ofereceu quatro chuchus para dona Maria. Meia hora depois, a
vizinha dos fundos pede a dona Maria uns chuchus e esta lhe entre os quatro que
havia recebido. Quase em seguida, a vizinha da frente, sem que soubesse do que
acontecia, oferece à mesma D. Maria, oito chuchus.
Por
fim, já sentindo a lição e agindo agora seriamente, recebe a visita de uma
conhecida de poucos recursos econômicos. Demora-se um pouco, o tempo bastante
para desabafar sua pobreza. À saída, recebe, com outros mantimentos, os oito
chuchus. E então, virando-se para o cunhado, diz: - Agora, quero ver se ganho
os dezesseis chuchus. Era o que faltava para completar a brincadeira. Mas já
era tarde. Ela percebia que tudo terminaria aí, mas recebeu do cunhado a
afirmativa: - "Espere e verá!"
Por
volta das dezoito horas, quando o cunhado retorna do trabalho, nada havia
sucedido com relação aos chuchus. Ela olhava para o cunhado com ar de quem
dizia: "Ganhei ou não?"
Às
vinte horas, todos na sala conversavam. O episódio do dia estava inclusive
esquecido, quando alguém bate à porta. Dona Maria atende. Era um senhor idoso,
residente na zona rural.
Trazia
no seu burrinho, uns pequenos presentes para Dona Maria, em retribuição às
refeições que sempre lhe dava, quando vinha à cidade.
Colocou à porta o pequeno
cesto. Dona Maria abre-o nervosa e curiosamente. Estava repleto de chuchus.
Contou-os: sessenta e quatro. Oito vezes mais do que havia, ultimamente, doado.
Era demais. A bela lição, excedia à expectativa, era muito mais do que
esperava. Ela finalmente compreendeu o cunhado, entendendo que aquele que dá recebe
mais.
Extraído do
livro Lindos casos de Chico Xavier, de Ramiro Gama, adaptado para este
artigo.
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