Penitenciárias

Por Orson Peter Carrara
Coincidindo com a crise prisional no país, encontro na sabedoria de Amália Domingo Soler, no fabuloso livro A Luz do Caminho, que está esgotado e logo estará reeditado, o notável capítulo A Eterna Justiça, que parece foi escrito para a atualidade do país, embora escrito há mais de um século. Faço aqui pequenas transcrições parciais do citado capítulo:
  1. Você então acredita que com suas prisões se consegue a cura do criminoso? É um equívoco gravíssimo, porque, como regra geral, seus condenados são homens quando entram nos calabouços, mas ali se convertem em feras indomáveis (...);
  2. (...) se dobram o corpo sob o poder do chicote, não dobram seu Espírito, pois continuamente se está vendo que os crimes mais terríveis, que os atentados mais cruéis, que o ódio mais concentrado, quem os sente ou os comete?
  3. Eis como funciona a corrigenda de um criminoso de ontem, e não é porque seja um monstro da iniquidade, mas porque matou, sem estudar a natureza do seu crime, as leis o condenaram a alguns anos de prisão.
  4. (...) entrou na prisão aturdido, surpreso e assustado por sua própria obra; entrou como aprendiz, como se costuma dizer, na oficina dos crimes e saiu mestre consumado, o que prova que seus castigos violentos produzem um resultado completamente negativo, o que não ocorreria se os criminosos fossem tratados como se tratam os enfermos.
  5. (...) embora falte muito para que os enfermos pobres sejam tratados nos hospitais com as considerações e atenções devidas, não os golpeiam e não os submetem a continuados jejuns para curar suas doenças; dão-lhes medicamentos, alimentos, fazem operações que, conquanto dolorosas, têm por objetivo separar o membro gangrenado do resto do corpo, para que este se conserve saudável.
  6. Ora, se assim tratam as enfermidades do organismo, com relativo acerto e com o sadio desejo de conseguir a cura completa, por que não fazem o mesmo com as enfermidades da alma?
  7. Que vocês pensam que são os criminosos? (...) cada um deles apresenta distinta enfermidade (...) quanta diferença existe na origem da criminalidade!
  8. Curar a doença por meio de um tratamento geral é como se num hospital cheio de enfermos, cada um com sua doença particular, dessem a todos o mesmo medicamento, pretendendo que se curasse com o mesmo remédio o tuberculoso incurável e aquele que somente tivesse uma leve febre.
  9. Dia chegará (...) em que suas horríveis prisões serão substituídas por casas de saúde, onde os criminosos serão julgados, não por juízes, mas por sábios psiquiatras, e cada ser que cometa um delito será um livro aberto no qual o médico encarregado de sua cura lerá constantemente.
  10. A doçura é o modo de corrigir os culpados; (...) os crimes diminuirão à medida que os criminosos sejam considerados doentes em estado gravíssimo que necessitam de especiais cuidados e múltiplas atenções, e de alguém que os ensine a trabalhar e, o que é mais difícil, a amar o trabalho (...)
  11. Que diferentes resultados obterá o sistema penitenciário de que se fará uso nos séculos vindouros!
Nossas autoridades precisam conhecer uma sábia orientação dessa natureza. O império do materialismo, da indiferença e o predomínio do egoísmo formam esse quadro complexo que estamos enfrentando no país. Daí a imperiosa necessidade da expansão da visão imortalista da vida, que não se resume a algumas décadas nesse corpo frágil que utilizamos.
Concluo com trecho no final do capítulo: “(...) eduquem-nos (...) para que comecem a ser úteis a seus semelhantes, porque toda água que se dá aos sedentos, encontra-la-ão depois em gotas de precioso bálsamo que lhes servirá mais tarde de alimento e vida (...)”.

Não é o grande desafio da nação? Até onde vamos com nossa indiferença? Multiplicam-se os condenados e penitenciárias, esquecidas as autoridades do poder da educação (e sua estrutura, claro!) Que, curiosamente, começa em casa, antes do berço, no aconchego familiar, no exemplo dos pais e no Evangelho do Cristo, único capaz de formar autênticos homens de bem.