Fez-nos falíveis
por Orson Peter Carrara
Não é difícil constatar a
realidade das imperfeições morais que todos carregamos. Ainda somos seduzidos
pela vaidade, pela ganância, pela arrogância. Também sucumbimos às variadas
paixões, pelos interesses egoísticos, pelo orgulho desvairado. Somos capazes de
manipular nos bastidores, transitamos com malícia e libertinagens nos caminhos
da mentira e da corrupção; mentimos, trapaceamos, enganamos, enganamos a
própria consciência. Cobiçamos bens alheios, invejamos posições, ficamos
enciumados e carregamos boa dose de prepotência e pretensões descabidas, sem
qualquer sentido que as justifiquem.
A realidade atual do planeta é
bem destacada demonstração da mediocridade interior que ainda caracteriza nossa
condição humana. O Brasil, por sua vez, mostra o total desequilíbrio que fomos
nos situar por força dessas imperfeições todas que nos faz discutir por
bagatelas, perdendo-nos dos verdadeiros interesses do viver para aprender.
Desanimador? Não! Motivador, ao
contrário.
A Sabedoria Divina nos fez
falíveis. Criou seres ignorantes justamente para que aprendessem e
amadurecessem pela experiência das vivências, nos enfrentamentos todos que
todos os dias são verificáveis. Fazendo-nos falíveis, passíveis de equívocos
variados, dominados e seduzidos por paixões e interesses diferentes, sabia
desses salutares enfrentamentos e equívocos que nos permitiríamos por
ignorância e principalmente por ILUSÃO. Sim, iludidos pelo poder, pela
autoridade, pela ganância, por pretensa superioridade.
Mas aí está o grande “x” da
questão. Justamente por sermos falíveis e tais equívocos nos encaminharem às
colheitas da semeadura – mais cedo ou mais tarde –, somos levados igualmente às
reavaliações de posturas e comportamentos, amadurecendo a consciência e
elevando o sentimento.
Convenhamos! Em quantas ilusões
nos apegamos! Quanta bobagem, quanta ilusão com valores perecíveis! Observemos
as lutas de interesse do país. A que isso levará? A curto e médio prazo, a
aflições que poderiam ser dispensadas. A longo prazo a experiência constatadora
do quanto tempo perdemos com bagatelas.
A realidade é, pois, altamente
motivadora aos aprendizados. Retirar dessas situações todas experiências
reflexivas para sermos melhor. Melhorar o padrão moral, o comportamento, o
palavreado, sublimar os interesses, desenvolver a fraternidade.
Estamos ainda muito iludidos pelo
TER, esquecendo a principal finalidade de viver; o SER. O ser que ama, que
respeita, que aprende, que reconhece sua pequenez e movimenta forças para viver
solidário. Iludidos, ficamos nas infindáveis discussões, esquecendo o
principal.
Verifique-se as esferas de poder.
Retrato fiel do império do materialismo, total desconhecimento de nossa
realidade imortal. Mas busque-se também a esfera individual, na própria
consciência. Como estamos? O que estamos sentido? O que buscamos? Quais nossos
verdadeiros interesses?
Há um sentido para tudo isso: é o
Divino Convite do Supremo Doador da Vida para que assumamos nossa condição de
dignidade, saindo da esfera dos falíveis para a envergadura dos que se esforçam
para a libertação dessa autêntica prisão da ignorância. Fazer-nos falíveis é
Sabedoria que convida à permanente busca da perfeição, ainda que relativa. Em
outras palavras, para síntese conclusiva: educação de nós mesmos, especialmente
no sentir e viver a dignidade de nossa condição de filhos de Deus! Preconceitos
e ilusões só levam a doloridos tropeções... melhor a disciplina do aprendiz que
supera gradativamente a condição de falíveis.