Surpresas que se sucedem – Desejo oculto de Lívia
Orson Peter Carrara
Um novo amigo, de Brasília-DF, abriu-me os olhos para um detalhe aparentemente insignificante e que facilmente passa desapercebido. Depois de ler meu livro Tarefa dos Enxovais – que reproduz e comenta o último capítulo do livro Diversidade dos Carismas, de Hermínio Miranda –, que se reporta aos benefícios advindos das peças dos enxovais para recém-nascidos de mães carentes (não pelas peças mas pelas vibrações de carinho de quem as preparou, com amor, para atender a crianças de pais e mães muitas vezes sem quaisquer recursos de proteção e conforto), escreveu-me sensibilizado e agradecido, contando sua própria história de envolvimento com esse trabalho de atender gestantes em dificuldades materiais.
É que ele ficou muito tocado pela experiência vivida por Wallace Leal V. Rodrigues e narrada no livro Amor e Sabedoria de Emmanuel, de Clóvis Tavares, que ficou tocado por trecho do livro Há 2.000 anos, que revela um desejo oculto de Lívia durante diálogo na prisão com sua servidora Ana, na manhã em que seria sacrificada após ser presa por estar junto aos cristãos, nos primitivos tempos do Cristianismo. Por causa desse trecho, Wallace iniciou trabalho em Matão também para amparar gestantes, como fornecimento de enxovais. Nosso amigo de Brasília, por sua vez, tocado pela experiência de Wallace, igualmente está envolvido com essa tarefa há alguns anos.
Mas o que é realmente tocante é o trecho do livro de Emmanuel sobre Lívia. Esse trecho está no capítulo V da segunda parte: Nas catacumbas da fé e no circo do martírio. Confidencia Lívia para Ana: “(...) Nos meus anseios, minha boa Ana, desejava adotar todos aqueles petizes maltrapilhos e famintos, que surgiam nas assembleias populares de Cafarnaum; mas meu propósito materno de amparar aquelas mulheres desprezadas e aquelas crianças andrajosas, que viviam ao desamparo, não podia realizar-se neste mundo...Todavia, suponho que hei de realizar os ideais de minha alma, se Jesus me acolher nas claridades do seu Reino (...)”.
Note o leitor que as expressões “petizes maltrapilhos e famintos”, “propósito materno” e “mulheres desprezadas e aquelas crianças andrajosas, que viviam ao desamparo”, bem comportam a semente desse amor e amparo em favor de mães e crianças em situação de penúria material, que Lívia não conseguiria realizar neste mundo (seria sacrificada naquele dia), mas que era seu anseio que pudesse um dia realizar esse sonho, ou desejo oculto de alma, ali revelado para Ana, que tanto a estimava. E que os séculos fariam tornar viável a iniciativa por meio de tantas mãos carinhosas e consciências despertas tocadas pela fraternidade, e, não há dúvidas, inspiradas pelo amor de Lívia.
Foi o que aconteceu com a personagem Regina, do livro de Hermínio, cujas histórias com enxovais muito me sensibilizou; do texto de Emmanuel em Há 2.000 anos que tocou o coração de Wallace, que por sua vez mexeu com a sensibilidade do amigo Maurício Melo, de Brasília, que me escreveu. Inclusive Maurício deu nome Lívia à sua filha.
Não tinha conhecimento da experiência de Wallace, ou não me lembrava. Igualmente não havia me dado conta da confidência de Lívia. E agora o novo amigo de Brasília abre imensa perspectiva de análise e reflexão sobre o importante tema.
Lendo o trecho do livro, bem se pode ter nele a inspiração nobre dessas abençoadas tarefas de auxílio e fraternidade. Aliás, recomendo o livro todo, de imensa beleza para a sensibilidade do leitor. O fato é que vamos nos surpreendendo com os fatos que se ligam e se fecham entre si.