Já que Finados chegou
–
Orson Peter Carrara
A famosa e alegre cantora Clara
Nunes morreu em abril de 1983, com apenas 39 anos de idade, deixando um legado
musical de expressão.
Considerada uma das maiores e
melhores intérpretes do país, era pesquisadora da música popular brasileira, de
seus ritmos e de seu folclore e viajou para muitos países representando a
cultura do país. Conhecedora das músicas, danças e das tradições
afro-brasileira, converteu-se à Umbanda e levou a cultura africana para suas
canções e vestimentas. Foi uma das cantoras que mais gravou canções dos
compositores da Portela, sua escola do coração. Também foi a primeira cantora
brasileira a vender mais de 100 mil cópias, derrubando um tabu segundo o qual
mulheres não vendiam discos.
Um ano e cinco meses depois da
morte brindou os familiares e amigos com mensagem de pleno equilíbrio pelas
mãos do médium Chico Xavier, dando notícias da como foi recebida na vida
imortal. Destaco trechos parciais da mensagem, constante do AE 1997, edição
IDE:
“(...) Aquela anestesia suave que
me fazia sorrir se transformou numa outra espécie de repouso que me fazia
dormir. Sonhava com vocês todos e me via de regresso à infância. (...). Acordei
num barco engalanado de flores, seguido de outras embarcações nas quais muitos
irmãos entoavam hinos que me eram estranhos, hinos em que o amor por Iemanjá
era a tônica de todas as palavras. (...) os barcos se abeiravam de certa praia
encantadoramente enfeitada de verde nas plantas bravas que a guarneciam. Quando
o barco que me conduzia ancorou suavemente, uma entidade de grande porte se
dirigiu a mim com paternal bondade e me conduziu a pisar na terra firme. Ali
estavam o meu pai Manoel e a nossa mãezinha Amélia. (...)”.
A mensagem é longa e fica
inviável transcrevê-la integralmente. O leitor poderá encontra-la na íntegra na
net, bastando pesquisar nessa direção.
O fato expressivo que desejamos
destacar, todavia, é a grandeza da imortalidade da alma. Diante da lembrança
humana dos chamados mortos – que permanecem vivos sem os condicionamentos
impostos pela carcaça óssea e limitadora de nossa liberdade e visão dos
verdadeiros padrões de nossa natureza imortal –, a narração de Clara Nunes
convida à reflexão sobre essa palpável realidade.
Desde que respeitemos a vida
– sem antecipar ou buscar calculadamente com precipitação o fato biológico da
morte –, aguarda-nos a felicidade.
As paisagens que encontraremos ou
ambientes que nos recepcionarão são aqueles que construímos durante a vida, nas
vinculações morais e sintonias que estabeleçamos. Notem os detalhes dos barcos
e flores, músicas típicas e o próprio mar, são da convicção e hábitos da
personagem, que surgem esplêndidos no momento de chegada... e que depois se
ajustam à realidade que nos aguardam.
É que a bondade daqueles que nos
protegem e amam respeitam nossas crenças e sentimentos, não interferindo nas
construções que edificamos.
A imortalidade da alma é
palpável, real, vibrante, confortadora. Sugiro ao leitor estudar e pesquisar
sobre o assunto para vencermos ilusões e informações descabidas e construídas
pela nossa falta de conhecimento ao longo da história humana, repleta de
criatividade deformante ou de ameaças descabidas, esquecidos que estivemos por
muito tempo esquecidos da Bondade de Deus!
Paternidade que não esquece os
filhos e tudo faz pela paz e harmonia de suas criaturas, imensamente amadas.
Cabe-nos entender mais o assunto, para vencermos medos, traumas ou dores que
podem ser evitadas.