Nem anuladas, nem simplificadas
Orson Peter Carrara
O dinâmico processo de viver,
aprender, progredir e especialmente aprimorar-se no intelecto e na moralidade,
estabeleceu valiosas experiências nos relacionamentos com terceiros e, claro,
consigo mesmo, na individualidade. Afinal, o amadurecimento
psicológico-emocional é fator preponderante para o equilíbrio diante dos
gigantescos desafios de viver em harmonia. Especialmente se pensarmos na velha
questão do auto encontro, pois que muitos de nós nos esmeramos em diversas
atividades para além da própria intimidade, auxiliando muita gente,
distribuindo conhecimento, e nos esquecemos de auxiliar a nós mesmos.
A maior tarefa é da auto educação, do
auto aprimoramento. Somos pródigos no aconselhamento para terceiros e nos
debatemos em aflições quando as adversidades nos atingem diretamente,
esquecendo-nos de que o que falamos deveríamos usar primeiro em favor próprio,
equilibrando as próprias emoções.
Dentre os fatores do dinamismo da vida
está a transformação trazida pelo fenômeno biológico da morte. É um fenômeno
natural, integrante desse processo todo, uma vez que somos mortais apenas no
corpo, pois que imortais como seres inteligentes. As conquistas e dificuldades
continuam, pois. Ela, a morte, não anula, nem simplifica as dificuldades, uma
vez que levamos o equilíbrio ou a desarmonia interior, conosco. Uma vida moral
e emocionalmente equilibrada desde já resultará num espírito desencarnado
também equilibrado. Uma mente, por sua vez, emocional e moralmente
desequilibrada, levará para a vida espiritual um indivíduo desequilibrado,
requerendo as mesmas providências que nos são exigidas continuamente durante a
vida corpórea.
Tais reflexões são resultantes da
leitura do capítulo 15 – Os inimigos desencarnados, constante do
livro Tramas do Destino, edição FEB, na psicografia de Divaldo
Franco e de autoria do Espírito Manoel Philomeno de Miranda. Afirma o autor no
citado capítulo:
“(...) Não sendo a morte outra coisa
senão um instrumento da vida estuante em toda parte, a desencarnação não anula,
nem simplifica as dificuldades. Cada um se desenovela dos liames físicos
consoante a força vitalizadora de que se utilizava na sua sustentação.
Transferem-se de uma para a outra posição da realidade espiritual os
sentimentos cultivados, as aspirações irrealizadas, as fixações, os resíduos
morais. (...) Cada um desencarna conforme se encontra reencarnado. Os conflitos
não equacionados, como os ódios e os amores, prosseguem com maior volúpia.
(...)”.
Por isso é importante o esforço desde
já no equacionamento dos conflitos que ainda trazemos, nos distúrbios
emocionais e psicológicos, arejando a mente com os recursos valiosos da alegria
de viver, da confiança em Deus, da resignação ativa e do trabalho no bem. E
isso pode começar com uma virtude sempre esquecida: a gratidão. Sim, a
gratidão, que é valioso ponto de apoio ou alavanca incomparável para início
dessa trajetória de progresso. Aprendermos a agradecer. Há muitas razões para
isso, basta parar para pensar um pouco...
Por isso, a valiosa informação no mesmo
capítulo: “(...) O conhecimento da vida espiritual representa valiosa aquisição
para a responsabilidade e a ascensão do indivíduo (...)”.
A ascensão e a responsabilidade
individuais são conquistas da alma, determinadas pela Sabedoria Divina, por
meio da Lei do Progresso.
Viver é, pois, prosseguir aprendendo.
Muitos, diante dos desafios, desejam fugir da vida e dos desafios. Alguns se
entregam ao equívoco do suicídio ou à perda do encantamento pelas maravilhas da
vida e suas riquezas. Não adianta. A lei da vida é dinâmica e nos determina o
progresso contínuo. Por isso, acionemos a poderosa alavanca da vontade,
levantemo-nos de nossas fraquezas e sigamos adiante. A morte não muda o que
somos, e como diz o autor espiritual na obra em referência, não anula nem
simplifica as dificuldades. Essas deverão ser superadas com o contínuo
aprendizado decorrente dos enfrentamentos inevitáveis da evolução.
Com a clareza do pensamento
espírita, nossa gratidão à fabulosa e incomparável obra da Codificação
Espírita, de Allan Kardec.