Negadores do Mundo dos Espíritos
Negadores do Mundo dos Espíritos
Orson Peter Carrara
Uma série de comunicações ditadas à Sociedade Espírita de
Paris, entre 1862 e 1863, assinadas por Galileu e com o título Estudos
Uranográficos, foi reunida no capítulo VI – Uranografia Geral, em A
Gênese. Com vários subtítulos, dividindo as matérias, em 61 itens,
constitui precioso conteúdo a ser sempre consultado.
Chamou-me atenção a expressão que aqui utilizo como título,
em Nota de Rodapé, do próprio Codificador, em destaque para o item 8 no
início do subtítulo As Leis e As Forças. Referido item cita a abundante
vida do fundo dos oceanos, levantando a hipótese dos seres que o habitam, se recebessem,
de repente, o dom da inteligência ou a faculdade de estudar seu próprio mundo.
Isso faria, naturalmente, que formasse uma ideia da criação, da vida e seus
desdobramentos, o que se ampliaria ainda mais se chegasse à superfície e
pudesse igualmente observar o mundo que se abre além do mundo marítimo,
observando o sol, as plantas, o ar e tudo mais que vive fora do ambiente que
fora acostumado e conhecia. O autor espiritual comenta que haveria um
deslumbramento e uma gigantesca ampliação em sua visão de vida, antes restrita
ao ambiente em que vivia, alterando a noção que alimentava sobre a criação, a
vida, em teorias que se modificariam imediatamente, ainda que não pudesse
compreender.
Cairiam por terra as teorias antes criadas para tentar
explicar a vida e seus fenômenos. A dúvida, agora maior, continuaria exigindo
novas pesquisas e melhor conhecimento.
E afirma: “(...) Tal é, ó homens, a imagem de vossa ciência
toda especulativa (...)”. É quando Kardec traz a Nota de Rodapé. Em outras
palavras, no raciocínio que se pode cogitar. Nossa ciência, apesar de todos os
avanços, ainda é muito limitada, no exemplo trazido. O progresso contínuo vai
alterando o que antes era considerado verdade, constantemente, apesar das bases
já estabelecidas e conquistadas. Somos ainda muito limitados.
E Kardec, com sua lucidez, na citada “Nota”, acrescenta:
“Tal é, também, a situação dos negadores do mundo dos Espíritos, quando, depois
de se despojarem do seu envoltório carnal, os horizontes desse mundo se expõem
aos seus olhos. Compreendem, então, o vazio das teorias pelas quais pretendiam
tudo explicar unicamente com a matéria. Entretanto, esses horizontes têm, para
eles, mistérios que não se revelam senão sucessivamente, à medida que se elevam
pela depuração. Mas, desde os seus primeiros passos, nesse mundo novo, são
forçados a reconhecerem a sua cegueira e o quanto estavam longe da verdade.”
É uma constatação irreversível. Todos a encontraremos. Mais
cedo ou mais tarde nos depararemos com nossa própria realidade imortal, num
mundo que se abre sem cessar com novas perspectivas que nem imaginamos.
E nós aqui ficamos a levantar teorias, a defender esse ou
aquele ponto de vista (aliás, bem precários e limitados), esquecendo-nos de
aprofundar o estudo doutrinário do Espiritismo, motivação essa sim que deveria
nos mover a bem de nosso próprio aperfeiçoamento e do progresso coletivo.
Perdemos muito tempo com disputas dispensáveis, esquecendo o
foco principal e objetivo do Espiritismo: nossa melhora moral. Breve estaremos
defrontados com a própria consciência, o que nos fará calar a própria
arrogância. E o mais grave: consideramo-nos adeptos do Espiritismo, esquecendo
nossa própria limitação e carência, desejando fechar questão com pontos que nos
escapam completamente e que só o tempo nos fará conhecer com exatidão.
Por isso busquemos o Mestre, em virtude que ainda não temos,
convenhamos: “Bem-aventurados aqueles que têm puro o coração”.
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