Diante da Suprema Justiça
Por
flechadas ou por metralhadora
Orson Peter Carrara
Diante das Leis Divinas, a conduta individual é o critério
que mantém distanciados os protagonistas de crimes, detentores de virtudes, os
que amam a ociosidade ou o trabalho ativo constante, os que procuram a verdade
e os que usam a falsidade, ou ainda os que cultivam a boa vontade ou a
indiferença. No portal da morte, a distinção de chegada ou acolhimento e
“hospedagem” é definida pela moralidade ou pelos esforços nessa direção.
Afinal, diariamente, aos milhares, partem da Terra, homens
bons e generosos, perversos e manipuladores, malfeitores, diligentes e
preguiçosos, ignorantes e sábios, omissos e cruéis.
Tais raciocínios retiramos da lúcida apresentação do livro No
Mundo Maior (da série de livros ditadas pelo Espírito André Luiz,
psicografia de Chico Xavier), no prefácio Na Jornada evolutiva, por
Emmanuel, datada de 25 de março de 1947.
O autor pondera sobre a enorme quantidade de almas – nas
mais diferentes condições morais, intelectuais, psicológicas e emocionais –,
que diariamente deixam o planeta, retornando ao mundo espiritual. Não só pelas
condições já citadas, mas também pelos feitos deixados, pelas bagagens de suas
atitudes e inciativas, nem sempre louváveis ou respeitáveis. Ao lado, claro, de
almas nobres, ativas no bem, autênticas benfeitoras no ambiente onde viveram,
influenciando positivamente pessoas ao seu redor ou toda uma coletividade ou
mesmo a Humanidade inteira. Pais e mães, empresários e empregados, artistas,
intelectuais, religiosos, trabalhadores do bem ou almas vinculadas ao crime e à
agressividade variada ainda existente no planeta. E faz a pergunta: “(...) Onde
albergar a estranha e infinita caravana? (...)”
E acrescenta com sabedoria: “(...) Como avaliar por bitola
única recipientes heterogêneos? (...)”. Como estamos tratando da Suprema
Justiça, há que se considerar que a Justiça Perfeita não concede privilégios,
nem tem preferências. Igualmente, porém, todos merecedores da Grandeza e
Proteção de Deus! Mas cada um deverá construir por si mesmo os próprios
méritos. E os estágios individuais definem os ambientes.
É curioso que se colocarmos frente a frente o selvagem
agressivo que se defende e o intelectual que manipula, como ficamos? Aí a
Justiça Divina novamente se faz presente com clareza e imparcialidade. Vejam
que trecho notável da já citada Apresentação de Emmanuel:
“(...) O selvagem que haja eliminado os semelhantes, a
flechadas, teria recebido no mundo as mesmas oportunidades de aprender que
felicitam o europeu supercivilizado, que extermina o próximo à metralhadora?
Estariam ambos preparados ao ingresso definitivo no paraíso de bem-aventuranças
infindável tão somente pelo batismo simbólico ou graças a tardio arrependimento
no leito de morte? (...)”.
Considerando as guerras, que teimam em permanecer no cenário
do mundo, o texto é de grande atualidade e repleto de reflexões muito
pertinentes à velha questão da justiça e ao processo de evolução do espírito
humano.
Quase concluindo, assevera o autor: “(...) A morte a ninguém
propiciará passaporte gratuito para a ventura celeste. Nunca promoverá
compulsoriamente homens a anjos. Cada criatura transporá essa aduana da
eternidade com a exclusiva bagagem do que houver semeado, e aprenderá que a
ordem e a hierarquia, a paz do trabalho edificante, são característicos
imutáveis da Lei, em toda parte (...)”.
Raciocínios deste porte indicam consulta ao livro O Céu e
o Inferno no magnífico texto Código Penal da Vida Futura, onde
podemos ampliar o sentido da Lei de Causa e Efeito.
É muito saudável acompanhar o raciocínio do autor
espiritual. Sempre se aprende muito com a sabedoria do conhecido Espírito. Em
determinado ponto do texto ele também se refere ao estranhamento com as
descrições de André Luiz e por isso destaca: “(...) A missão de André Luiz é,
porém, a de revelar os tesouros de que somos herdeiros felizes na Eternidade,
riquezas imperecíveis, em cuja posse jamais entraremos sem a indispensável
aquisição de Sabedoria e de Amor (...)”.
Para concluir e motivar o leitor a conhecer o texto na
íntegra, dada sua beleza literária/moral, ouso mais uma pequena transcrição: “(...)
aos crentes do favoritismo, presos à teia de velhas ilusões, ainda quando se
apresentem com os mais respeitáveis títulos, as afirmativas do emissário
fraternal provocarão descontentamento e perplexidade (...)”. Interessante o uso
da expressão “crentes do favoritismo”, ainda em pleno uso em nossos hábitos
humanos, infelizmente. “(...) É natural, porém: cada lavrador respira o ar do
campo que escolheu. (...)”, conclui Emmanuel antes do último parágrafo.
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