Justiça plena? Ainda não estamos nos respeitando mutuamente
Tribunal da consciência – Orson Peter Carrara
É aí, na consciência, que o verdadeiro tribunal de justiça
se estabelece. As precárias e mutáveis leis humanas vivem se alterando, por
motivos variados – desde como consequência da mudança de hábitos e costumes até
às adaptações para interesses variados –, com desdobramentos nem sempre éticos
e muitas vezes até raiando às incoerências e absurdos.
Nem é preciso alongar as argumentações. As interpretações
equivocadas, inclusive com requintes de vingança ou caprichos, e muitas vezes
adaptadas, que o cenário atual apresenta deixam escancaradas as necessidades do
quanto nos falta para uma justiça plena.
Vamos à obra básica O Livro dos Espíritos, norteamento
doutrinário incomparável:
Questão 875: Como
se pode definir a justiça?
“A justiça consiste em cada um respeitar os direitos dos demais.”
a) — Que é o que determina esses direitos?
“Duas coisas: a lei humana e a lei natural. Tendo os homens formulado leis
apropriadas a seus costumes e caracteres, elas estabeleceram direitos que podem
ter variado, com o progresso das luzes. Vede se hoje as vossas leis, sem serem
perfeitas, consagram os mesmos direitos que as da Idade Média. Entretanto,
esses direitos antiquados, que agora se vos afiguram monstruosos, pareciam
justos e naturais naquela época. Nem sempre, pois, é acorde com a justiça o
direito que os homens estabelecem. Ademais, este direito regula apenas
algumas relações sociais, quando é certo que, na vida particular, há uma
imensidade de atos unicamente da alçada do tribunal da consciência.”
Questão 876. Posto de parte o direito que a
lei humana consagra, qual a base da justiça, segundo a lei natural?
“Disse o Cristo: Queira cada um para os outros o que quereria para
si mesmo. No coração do homem imprimiu Deus a regra da verdadeira justiça,
fazendo que cada um deseje ver respeitados os seus direitos. Na incerteza de
como deva proceder com o seu semelhante, em dada circunstância, trate o homem
de saber como quereria que com ele procedessem, em circunstância idêntica.
Guia mais seguro do que a própria consciência não lhe podia Deus haver dado.”
Comentário do Codificador: Efetivamente, o critério da verdadeira justiça está
em querer cada um para os outros o que para si mesmo quereria, e não em querer
para si o que quereria para os outros, o que absolutamente não é a mesma coisa.
Não sendo natural que haja quem deseje o mal para si, desde que cada um tome
por modelo o seu desejo pessoal, é evidente que nunca ninguém desejará para o
seu semelhante senão o bem. Em todos os tempos e sob o império de todas as
crenças, sempre o homem se esforçou para que prevalecesse o seu direito
pessoal. A sublimidade da religião cristã está em que ela tomou o
direito pessoal por base do direito do próximo.
Os grifos são meus, que entrego à reflexão do leitor. As
deturpações ocorrem, pois, por nossa conta, individual ou coletiva. O tribunal
da consciência, todavia, cobrará a reparação. Não haverá castigo, mas severa
cobrança consciencial, que nos imporá retorno ao cenário onde aplicamos nossa
mediocridade, para corrigir e reparar os danos que causamos a nós, aos outros,
à coletividade.
A questão é mais séria que parece. O tema é oportuno no ano
que se lembra os 160 anos de O Céu e o Inferno, da Codificação Espírita.
Antes que as opiniões pessoais – sempre limitadas e
precárias – o sentido exato da justiça deve prevalecer, usando-se o
discernimento e o bom senso, para não cairmos nos prejuízos das seduções, que
iludem e provocam os extremos do fanatismo e da cegueira do raciocínio.
Afinal como indica a resposta dos Espíritos: Nem sempre,
pois, é acorde com a justiça o direito que os homens estabelecem. Observação
grave, não é mesmo leitor? Pois que a realidade atual mostra que não estamos
nos respeitando mutuamente nos direitos e deveres.
Estamos claramente nos lesando uns aos outros.
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