Além da Vida – Muito oportuno


 por Orson Peter Carrara

            Muito oportuno surgir em 2011 o notável filme Além da Vida. Embora com o mesmo nome de outra produção americana lançada em 2010, para que o leitor não se engane basta ficar atento. A produção a que nos referimos é com direção de Clint Eastwood e roteiro de Peter Morgan. No elenco estão Matt Damon, Cécile De France, Frankie e George McLaren. Acompanhe a sinopse: Alem da Vida conta a história de três pessoas que são perseguidas pela mortalidade em formas diferentes. Matt Damon é George, médium que não deseja mais participar de intervenções entre os dois mundos. Do outro lado do mundo, Marie (Cécile de France), é uma jornalista francesa que passou por uma experiência de quase-morte no tsunami ocorrido na Ásia, em 2004, e teve sua realidade abalada. E quando Marcus (Frankie/George McLaren),  garoto londrino, perde seu irmão gêmeo, a pessoa mais próxima de si, ele precisa desesperadamente de respostas. Cada um percorrerá um caminho em busca da verdade, suas vidas irão se cruzar, para sempre transformadas por aquilo que eles acreditam que deve existir na vida após a morte.
            Em meio a doces emoções com o caso dos dois irmãos gêmeos, que muito sensibilizam, e trilha sonora envolvente, o filme não aprofunda a questão da mediunidade – faculdade inerente à condição humana –, mas mostra bem o charlatanismo e os abusos decorrentes do desconhecimento dessa extraordinária potencialidade humana, ainda incompreendida e mal conduzida por grande parte da sociedade humana. Todavia, trata-se de uma belíssima produção. É surpreendente ver a capacidade do roteiro e direção em emocionar o público, utilizando-se de um tema ainda tabu e que somente agora desperta para os interesses da cultura humana.
            Ao mesmo tempo que emociona, o filme faz pensar sobre as velhas questões dos remorsos, arrependimentos e dificuldades de relacionamentos interferindo mesmo além da vida, pois que a morte não elimina os sentimentos, mas todos levamos conosco aquilo que vivemos e sentimos. Isso foi bem demonstrado na trama dos personagens.
            Mas é muito oportuna a produção porque vivemos o ano do sesquicentenário de O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, o maior tratado sobre mediunidade já publicado no planeta. Lançado em 15 de janeiro 1861, em Paris, a obra coloca a mediunidade como uma capacidade humana, que independe de sexo, crença, cultura, idade ou raça. Por outro lado, variável em intensidade e grau de manifestação ou percepção, ela existe como mecanismo de instrução e progresso humano, não devendo ser comercializada ou utilizada como ferramenta de exploração da credulidade humana, mas sim direcionada para o equilíbrio e o bem dos seres humanos. A obra elimina o misticismo e toda fantasia que a ignorância humana atrelou ao tema, mostrando-a com naturalidade, embasada cientificamente e, melhor, mostrando sua finalidade e objetivo.
            O fato final é que somos imortais. Levamos conosco as bagagens vivenciadas e, embora deixemos o corpo no fenômeno biológico da morte, permanecem vivos os sentimentos, as lembranças, os laços de afeto – que não se rompem –, tendo na mediunidade o instrumento de comunicação entre os dois lados de uma mesma vida. Orientando uso da faculdade e valorizando o aspecto moral dos relacionamentos, o Espiritismo vem demonstrar que ela, a mediunidade, não é sua invenção, não é exclusividade da prática espírita e tampouco é doença ou maldição, como interpreta o personagem do filme, mas simplesmente uma faculdade humana que deve ser conhecida e disciplinada para o bem. Ela existe desde que existe o ser humano, aprimora-se com o próprio progresso humano, mas reflete em sua prática o estágio sócio-cultural-moral de seus portadores. Daí a necessidade de conhecer para bem conduzir.
            Vá ver o filme, leitor, para meditar bastante no quanto nos falta ainda progredir, mas também para se emocionar com os dois irmãos gêmeos separados fisicamente por um acidente, mas que continuam a se comunicar...