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Ele é palestrante do Encontro Cairbar Schutel a ocorrer em Matão, nos dias 22 e 23 de setembro, comduas atividades, entrevistas e momentos de autógrafos.
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Eis a entrevista:
Entrevista: André Trigueiro*
(concedida à RIE – Revista
Internacional de Espiritismo, em maio de 2006)
Espiritismo e Ecologia
O jornalista e escritor
André Trigueiro, espírita, alerta para os perigos da degradação ambiental e
analisa a questão ecológica à luz da Doutrina Espírita.
André Trigueiro é
jornalista, pós-graduado em
Gestão Ambiental, professor e criador do curso de Jornalismo
Ambiental da PUC/RJ, Coordenador Editorial e um dos autores do livro Meio ambiente no século XXI (Editora
Sextante, 2003). Desde 1996 atua como repórter e apresentador do “Jornal das
Dez” da Globonews, canal de TV a cabo, onde também produziu, roteirizou e
apresentou programas especiais ligados à temática sócio-ambiental. Pela série
"Água: o desafio do século 21" (2003) recebeu o Prêmio Imprensa
Embratel de Televisão e o Prêmio Ethos - Responsabilidade Social, na categoria
Televisão. É comentarista da Rádio CBN (860 Kwz) onde apresenta aos sábados e
domingos o quadro "Mundo Sustentável". É consultor e articulista do
site www.ecopop.com.br e consultor do WWF. Presidiu o Júri da VI Edição do
Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental de Goiás. Sobre ecologia e
outros temas André concedeu à RIE a seguinte entrevista:
RIE — Quais são as
principais advertências e instruções dos Espíritos Superiores sobre a questão
ambiental?
André Trigueiro — É importante registrar que o trabalho de Codificação
realizado por Allan Kardec ocorreu no mesmo período em que a Revolução
Industrial determinava mudanças importantes na civilização ocidental do século
XIX. O aparecimento das fábricas com o uso progressivo de máquinas e
equipamentos movidos a carvão; novos focos de poluição ambiental; migrações em
massa do campo para a cidade; a demanda crescente de matéria-prima e energia; o
aparecimento da sociedade de consumo e a produção monumental de lixo. O cenário ainda não era de crise ambiental,
mas os efeitos colaterais desse modelo de desenvolvimento insustentável
apareceriam com força na segunda metade do século XX, após a Segunda Grande
Guerra. A literatura espírita traz
muitas informações importantes sobre a
questão ambiental. Para citar apenas alguns exemplos, começamos pela
pergunta 121 do livro “O Consolador”, psicografado por Chico Xavier, que vai
direto ao ponto: “O meio ambiente influi no Espírito?”, ao que Emmanuel
responde: “O Meio Ambiente em que a alma renasceu, muitas vezes constituiu
prova expiatória; com poderosas influências sobre a personalidade, faz-se
indispensável que o coração esclarecido coopere na sua transformação para o
bem, melhorando e elevando as condições materiais e morais de todos os que
vivem na sua zona de influência”. Joanna de Ângelis, no livro “Após a
Tempestade”, psicografado por Divaldo Franco no ano de 1972 ( quando a ONU
organizava em Estocolmo, na Suécia, a primeira Conferência Internacional sobre
Meio Ambiente Humano) observa no capítulo intitulado “Poluição e Psicosfera”
que “ Ecólogos do mundo inteiro preocupam-se com a poluição devastadora que
resulta de detritos superlativos atirados nos oceanos, rios, lagos e terras
“inúteis” (...). O programa para o saneamento de tão perigoso estado de coisas
já foi apresentado por Jesus, O Sublime Ecólogo, que em a Natureza,
preservando-a, abençoando-a, dela se utilizou, apresentando os métodos e as técnicas
da felicidade (...) estabelecendo as bases para o reino de amor e harmonia, sem
fim, sem dores, sem apreensões. No livro
“Atualidade do Pensamento Espírita”, também psicografado por Divaldo Franco,
Vianna de Carvalho reserva as questões 54 a 63 ao assunto “Ecologia”. Quando Kardec
afirmou que “o verdadeiro Espiritismo é aquele que encara a razão frente a
frente em todas as fases da humanidade”, selou o compromisso da doutrina
espírita de manter-se constantemente em sintonia com as novas descobertas da
ciência. E é justamente da comunidade científica que emerge o alerta que
estaríamos experimentando hoje uma crise ambiental sem precedentes na História.
O Espiritismo tem como contribuir em favor de um mundo onde o desenvolvimento
não seja sinônimo de destruição.
RIE — A resposta à
questão 705 de "O Livro dos Espíritos" diz que "A Terra
produziria sempre o necessário, se com o necessário soubesse o homem
contentar-se." O que é o consumismo, se vivemos numa sociedade de consumo?
André Trigueiro — É importante diferenciar “consumo” de “consumismo”. O
consumo é fundamental à vida. O “consumismo” degrada a vida. Quem se deixa
levar pelos apelos da publicidade na direção do consumo compulsivo, irracional
e irresponsável acelera a exaustão dos recursos naturais não renováveis
fundamentais à vida. É bom lembrar que todos os produtos demandam matéria-prima
e energia para existir. O planeta é um só, e se todos os seus habitantes
consumissem como um norte-americano ou um europeu seriam necessários mais
quatro planetas Terra. Alguns estudos revelam que a capacidade de o planeta
suprir as nossas atuais demandas de matéria-prima e energia já estaria defasada
em 20%. Mahatma Gandhi disse certa vez que “a Terra pode oferecer o suficiente
para satisfazer as necessidades de todos os homens, mas não a ganância de todos
os homens”. Não vejo nenhuma diferença entre o que disse Gandhi e a resposta
dada pelos Espíritos à pergunta 705 do L.E. Rever os atuais padrões de consumo
da humanidade — especialmente da parcela mais abastada concentrada no
hemisfério norte e nas ilhas de prosperidade do resto do mundo, como as classes
mais favorecidas das grandes cidades brasileiras — se impõe, como condição de
sobrevivência.
RIE — Alertam os Espíritos que o Espiritismo
contribui para o progresso destruindo uma das chagas da sociedade, que é o
materialismo (questão 799 de O Livro dos Espíritos). O que isso tem a ver com o
problema ambiental?
André Trigueiro — O consumismo poderia ser entendido como uma das
manifestações mais graves e preocupantes do materialismo. O apego à matéria se
revela no desejo insaciável de consumo de bens e de serviços, no deleite das
liquidações, na fascinação pelas vitrines, na rotineira preocupação em promover
festas de Natal repletas de presentes caros e guloseimas sem que o
aniversariante seja efetivamente lembrado, no entendimento de que ser feliz é
ter dinheiro para comprar tudo o que se quer. Sendo o consumismo um câncer que
destrói rápida e vorazmente os recursos naturais não renováveis fundamentais à
vida, fecha-se o ciclo do modelo suicida de desenvolvimento. Vejamos o exemplo
da água: para cada tonelada de aço são necessários 15 mil litros de água. Para
cada automóvel mil cilindradas, aproximadamente 5 mil litros de água. Para cada
quilo de arroz, 1.500
litros de água. Se o que consumimos é necessário,
justifica-se o uso. Se é para colecionar ostentar ou para reforçar a imagem de
pessoa “bem-sucedida e feliz”, agrava-se o desperdício.
RIE — Do ponto de vista
espírita, é possível conciliar o progresso tecnológico com a degradação
ambiental?
André Trigueiro — Avanço tecnológico não deve ser sinônimo de destruição. A boa
tecnologia deve ser aquela que está a serviço da vida, não da morte.
RIE — Com a transformação
da Terra em um planeta de regeneração, automaticamente o meio ambiente estará
equilibrado?
André Trigueiro — Não. É importante combater a passividade com que muitos
espíritas esperam essa transformação. No capítulo III do Evangelho Segundo o
Espiritismo, Santo Agostinho explica a transição de um mundo de provas e
expiações para um mundo de regeneração nos seguintes termos: neste novo
“mundo”, mesmo livre das paixões desordenadas, num clima de calma e repouso, a
humanidade ainda estará sujeita “às vicissitudes de que não estão isentos senão
os seres completamente desmaterializados; há ainda provas a suportar (...) e
que “nesses mundos, o homem ainda é falível, e o Espírito do mal não perdeu,
ali, completamente o seu império. Não avançar é recuar, e se não está firme no
caminho do bem, pode voltar a cair nos mundos de expiação, onde o esperam novas
e terríveis provas”. Ou seja, não há mágica no processo evolutivo: nós já somos
os construtores do mundo de regeneração, e, se não corrigirmos o rumo na direção
do desenvolvimento sustentável, prorrogaremos situações de desconforto já
amplamente diagnosticadas. Não é possível, portanto, esperar a chegada do mundo
de regeneração de braços cruzados. Até porque, sem os devidos méritos
evolutivos, boa parte de nós deverá retornar a esse mundo pelas portas da
reencarnação. Se ainda quisermos encontrar aqui estoques razoáveis de água
doce, ar puro, terra fértil, menos lixo e um clima estável — sem os flagelos previstos pela queima crescente
de petróleo, gás e carvão que agravam o efeito estufa – deveremos agir agora,
sem perda de tempo.
RIE — E por que falar
da água é tão importante hoje em dia?
André Trigueiro — No século passado a população do planeta dobrou e o
consumo de água doce foi multiplicado por seis. A agricultura consome atualmente
70% da água doce disponível no mundo. O resto do consumo se divide entre
indústria, comércio e residências. Há um enorme desperdício desse recurso
finito, escasso e cada vez mais raro. No Brasil, estima-se que pouco mais de 20%
dos esgotos recebam algum tipo de tratamento, o resto é lançado in natura nos
rios e córregos. No mundo, o último relatório da ONU divulgado recentemente
sobre o assunto informa que 1 bilhão e 100 milhões de pessoas não têm acesso
regular à água potável. O dobro disso não tem saneamento básico. O mesmo
relatório afirma que há água suficiente para todos, mas falta competência na
gestão dos recursos hídricos e há muita corrupção no processo. Estamos no
século XXI e não conseguimos ainda prover boa parte da humanidade desse recurso
fundamental à vida. Há que se discutir,
mobilizar e agir. Nada pode ser mais importante do que o acesso a água limpa.
RIE — De que forma as
energias alternativas ao petróleo podem contribuir para a melhoria da qualidade
ambiental?
André Trigueiro — Reduzindo as emissões de gases que saturam a atmosfera,
agravam o efeito estufa e causam o aquecimento global. A elevação da
temperatura média do planeta promove as mudanças climáticas e uma lista
interminável de anomalias que tornam a vida na Terra mais difícil. Além disso,
a queima progressiva de petróleo, gás e carvão provoca doenças respiratórias
que determinam a morte de aproximadamente 800 milhões de pessoas por ano. As
fontes de energia a partir do sol, do vento, da biomassa, do hidrogênio,
precisam ser multiplicadas e aprimoradas. Isso já está acontecendo
principalmente nos países do bloco europeu. O Brasil é a maior potência mundial
na área da hidroeletricidade, e também no uso de biocombustíveis como álcool
etanol e mais recentemente as oleoginosas.
RIE — O que realmente
está acontecendo na floresta amazônica? Ela é de fato o pulmão do mundo?
André Trigueiro — A Amazônia é na verdade o ar condicionado do planeta. As
florestas regulam o clima, a umidade, a recarga dos aqüíferos subterrâneos e,
em tempos de aquecimento global, é bom lembrar que as florestas estocam enormes
quantidades de carbono. Para crescer, uma árvore necessita de água, luz,
nutrientes do solo e carbono da atmosfera. Destruir a Amazônia significa promover,
de uma só vez, inúmeros estragos ambientais. Apesar de todos os esforços do
governo no sentido de estancar a perda de áreas verdes e de biodiversidade
naquela parte do planeta que corresponde à metade do território brasileiro, a
capilaridade da destruição é assustadora. Temo que a destruição esteja
ocorrendo num ritmo mais rápido do que a nossa capacidade de promover o
desenvolvimento sustentável na Amazônia, seguindo aquilo que Chico Mendes
morreu pregando: “Explorar a floresta em pé gera mais emprego e renda do que
devastada”.
RIE — O que cada pessoa
pode começar a fazer para ajudar a tornar este mundo menos poluído? Como não
esbanjar ou, pelo menos, esbanjar pouco os recursos naturais?
André Trigueiro — Nenhum esbanjamento é aceitável. Esbanjar remete ao uso
irresponsável dos recursos. Meio ambiente é sinônimo de cuidado, de
consciência. Sejamos cuidadosos com a nossa casa. Ela oferece o suficiente para
todos. Gostaria de citar mais uma vez Joanna de Ângelis, no livro “Após a
tempestade”, quando a veneranda afirma através da psicografia de Divaldo Franco
que a poluição que se vê no mundo tem origem dentro de nós: “A poluição mental
campeia livre, favorecendo o desbordar daquela de natureza moral, fator
primacial para as outras que são visíveis e assustadoras”. Os físicos quânticos
explicam que o universo se divide em redes de fenômenos que interagem e se
comunicam o tempo todo, numa relação de interdependência. Estamos todos
plugados na teia da vida, num universo onde não existe neutralidade: influenciamos
o Todo com nossas ações ou omissões. Que sejamos então ativos e conscientes na
construção de um mundo melhor e mais justo. Um mundo sustentável.
*André
Trigueiro é palestrante do EAC 2012 – Encontro Anual Cairbar Schutel, a ocorrer
em Matão nos dias 22 e 23 de setembro de 2012. Veja informações completas no
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