Conflitos e Grosserias
por Orson Peter Carrara
Os
conflitos humanos são de várias origens. Surgem da insegurança, do medo, da
timidez, mas também da aspereza, do comportamento rude, da agressividade das
palavras e mesmo do desrespeito à ordem ou às leis, à autoridade, à pessoa
humana, às instituições estabelecidas. Surgem também como efeito da calúnia e
da maledicência, mas não há dúvidas que
entre as principais causas estão a grosseria e a ganância, que geram violências
decorrentes do egoísmo e da prepotência sem freios.
Conheço um caso de um funcionário
que, tendo galgado um posto importante de comando numa grande empresa,
tornou-se um tirano. Agindo com tortura para chantagear colegas, fazendo
pressão desumana, separando casais de funcionários com transferências
arbitrárias, gritando com qualquer pessoa que lhe estivesse à frente e
simplesmente ignorando a condição humana dos demais funcionários,
transformou-se num autêntico monstro de agressividade, como se uma fera fosse.
Referido comportamento, suportado por anos, gerou-lhe uma onda de ódio das
pessoas atingidas pela sua arbitrariedade. Lembro que a definição da palavra
arbitrariedade é, entre outras, abuso de poder, capricho.
Esse
capricho em torturar criou clima de antipatia agressiva, gerou ódio como dito
acima a ele endereçado, o que lhe causou intenso sofrimento. Já não conseguia
levantar os braços e uma terrível enfermidade passou a corroer-lhe os
testículos. Procurou o médico, fez tratamentos, cirurgias e nada modificava o
quadro. Licenciou-se do trabalho para tratamento, até que alguém lhe chamou a
atenção de que o quadro doentio era conseqüência do comportamento truculento.
Percebeu a causa, mudou de vida, tentou reparar os equívocos e recuperou-se.
Mas foi um período longo de lutas e sofrimentos, para ele e para os atingidos
por seus caprichos doentios. Felizmente tudo passou.
Pode
não parecer, mas muitos desses comportamentos truculentos originam-se na
infância. Ou se já existe a tendência trazida na bagagem, essa fica estimulada
pelo exemplo e comportamento ou desatenção de pais e educadores. Quando os pais não corrigem as pequeninas
tendências agressivas ou vivem satisfazendo as vontades e caprichos daqueles
que iniciam o aprendizado da convivência, teremos no futuro adultos difíceis,
agressivos, egoístas e geradores de intensos quadros de sofrimento e tortura na
convivência social.
Corrigir
desleixos, não permitir palavreado vulgar ou agressivo, exigir atenção e
respeito com os mais velhos e com a ordem social, coibir vandalismos, disciplinar
horários e arrumação da própria cama ou guarda de brinquedos ou roupas, não
permitir abandono de meias, tênis, toalhas e roupas íntimas pela casa, entre
outras questões, desde a pequena infância, formarão adultos responsáveis,
dignos e mais fraternos, expulsando a violência de palavras e atos no
comportamento.
Não
nos damos conta, mas a violência que está no mundo surge da intimidade
familiar, dos tiranos que são formados diariamente pela invigilância dos pais
que vão permitindo exageros e condutas que bem poderia ser evitadas com a
disciplina do diálogo e da educação.
Fácil?
Não! Não mesmo! Os filhos trazem bagagens, nem sempre acessíveis aos pais. Não
são estes os únicos responsáveis, mas a parcela de contribuição que podem
oferecer para formar adultos seguros e responsáveis, dóceis e respeitadores, é
imensa.
Notem
os leitores um detalhe marcante: não nos damos conta, por exemplo, da
importância de solidificar a fé no coração infantil. Deixamos as crianças
entregues ao alheamento aos valores da fé, mantendo-as distantes do Evangelho.
Na idade adulta, isso fará tremenda falta. Diante dos embates naturais da vida,
sem os valores que confiam e agem, a tendência é usar a agressividade para se
defender, pois não há bagagem construída para esse enfrentamento. Aí nos
deparamos com os quadros que aí estão...
A
grosseria é incompatível com o progresso e com a ordem, com a harmonia para a
convivência. Dela resultam inúmeros conflitos que bem poderiam ser evitados.
Tratemos de nos disciplinar, pois há olhares atentos que nos tomam como
exemplo. Somos co-autores ou co-responsáveis pela violência que ainda impera no
mundo, a começar na intimidade familiar.
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