Especial afinação da sensibilidade
Orson Peter Carrara
Não
é doença, nem indício de desajuste mental ou emocional, embora possa ser
confundida como tal por apressados julgamentos. É apenas uma afinação especial
da sensibilidade. Como na música, somente funciona de maneira satisfatória o
instrumento que não apresenta rachaduras, cordas arrebentadas, desafinadas ou
qualidade duvidosa.
O
parágrafo que inicia o comentário da semana, com ligeira adaptação, é de
autoria do consagrado escritor Hermínio Miranda no livro Diversidade dos
Carismas. E prossegue o autor, com minhas adaptações e transcrições parciais
para compor o artigo: “(...) Alto preço em angústias, decepções e
desequilíbrios emocionais e mentais, perfeitamente evitáveis, é pago a cada
instante em consequência da desoladora ignorância em torno da questão (...). E
não poucos desajustes sérios ocorrem no próprio meio onde o conhecimento
inadequado, insuficiente ou distorcido acaba resultando em problema mais grave
do que a ignorância que busca informar-se de maneira correta. (...)”.
O fato patente é que se trata de uma
capacidade humana, não inventada ou imaginada ou mesmo sendo de detenção
exclusiva ou privilegiada desta ou daquela classe social, política ou
religiosa, de país, raça ou família. Sempre esteve presente na história humana,
manifestando-se de acordo com a cultura que cada época vai propiciando seu uso
e real entendimento.
Sempre
foi alvo de perseguições, humilhações e na época de maior ignorância da
história, seus protagonistas eram torturados, perseguidos, chamados de
feiticeiros e muitas vezes queimados vivos, como ocorreu com tantos nomes
ilustres, entre eles a notável Joanna D`Arc.
O
progresso, todavia, sendo irresistível, mudou o panorama daquela visão errônea
de fatos absolutamente naturais. As perseguições e humilhações foram
gradativamente sendo substituídas pelo estudo científico da questão, ao lado do
surgimento e continuidade natural dos fenômenos e pessoas com tais
possibilidades mais expressivas, resultando numa época nova de entendimento,
que substitui a ignorância pela cultura e pesquisa de um fenômeno real.
Hoje
tema de filmes, novelas e motivação de eventos, encontros, congressos e ampla
pesquisa científica neutra, fora mesmo do ambiente religioso – onde também se
estuda e se pesquisa o assunto com amplos resultados –, essa capacidade afinada
de perceber algo além da matéria densa é bem uma afinação da sensibilidade, na
feliz expressão do citado autor no livro em que experiências e casos são
relatados.
Basta
o leitor pensar na intuição. Tão valorizada atualmente e tão necessária, como
ela se enquadra na questão? Não é um bom tema para debate?
Pois
é! Ela é apenas um desdobramento ou correlata capacidade humana que se
desenvolve com o tempo, com o progresso da mentalidade geral do ser humano.
Falamos da mediunidade, a temida e perseguida capacidade que apenas é ponte
entre o mundo real e o mundo das ilusões que nos fazem nos perdermos por tão
pouco no pantanoso terreno das aquisições e dos títulos e bens que passam.
Deixemos
o preconceito de lado e convenhamos que há algo mais além do que nossos pobres
olhos mortais podem enxergar.
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