Mortes Coletivas

Orson Peter Carrara

O acidente com o ônibus na rodovia entre Ibitinga e Borborema, na última segunda-feira, traz à tona novamente a velha questão das mortes coletivas, que vez por outra atinge a sociedade humana, em quadros de profunda dor, especialmente face ao impacto das ocorrências.

Lembro-me, quando adolescente ainda, do pavoroso acidente que vitimou igualmente muitas pessoas em Mineiros do Tietê, chocando a cidade. Não é para menos. É muito doloroso, pois a dor é intensa para as famílias envolvidas e mesmo para todos nós que, embora não envolvidos diretamente, sofremos igualmente pelo impacto.

São fatos que, depois de ocorridos, não há o que se fazer, exceto buscarmos a Deus na aceitação do fato já consolidado, e usarmos a fé como principal instrumento de resignação frente à expressiva adversidade que esfacela famílias inteiras.

Essas forças para nos mantermos de pé e para continuar vivendo, busquemos na patente realidade de que somos imortais. Embora a dor inevitável, a vida não é o corpo. Estamos no corpo, mas não somos o corpo. Somos, antes, seres imortais utilizando temporariamente uma veste que utilizamos em nosso processo de aprendizado. Uma veste que envelhece, sofre acidentes, desgasta-se com o tempo e morre depois de um certo tempo, sendo devolvida porque não nos pertence.

Alguns, todavia, retornam mais cedo.  Por razões que nos escapam por enquanto, mas que saberemos mais tarde. Enfermidades, acidentes, bala perdida, velhice, quedas fatais, derrames ou infartos, tumores malignos ou outras causas, são apenas nomes que designam uma forma de voltar à origem comum, à realidade do que somos. O fato patente, todavia, é que não somos daqui, estamos aqui.

As causas estão na nossa necessidade de aprendizado que remontam no tempo e que no momento não temos condições de alcançar ou avaliar.

Para o enfrentamento, todavia, de situações tão dolorosas e mesmo traumáticas, é guardamos no coração o conforto da presença de Deus que nunca desampara seus filhos e que, se permite tais fatos, há razões de sua sabedoria que ainda não temos condições de compreender, mas que compreenderemos com grande extensão num tempo que virá.

Seja qual for a crença que adotamos, guardemos confiança em Deus. Os chamados mortos vivem. São seres imortais. Precisam de nossa resignação e aceitação no momento que também é difícil para eles, no impacto da separação. Nossa dor os atinge de maneira igualmente muito dolorida. Nossa aceitação, apesar da dor, suaviza-lhes os processos de readaptação à nova realidade.

Sim, eles vivem! A vida continua, é imortal. As causas de tais ocorrências estão perfeitamente enquadradas em nossas necessidades de aprendizado, que incluem as famílias. A dor é superlativa, bem o sabemos, e nosso dever de cristãos é vibrarmos em favor dessas famílias envolvidas pela dor da separação impactante de um acidente, como é o caso. A prece suaviza, acalma, fortalece.

Agora, em novembro, no chamado Dia de Finados, lembremo-nos: não há mortos em lugar algum. Os corpos são vestes emprestadas por algum tempo para nossa permanência nessa autêntica escola que é o planeta. Desfazem-se com o tempo.
É como o exemplo da roseira. As pétalas que caem pelo vento não são a rosa ou a planta que lhe faz surgir. A vida está na semente da planta, que sempre ressurge e refloresce. Somos a vida e não os corpos!

Ressurgimos continuamente, continuando nosso aprendizado e fazendo-nos cada vez mais felizes e unidos pelos laços do amor. Bendita Imortalidade, verdadeiro e imorredouro presente de Deus aos filhos!


Choremos, sim. De saudade, não de revolta. O amor nunca se separa! E a bondade de Deus nunca nos abandona. Por meios que desconhecemos, Deus permanece agindo... em nosso bem.

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