Sentido relativo
– Orson Peter Carrara
O ano de 2015 motivou a família
espírita mundial a comemorar, com alegria, os 150 anos de lançamento da obra O Céu e o Inferno, que estuda a Justiça
Divina à luz do Espiritismo. Não é para
menos, a obra é mesmo uma preciosidade, face aos esclarecimento de seus textos,
enriquecido que estão por depoimentos colhidos e selecionados por Kardec apresentando
a situação dos espíritos no plano espiritual e constantes da 2ª. parte da obra.
O livro é um desdobramento do Livro Quarto de O Livro dos Espíritos,
constituído de dois capítulos e
estendendo-se da 920 à última questão da obra que deu origem ao Espiritismo.
E é exatamente em O Livro dos Espíritos, na questão 1009,
incluída no subtítulo Duração das penas futuras, que encontramos o
questionamento de Kardec: “(...) as penas impostas não o seriam jamais pela
eternidade?”.
É que a velha crença do castigo
eterno borbulhava na mentalidade humana e hoje já se verifica – embora haja
posicionamentos ainda presentes nesse sentido – que a ideia do sofrimento
eterno era história ingênua para uma época de infância da mentalidade humana.
Aliás, diga-se de propósito que o livro O
Céu e o Inferno adentra a questão com sabedoria e profundidade.
O que nos chama atenção, todavia,
é que a questão em referência mereceu respostas de quatro sábios espíritos:
Santo Agostinho, Lammenais, Platão e Paulo, o Apóstolo, e ainda está acrescido
com texto complementar de Allan Kardec, o Codificador.
Nosso objetivo é chamar a atenção
do leitor para buscar a questão e suas lúcidas respostas, para estuda-las e
juntos ampliarmos nossas reflexões, face à sabedoria das considerações
apresentadas, o que seria impossível aqui no contexto de breve abordagem, pois
as respostas compõe material para um congresso de espiritismo só sobre a
questão 1009. Todavia, destacamos trechos preciosos a seguir:
a) De
Agostinho: “(...) Não há contradição em atribuir-lhe a bondade infinita
e a vingança infinita? (...) Ele não seria bom se consagrasse penas horríveis,
perpétuas, à maior parte de suas criaturas. (...) não é o sublime da virtude,
unida à bondade, fazer depender a duração das penas aos esforços do culpado
para se melhorar? (...)”. Refere-se o autor à bondade de Deus, naturalmente,
indagando, inclusive, o que seria a duração de uma vida de cem anos, em relação
à eternidade e mesmo considerando que interroguemos o bom senso se haveria
lógica na condenação perpétua por alguns momentos d erro. Sugiro ao leitor
meditar na resposta, lendo-a na íntegra diretamente na fonte;
b) De
Lammenais: “(...) Filhos pródigos, abandonai vosso exílio voluntário;
voltai vossos passos para a morada paterna: o pai vos estende os braços e
mantém-se sempre pronto para festejar vosso retorno à família.” Isso após pedir
que nos interessemos pelo combate por todos os meios para destruir a ideia da
eternidade das penas, pensamento contrário à justiça e à bondade de Deus;
c) De
Platão: “Guerras de palavras! (...) Não sabeis, pois, que o que
entendeis hoje por eternidade, os antigos não o entendiam como vós? (...) é no
sentido relativo que importa interpretar os textos sagrados. A eternidade das
penas, portanto, não é senão relativa e não absoluta. (...) Só Deus é eterno e
não poderia criar o mal eterno; sem isso seria preciso arrancar-lhe o mais
sublimes dos seus atributos: o soberano poder, porque não é soberanamente
poderoso quem pode criar um elemento destruidor de suas obras (...)”. Magnífica
a resposta de Platão, que endereçamos ao leitor;
d) De
Paulo, o Apóstolo: a resposta do espírito é tão grandiosa que comporta
uma abordagem exclusiva e fornece material para amplo estudo. Destacamos,
todavia, uma única frase, já no início da resposta: “Gravitar para a unidade
divina, tal é o destino da Humanidade. Para alcança-lo, três coisas são
necessárias: a justiça, o amor e a ciência; três coisas lhe são opostas e
contrárias: a ignorância, o ódio e a injustiça. (...)”. Gravitamos todos em
torno de Deus, que é causa de tudo e, incrível e extraordinário, é pensar que
Deus é unidade na diversidade que criou, estando em tudo. É o que mais
precisamos aprender: enxergar a paternidade divina! E vemos lá, assinalado pelo
espírito o que é necessário e o que é o oposto. Considere o leitor os desafios
da atualidade e não será difícil perceber os caminhos a que somos convidados a
trilhar e mesmo os desafios de enfrentamento natural por força de nossa atual
condição evolutiva.
Por isso a
velha questão das penas é meramente relativa! O grau de responsabilidade varia
de acordo com o conhecimento e não há castigos ou punições, há apenas
consequências. O “gravitar” citado por Paulo inclui o esforço pessoal que
precisa ser feito para alcançar os propósitos da evolução. Aprisionarmo-nos no
medo ou na crença dos castigos eternos é travar esse esforço. É, pois, no
sentido relativo que devem ser entendidas as chamadas penas impostas em
sofrimento no equivocado entendimento do chamado inferno, pois que os
sofrimentos e aflições aplicáveis em situações de lesões ou desrespeito às Leis
de Amor que regem a vida e o Universo, nada mais são que meras consequências e
nunca castigo. Consequências naturais geradas pelo desamor, pela desarmonia ou
pelo desrespeito ou indiferença às Leis de Deus. E a própria aplicação da palavra
eternidade é resultado da relatividade do conhecimento no tempo. Não somos
eternos, somos imortais. Eterno é atributo de Deus. Nós, seus filhos, suas
criaturas, somos imortais. Nunca teremos fim, mas fomos criados um dia, tivemos
um início. Por isso devemos entender as questões dentro de sua relatividade.
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