Estruturado sobre a experiência e a observação dos fatos
Orson Peter Carrara – orsonpeter92@gmail.com
Com o título Livre-Pensamento e Livre-Consciência, Allan Kardec publicou em sua Revista Espírita, edição de fevereiro
de 1867, importante abordagem que se refere a duas classes de
livres-pensadores: os incrédulos e os crentes. Destacando trecho de um jornal
de um deles, discorre em seguida com grande propriedade sobre a velha questão
da crença e seus desdobramentos. A matéria completa é uma preciosidade e
indicamos com muita ênfase aos amigos leitores. Destacamos, porém, um pequeno
trecho onde a lucidez e a lógica dos argumentos traz importante contribuição
reflexiva:
R. E. 1867, fev/1867: «O Espiritismo é, como alguns o pensam, uma nova fé cega
substituindo a uma outra fé cega ou, dito de outra forma, uma escravidão do
pensamento sob uma nova forma? Para crer nisso seria preciso se ignorasse os
seus primeiros elementos. Com efeito, o Espiritismo coloca, em princípio, que
antes de crer é preciso compreender; ora, para compreender, é preciso usar de
seu julgamento; eis porque ele procura se dar conta de tudo em vez de nada
admitir, em saber o porquê e o como de cada coisa; (...) Ele não repousa sobre
nenhuma teoria preconcebida ou hipotética, mas sobre a experiência e a
observação dos fatos; em vez de dizer: «Creia em primeiro lugar e se puder compreenda
em seguida», ele diz: «Compreenda em primeiro lugar, e creia em seguida se você
quiser» Não se impõe à ninguém; diz a todos: «Veja, observe, compare e venha a
nós livremente se tal lhe convier». (...) O Espiritismo, procurando não
descartar nenhum dos concorrentes dentro da liça aberta às ideias que devem
prevalecer no mundo regenerado, está dentro das condições da verdadeira
liberdade de pensamento; e não admitindo nenhuma teoria que não seja
fundamentada sobre a observação, está, ao mesmo tempo, dentro daquelas de mais
rigoroso positivismo; enfim, tem sobre seus adversários, de opiniões contrárias
extremas, a vantagem da tolerância.”
Essa liberdade de análise,
aceitação ou não dos ensinos e princípios apresentados oferece grande segurança
aos que do Espiritismo se aproximam, como critério que nunca força e sempre
oferece oportunidade de conhecimento para julgar com precisão os próprios
fundamentos. Isso é verdadeira vacina preventiva contra decepções ou ilusões de
qualquer espécie, uma vez que incentivando de maneira expressiva o uso da
análise racional e oferecendo liberdade de aceitação ou recusa, fica para o
pesquisador ou mero observador a consciência de que – como pondera o
Codificador em seu texto – o Espiritismo “(...) não
repousa sobre nenhuma teoria preconcebida ou hipotética, mas sobre a
experiência e a observação dos fatos (...)”.
Convido o leitor a refletir maduramente sobre
essa observação. A estruturação doutrinária do Espiritismo está absolutamente
alicerçada sobre fatos observados e a experiência daí advinda. Que fatos,
poderia indagar o leitor comum? E respondemos, sem hesitação: no fato das
manifestações produzidas pelos espíritos, que são nada mais nada menos que os
seres humanos, portanto pensantes, que se manifestam aos chamados homens do
planeta, quando estão na dimensão extrafísica, seja antes ou depois da experiência
carnal no planeta.
Não é, por si só, um tema empolgante, para
pensar e conhecer ainda mais?