Tesouros da Revista Espírita
Orson Peter
Carrara
A Revista Espírita foi fundada por Allan Kardec em 1858 e esteve sob
sua direção até a data de seu retorno à Pátria verdadeira, em 1869. Eram
fascículos mensais, depois transformados em livros com cada volume reunindo as
publicações de cada no. Desta forma temos disponível atualmente essa coleção,
de 1858 a 1869, em doze volumes, e que se constitui num verdadeiro tesouro
doutrinário. O Codificador fez dela um verdadeiro laboratório de experiências,
reunindo matérias, reportagens, utilizando-se de correspondências que lhe
chegavam, de matérias publicadas pelos jornais da época contra e a favor do
Espiritismo, para ponderar doutrinariamente sobre fatos e ocorrências que
envolviam o desenvolvimento da Doutrina Espírita. Por isso pode-se dizer desse
tesouro que está à disposição para consultas, pesquisas e estudos que
proporcionam expressiva reflexão e ampliação do entendimento doutrinários dos
postulados trazidos pelo Espiritismo.
Da notável publicação, repetimos
em doze volumes, há muito o que buscar. Vez por outra é apreciável buscar algum
parágrafo, alguma matéria e dela extrair os valiosos ensinos, as ponderações
tão lúcidas do Codificador, os exemplos e raciocínios ali expostos para o
deleite intelectual do leitor.
Selecionei um desses trechos.
Está no volume de 1861, edição de dezembro, de onde extraímos parcialmente
considerações sobre a formação de novos grupos:
“(...) Uma das primeiras
condições, é a homogeneidade, sem a qual nele não poderia haver comunhão de
pensamentos. Uma reunião não pode ser nem estável, nem séria, se não houver
simpatia entre aqueles que a compõem; e não pode haver simpatia entre pessoas
que têm ideias divergentes e que fazem uma oposição surda, se ela não for
aberta. Longe de nós dizer com isso que é preciso abafar a discussão, uma vez
que, ao contrário, recomendamos o exame escrupuloso de todas as comunicações e
todos os fenômenos; está, pois, bem entendido que cada um pode, e deve, emitir
sua opinião; mas há pessoas que discutem para impor a sua e não para se
esclarecer. É contra o espírito de oposição sistemática que nos levantamos;
contra as ideias preconcebidas que não cedem mesmo diante da evidência. Tais
pessoas são, incontestavelmente, uma causa de perturbação que é preciso evitar.
As reuniões espíritas estão, a esse respeito, em condições excepcionais; o que
elas requerem, acima de tudo, é o recolhimento; ora, como se está recolhido
estando-se, a cada instante, distraído por uma polêmica acrimoniosa; se reina
entre os assistentes um sentimento de amargor, e quando se sente, ao redor de
si, seres que se sabe hostis, no rosto dos quais se lê o sarcasmo e o desdém
por tudo com que não concordam? (...)”.
Recomendamos aos leitores a
leitura integral do precioso documento que tem o título Organização do Espiritismo, diretamente no volume acima indicado.
Transcrevemos o valioso trecho em destaque apenas para despertar no leitor a
vontade de buscar o texto integral, pois que na curta transcrição há material
farto para estudo e reflexão, individual e em grupo.
Assim é a Revista Espírita, fonte inesgotável das ponderações sempre precisas
de Allan Kardec, o Codificador do Espiritismo.
E, interessante! Embora o trecho
em destaque refira-se à formação de grupos para estudo e prática espírita, o
texto vale também para os relacionamentos em geral. Quantos casos do cotidiano
humano ali não estão enquadrados e que diariamente se verificam? É a atualidade
do pensamento espírita, sempre cabível na complexa relação humana e suas tão
intensas variantes. Seja na família, na vida social, no trabalho, na conturbada
veia política do país, notem os leitores que o trecho expressa realmente um
grande necessidade de aprendizado coletivo.