Roque Jacintho
– Orson Peter Carrara
Jornalista,
contabilista e radialista, ministrou aulas de latim e português, escreveu
diversas obras voltadas às áreas de contabilidade, economia, fiscal e jurídica.
Em poucas linhas compactas, uma breve descrição biográfica desse notável escritor
espírita.
Roque Jacintho
nasceu em Sorocaba-SP, em 1928. Casou com Maria Dirce, uma filha, dois netos,
um bisneto. Publicou mais de 130 títulos de obras espíritas, sendo várias para
o público infantil, inclusive “O lobo mau reencarnado” – primeiro livro
espírita infantil do mundo –, que traduções para diversos idiomas, inclusive o
esperanto. Militante espírita desde os 11 anos de idade, seu primeiro poema foi
sobre reencarnação. Tendo residido em diversas cidades do estado de São Paulo,
incentivou os espíritas para atividades no campo da assistência social,
evangelização infantil e do Evangelho no Lar. Várias de suas obras foram
vertida para outros idiomas e fundou grupos espíritas em Jundiaí, São Paulo e
Diadema, cidade onde ocorreu sua desencarnação em 2004.
Relembrar esse
importante vulto da literatura espírita é decorrência de um de seus livros, no
caso o romance Rastros de Dor,
originariamente lançado pela editora LUZ NO LAR, do Núcleo de Estudos Espíritas
Amor e Esperança, da capital paulista.
O texto
romanceado, dividido em três partes, é daqueles que não se consegue parar de
ler, tal o envolvimento da história com o leitor, face às ocorrências objetivas
de seus personagens, os ensinos daí decorrentes e a percepção clara do
funcionamento das Leis Divinas, ao lado da constatação de nossas ainda
presentes imperfeições morais. Com enredo no século XVI, na Espanha e século XX
no Brasil, separados por um período no mundo espiritual, seus personagens vivem
os desdobramentos lamentáveis da Inquisição gerando efeitos no presente, com
aflições e oportunidades de refazimento. Em meio aos dramas vivenciados, a
emoção se faz presente pelo que o amor é capaz de fazer, inclusive envolvendo a
presença de um médium consciente nas tarefas do bem, que sofre perseguição e
morte, mas é aquele que trabalha pela recuperação moral de seus próprios
algozes.
Li o livro em
seis horas contínuas. Além da história envolvente e muito marcante, quatro
trechos me chamaram a atenção, razão da presente abordagem:
a)
No capítulo 11 da primeira parte, quando o
médium foi preso e arrastado aos cárceres, por ordem da Inquisição, o
personagem Domingues – diante das lamentações dos beneficiados de sua
mediunidade de cura – afirmou: “Lembre-se de Jesus! Não brade contra a
injustiça humana, a fim de que você não caia em desesperação”;
b)
Já no capítulo 22, da segunda parte, quando o
mesmo médium – agora em espírito, pois já habitava o plano espiritual – vai
resgatar seu próprio algoz que lhe sentenciara a morte em ser queimado vivo –
dirige-se àquele que mantinha o infeliz sacerdote prisioneiro por vingança e
diz: “Assim como acontecerá com cada um de nós, ele terá a oportunidade de
esquecer esta vida. Os maiores devedores sempre devem ser reconduzidos ao crivo
da vida nova, para que resgatem e se redimam de todos os seus enganos!”;
c)
E quase ao final do livro, no capítulo 35, da
última parte, num diálogo, uma mãe ouviu de sua benfeitora: “Os falidos também
tiveram mães, e, muitas dessas mães, na espiritualidade, buscam abrigos seguros
aos corações que sempre amaram e os querem vê-los redimidos.”;
d)
E finalmente (deixamos para o final,
propositalmente), no capítulo 23, quando agitados espíritos programam invasão
para perturbar os encarnados com motivação de vingança, um dos líderes
proclama: “Basta fazê-los descer a nosso nível mental, que o nosso
desequilíbrio se transferirá a eles e, assim, nós os faremos escravos de nossos
desejos e de nosso clamor de vingança!”.
Cada trecho
transcrito acima tem seu contexto na história, óbvio, todavia, note o leitor o
universo que se abre na reflexão de cada um dos trechos. Desde a resignação
diante das injustiças que vive o planeta com suas contradições morais, à benção
do esquecimento na reencarnação como recurso educativo, à presença da
misericórdia em favor da humanidade até a advertência da técnica utilizada
pelos espíritos obsessores, os trechos sugerem ampliar os raciocínios para
observar o que se passa com o momento histórico da humanidade e ao redobrar da
vigilância em nosso comportamento moral, individual e coletivo.
A obra é um
primor. Agradável de ler, motivadora ao estudo e reflexão e em especial
tocante. Em 288 páginas todo o vigor intelectual do conhecido escritor. Estava
esgotada e agora o IDE-Araras o reeditou em parceria com a LUZ NO LAR. Um
momento feliz para a literatura espírita, no resgate dessas valorosas obras que
não podem ficar esquecidas.