Parâmetro de advertência
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Orson Peter Carrara
Favorecido pela abertura do amigo, entrevistei em
determinada cidade, um frequentador comum de nossas instituições espíritas.
Jovem na idade e na atividade espírita, fez considerações importantes sobre sua
visão do movimento. Parece-nos uma advertência sincera e oportuna a todos nós,
dirigentes, palestrantes, coordenadores de estudos, recepcionistas, atendentes.
Não que tenhamos que concordar com tudo, até por força de circunstâncias
variadas e detalhes peculiares a cada local ou instituição, mas a leitura de
suas respostas levará a grave reflexão. O entrevistado preferiu não se
identificar. Respeitei sua decisão e apresento suas respostas aos
questionamentos que fizemos, e que foram resultantes de nossos diálogos
preliminares.
1 - Quais as impressões que lhe
causaram o conhecimento espírita? Não o
conhecimento dos espíritas, das casas e instituições com suas atividades, mas o
espiritismo mesmo, em seus fundamentos, em seu coração? Que tipo de impacto ou impressões
lhe trouxeram esse conhecimento?
Cresci fora da Doutrina Espírita e não sabia muito
o que esperar, não criei expectativas, apenas fui conhecer. O conhecimento me
libertou de algo que me consumia e que poderia chamar de obrigação e me mostrou
que a fé está longe de ser uma leitora de palavras, mostrou-me que é na
simplicidade que está a verdadeira fé, nas atitudes do dia-a-dia, no amor ao
próximo.
2 - E como você vê a programação
das instituições que trabalham em nome do Espiritismo?
Gosto muito da programação em mídias sociais,
especialmente as palestras disponíveis no youtube, que são canais que me atraem
pelo fato dos meus horários sempre corridos. As atividades das casas espíritas,
todavia, não me atrai muito pelo fato de faltar uma linguagem mais simples e
mais despojada.
3 - O que lhe causa mais
estranheza? Por que?
O que me causa mais estranheza é a
falta de palavras simples e amor. Tenho receio de chegar ao centro hoje porque
se tornou algo que temos por obrigação abaixar a cabeça e escutar. Acredito que
o conteúdo espírita abre um leque gigante de perguntas e seria muito
interessante poder participar mais, ter oportunidade de perguntar, debater
mais, participar.
4 - O que acha que realmente
falta? Por que?
Me faz imensa falta estar junto às
pessoas, falta o face a face das perguntas, do bate papo, do amor, da espontaneidade,
do riso, da alegria. Sinto falta porque isso está afastando muitas pessoas de
minha idade (estou na faixa dos 30 a 40 anos), pois a sensação que os
dirigentes e palestrantes, ou coordenadores de grupo, passam, é de uma doutrina
triste. Creio, pelo que já conheço, que o Espiritismo não veio apenas para
falar de morte ou sofrimento, ou aflições. Ele tem uma mensagem de esperança e
alegria, que não é repassado aos frequentadores. Por isso, em muitas
instituições, ele se tornou a doutrina da morte, apenas do consolo após a
morte. Mas e o agora da presente oportunidade? No meu entender da alma imortal,
com a vida que continua, não está faltando uma integração dessa continuidade
natural. Parece-nos pela maneira como está sendo conduzido que precisamos
chorar e temer. Infelizmente a mensagem de alegria e esperança, desde os dias
presentes – onde nos debatemos com tantos desafios – não está sendo passado.
5 - Embora você conheça o
Espiritismo na cidade onde reside, como sente o movimento em si pelo país,
pelas notícias que pode captar pela mídia impressa ou virtual?
Não consigo sentir. O movimento
espírita é de difícil acesso. Quando pesquiso algo, sinto que o Espiritismo é
uma doutrina que se esconde, embora eu saiba que não é vaidosa. Sei da força
que tem, que não precisa de holofotes, mas muitos daqueles que falam em seu
nome prezam esses holofotes. Gostaria que se mostrasse mais em ações e
iniciativas que o tornassem mais acessível ao grande público. Para que o
conheçam e o busquem não para saberem apenas da morte e seus desdobramentos,
mas especialmente por amarem a própria vida.
6 - O que acha das lideranças
espíritas?
Não sou a melhor pessoa para julgar
as lideranças espíritas, porém, gostariam que se espelhassem mais na
evangélica, nos sinceros líderes evangélicos, que se aproximam amorosamente do
público.
7 - E dos palestrantes que usam da
palavra para divulgar a ideia espíritas?
Na maioria das vezes e como eu
observo e escuto muitas pessoas ao meu redor....pessoas como eu .....a
divulgação ,palestras me deixam sem entender...usam muito teor TÉCNICO em meio
de pessoas simples que queriam apenas ouvir algo pra alegrar...vejo que as
palestras ondem envolvem músicas algo como teatro bate papo são as que mais
lotam...por ser de fácil entendimento e sentimento.
8 - E dos coordenadores de grupos
de estudos?
Falta humanidade, aquela de se
colocarem mais no lugar do próximo, que ali está ao lado deles.
9 - Se pudesse resumir seus
sentimentos ou impressões para sugerir aperfeiçoamento nas atividades dos
centros, o que diria em termos gerais?
Quando fui a primeira vez me senti
alegre de uma maneira inexplicável...fui recebida com sorrisos...a um amor
gigante. Ali me sentia preenchida e com isso enchia meu coração de alegria...as
atividades eram cheias ...mas faltou complemento tipo calor humano algo
que me deixasse mais perto do espiritismo...ao meu ver parece que o
espiritismo é apenas para os escolhidos....
10 - E na integração da criança e
do jovem nas atividades espíritas, o que considera importante?
Eu mudaria a forma de chamar esses jovens. Com
danças, cantos, teatros, fazer o Espiritismo chegar de outra forma, chegar
leve, sem cobrança, sem perfeição, apenas ser espírita.
11 - E da linguagem e tipos de
estudos utilizados nas preleções e grupos?
Precisa ser mais simples. Está muito
técnica.
12 - E para quem se aproxima agora
do Espiritismo, considera que a linguagem atende à expectativa? Por que?
Como já me referi, por ouvir muitas pessoas em meu
dia-a-dia, infelizmente acredito que a maioria procura um consolo pelas
aflições ou pela morte de entes queridos, mas em alguns casos dirigentes,
palestrantes e coordenadores de grupos de estudos está assustando as pessoas e
essas se afastam gradativamente.
13 - O que seu coração de dizer
aos espíritas?
Ame sem julgamento. Apenas ame. Na simplicidade é
que aprendemos e reconhecemos Jesus. O Espiritismo não é a salvação ou
pós/mestrado da inteligência religiosa. Ao contrário, o Espiritismo ainda é o
ensino fundamental, que consola, que conforta e orienta. Temos muito ainda a
aprender, com a prática, pouco com a teoria.
14 - E aos que agora se aproximam?
Espiritismo é amor, é aceitação, é
perdão, é fé no futuro. É fé na vida.
15 - E aos palestrantes?
Sorria nas palestras. Afinal estamos
ainda todos encarnados.
16 - E aos dirigentes?
Evitem julgamentos, isso só afasta as
pessoas.
Agora ficam conosco as reflexões
que queiramos fazer, aproveitando ou não os parâmetros citados.
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