Espírito de Sistema
– Orson Peter Carrara
A palavra sistema é bastante
utilizada atualmente, representando um conjunto de programas que executam
tarefas definidas em sua programação de trabalho, especialmente considerando a
realidade virtual, hoje totalmente expandida nos diversos segmentos sociais.
Por outro lado, também pode
representar um padrão de condução de uma empresa, ou um sistema de vida,
pessoal ou familiar, com critérios escolhidos livremente, como bem sabemos da
condição humana e seus variados comportamentos, suas múltiplas escolhas. Em
síntese, podemos dizer que é uma maneira de se conduzir, transformando-se em
hábitos ou costumes, que acabam estabelecendo padrões de comportamento,
saudáveis ou não.
No conhecido livro “Parábolas e
Ensinos de Jesus”, o ilustre Cairbar Schutel, no capítulo “O Espírito de
Sistema e as novas verdades” faz lúcidas referências às sucessivas e penosas
lutas das grandes personalidades humanas que transformaram o mundo, trazendo
progressos variados, mas que tiveram – todos eles enfrentaram resistência em
seu tempo – que lutar contra o “espírito de sistema”, ou esta mentalidade de
resistência às novas descobertas ou às mudanças de modelos ultrapassados. Isso
é histórico. É aquela mentalidade de desvalorizar esforços alheios, é aquela
posição de desprezo para com as pessoas que se destacam e pensam diferente do
modelo antes estabelecido.
Por suas ideias e projetos muitos
foram mortos, sacrificados, torturados, outros sacrificaram-se, imolaram-se no
isolamento e na renuncia silenciosa, para legar – todos eles – os esforços de
suas pesquisas, seus estudos, que ao longo do tempo, beneficiaram toda a
humanidade. Não foram compreendidos quando apresentaram suas ideias, quando as
divulgaram, sofrendo desprezos, humilhações, perseguições, morte, enfrentando
os poderosos de os matizes que outro interesse não tinha senão manter o padrão
estabelecido de que se beneficiavam.
E isso não mudou. A realidade
atual mostra isso. O egoísmo ainda nos domina e ainda permanecemos fechados e
irredutíveis aos pontos de vistas, aos sistemas a que nos escravizamos, nos
condicionamos, deixando-nos conduzir por automatismos deploráveis, sem dar
chance de abertura aos novos tempos, `às novas ideias, aos transformadores da
sofrida realidade social.
Mas novos clarões já se projetam,
pois, a Lei de Progresso é inevitável.
Afirma Schutel no primeiro
parágrafo de sua reflexão: “O mundo não tem progredido senão à custa de lutas e
sofrimentos. Todas, as novas descobertas, todas as grandes verdades, todos os
grandes homens não têm conseguido exercer a sua missão no nosso planeta senão
com grandes sacrifícios e depois de uma luta terrível contra o espírito de
ignorância, que ensombra todas as camadas sociais!”. E depois de valiosas
considerações (sugerimos ao leitor buscar o texto na íntegra), ele coloca com
propriedade:
“Cada jato de luz que vibra na
mansão das trevas agita os ignorantes sistemáticos, assim como os lampejos do
Sol alvoroça os morcegos e as corujas que só se comprazem com a noite.”
Não vou ficar nas transcrições,
quero estimular o leitor a buscar o texto integral. Ele conclui referindo-se à
luta das ideias espíritas frente à truculência das ideias materialistas,
gradativamente sendo vencidas pela clareza de uma realidade patente que hoje já
compreendemos.
Há uma frase, todavia, que chama
muito a atenção nessas lutas. E que motivou a presente abordagem. Considera o
benfeitor: “(...) a árvore dos bosques não cai ao primeiro golpe do machado; é
preciso muitas “machadadas” (...)”.
A comparação é belíssima nessas
lutas que nunca cessam. É preciso mesmo perseverar, prosseguir e dar as
constantes “machadadas” (a comparação em hipótese alguma é com a violência, mas
com o trabalho continuado) da perseverança que vai vencer o preconceito, o
orgulho, e especialmente o espírito de sistema, que teima em escravizar,
prender, coibir iniciativas ou impedir o progresso e a felicidade, justamente
pela mentalidade de egoísmo que ainda nos domina e que nos faz esquecer a
solidariedade....
Mas como somos potencialmente
bons, esse quadro vai passar e conquistaremos com trabalho a dignidade que deve
nos caracterizar como filhos de Deus.