Opiniões nem sempre refletem o real conhecimento
Coerência de André Luiz – Orson Peter Carrara
Vez por outra surgem as contendas no movimento espírita,
oriundas de vários temas que nos ocupam a todos. Os pontos de vistas variados,
as interpretações apressadas ou precipitadas são responsáveis por isso, quando
falta o estudo, a pesquisa séria e profunda.
Conhecer devidamente é nosso dever; estudar é de nossa
responsabilidade individual, para bem entendermos aquilo que dizemos seguir,
para não cairmos nos equívocos de informações descabidas ou pontos de vistas
pessoais, que meramente, convenhamos, são secundários.
A questão das informações trazidas pelo Espírito que se
identificou como André Luiz, pela mediunidade de Chico Xavier, entra nesse
contexto de questionamentos e confrontos, rejeitada por alguns, com os
desdobramentos na disputa e divergência de entendimentos. Natural até que isso
ocorra, dada nossa liberdade de expressão, que deve ser respeitada. Porém, tais
discussões caem no vazio, quando nos defrontamos na clareza de Kardec. Nem vou
citar outros autores (são muitos, inclusive o Reverendo Vale Owen, que não era
espírita), todos com descrições que em nada confrontam com a Codificação. Fico
só com Kardec, porque aí estamos trazendo a fonte original da Codificação.
Leiamos atentamente:
Em O Livro dos Espíritos, questão 234:
Há, de fato, como já foi dito, mundos que servem de
estações e de pontos de repouso aos Espíritos errantes?
Sim, há mundos particularmente destinados aos seres
errantes, mundos que lhes podem servir de habitação temporária, espécies de
bivaques, de campos onde descansem de uma demasiado longa erraticidade, estado
este sempre um tanto penoso. São, entre os outros mundos, posições intermédias,
graduadas de acordo com a natureza dos Espíritos que a elas podem ter acesso e
onde eles gozam de maior ou menor bem-estar.
Destacamos: particularmente destinados aos seres errantes
(...) São entre os outros mundos, posições intermédias, graduadas de acordo com
a natureza dos Espíritos (...).
Busque-se ainda a Revista Espírita, de maio de 1865,
na matéria Sobre as Criações Fluídicas, assinada por Mesmer: (...) O
mundo dos invisíveis é como o vosso. Em vez de ser material e grosseiro, ele é
fluídico, etéreo, da natureza do perispírito, que é o verdadeiro corpo do
Espírito, haurido nesses meios moleculares, como o vosso se forma de coisas
mais palpáveis, tangíveis, materiais. O mundo dos Espíritos não é um reflexo do
vosso; o vosso é que é uma imagem grosseira e muito imperfeita do reino de
além-túmulo. (...).
A partir da solidez dessas duas transcrições, a primeira
básica e a segunda como informação adicional, pode-se a partir daí fazer-se a
natural comparação com as informações de Yvonne, por exemplo, que detalhou
estruturas do mundo espiritual, o próprio André Luiz, e mesmo as informações
outras vindas por Divaldo, Raul e também pelo próprio Chico.
Parece-nos, todavia, que só a questão 234, acima citada e
transcrita, já resolve a questão controversa, se estudada com a devida atenção.
Aí já se pode dispensar discussões dispensáveis, pontos de vistas ou opiniões
secundárias que não resistem à lógica e sensatez que o conhecimento espírita
oferece.
Vale acrescentar, todavia, que em A Gênese – em seu capítulo VI – Uranografia Geral, Kardec reuniu uma
série de comunicações ditadas à Sociedade Espírita de Paris, entre
1862 e 1863, assinadas por Galileu, com vários subtítulos, dividindo as
matérias em 61 itens, constituindo precioso conteúdo a ser sempre consultado.
No item 8,
início do subtítulo As Leis e As Forças, o autor cita a abundante
vida do fundo dos oceanos, levantando a hipótese dos seres que o habitam, se
recebessem, de repente, o dom da inteligência ou a faculdade de estudar seu
próprio mundo. Isso faria, naturalmente, que formasse uma ideia da criação, da
vida e seus desdobramentos, o que se ampliaria ainda mais se chegasse à superfície
e pudesse igualmente observar o mundo que se abre além do mundo marítimo,
observando o sol, as plantas, o ar e tudo mais que vive fora do ambiente que
fora acostumado e conhecia. O autor espiritual comenta que haveria um
deslumbramento e uma gigantesca ampliação em sua visão de vida, antes restrita
ao ambiente em que vivia, alterando a noção que alimentava sobre a criação, a
vida, em teorias que se modificariam imediatamente, ainda que não pudesse
compreender.
Cairiam por
terra as teorias antes criadas para tentar explicar a vida e seus fenômenos. A
dúvida, agora maior, continuaria exigindo novas pesquisas e melhor
conhecimento.
E afirma
Galileu: “(...) Tal é, ó homens, a imagem de vossa ciência toda especulativa
(...)” (é quando Kardec traz uma Nota de Rodapé). Em outras palavras, no raciocínio que se pode
cogitar. Nossa ciência, apesar de todos os avanços, ainda é muito limitada, no
exemplo trazido. O progresso contínuo vai alterando o que antes era considerado
verdade, constantemente, apesar das bases já estabelecidas e conquistadas.
Somos ainda muito limitados.
E Kardec,
com sua lucidez, na citada “Nota”, acrescenta: “Tal é, também, a situação dos
negadores do mundo dos Espíritos, quando, depois de se despojarem do seu
envoltório carnal, os horizontes desse mundo se expõem aos seus olhos.
Compreendem, então, o vazio das teorias pelas quais pretendiam tudo explicar
unicamente com a matéria. Entretanto, esses horizontes têm, para eles,
mistérios que não se revelam senão sucessivamente, à medida que se elevam pela
depuração (...)”.
Embora o raciocínio aqui se aplique aos negadores do mundo
espiritual (aqui entendido os materialistas) em si, a comparação vale também
para os negadores das informações de André Luiz.
Precisamos só reconhecer que nosso conhecimento é muito limitado e
nossas opiniões são sempre opiniões...
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