E os que abusam do poder?
Abusos de poder, de autoridade ou quaisquer outros
Orson Peter Carrara
Não se assuste o leitor com o momento complexo da
atualidade, dentro e fora do Brasil. Abusos e explorações de todo gênero
continuam a ocorrer, escancarando nossas necessidades que gritam aos nossos
próprios ouvidos e deixam à mostra nossa mediocridade moral.
A justiça humana, sempre falha e adaptável a variados
interesses, tem progresso muito lento e abre sempre brechas para fraudes,
equívocos e atendimento de interesses egoístas.
A Justiça Divina, todavia, perfeita, imutável e agindo sem
cessar, coloca cada um de nós no seu devido lugar, no tempo certo,
ensinando-nos a respeitar a vida.
Busque-se a clareza de três questões de O Livro dos
Espíritos, para percepção dessa sábia grandeza que dirige a vida e nos
conduz aos aprendizados que todos precisamos assimilar.
Valemo-nos de apenas três delas, embora o assunto nunca se
esgote. Pela clareza, transcrevemos na íntegra. A última selecionada é de uma
expressão impressionante para as ocorrências em curso. Acompanhe, trazendo o assunto à nossa
realidade atual:
Questão 273. Será possível que um homem de raça
civilizada reencarne, por expiação, numa raça de selvagens?
“É; mas depende do gênero da expiação. Um senhor
que tenha sido de grande crueldade para os seus escravos poderá, por sua vez,
tornar-se escravo e sofrer os maus tratos que infligiu a seus semelhantes. Um,
que em certa época exerceu o mando, pode, em nova existência, ter que obedecer
aos que se curvaram ante a sua vontade. Ser-lhe-á isso uma expiação, se ele
abusou do seu poder, e Deus poderia impô-la a ele. Também um Espírito bom pode
querer encarnar no seio de povos selvagens, ocupando posição influente, para
fazê-los progredir. Em tal caso, desempenha uma missão.”
Questão 684. Que se deve pensar dos que abusam de sua
autoridade, impondo a seus inferiores excessivo trabalho?
“Isso é uma das piores ações. Todo aquele que
tem o poder de mandar é responsável pelo excesso de trabalho que imponha a seus
inferiores, porquanto, assim fazendo, transgride a lei de Deus.”
Questão 807: Que se deve pensar dos que abusam da superioridade
de suas posições sociais, para, em proveito próprio, oprimir os fracos?
“Merecem anátema! Ai deles! Serão, a seu turno,
oprimidos: renascerão numa existência em que terão de sofrer
tudo o que tiverem feito sofrer aos outros.”
Estudando, todavia, a questão 807 (a última acima), no livro
Religião dos Espíritos (Chico/Emmanuel, edição FEB), o autor espiritual
amplia a questão com exemplos impressionantes que não deixam dúvidas para quem
aprofunde o assunto. Transcrevo na íntegra o capítulo 26 – Na Terra e no
Além. A mensagem foi transmitida na reunião pública de 13 de abril de 1959.
Interessado
em desfrutar vantagens transitórias no imediatismo da existência terrestre,
quase sempre o homem aspira à galhardia de apresentação e a porte distinto,
elegância e domínio, no quadro social em que se expressa; entretanto, conduzido
à Esfera Superior, pela influência renovadora da morte, identifica as próprias
deficiências, na tela dos compromissos inconfessáveis a que se junge, e implora
da Providência Divina determinados favores na reencarnação, que envolvem, de
perto, o suspirado aprimoramento para a Vida Maior.
É assim que cientistas famosos, a emergirem
da crueldade, rogam encarceramento na idiotia; políticos
hábeis, que abusaram das coletividades a que deviam proteção e defesa, suplicam
inibições cerebrais que os recolham a precioso ostracismo; administradores
dos bens públicos que não hesitaram em esvaziar os cofres do povo, a favor da
economia particular, solicitam raciocínio obtuso que lhes entrave a sagacidade
para o furto aparentemente legal; criminosos que
brandiram armas contra os semelhantes requisitam braços mutilados, assinando
aflitivas sentenças contra si mesmos; suicidas que
menosprezaram as concessões do Senhor, atendendo a deploráveis caprichos,
recorrem a organismos quebrados ou violentados no berço, para repararem as
faltas cometidas contra si mesmos; tribunos da
desordem pedem os embaraços da gaguez; artistas que
se aviltaram, arrastando emoções alheias às monstruosidades da sombra, invocam
a internação na cegueira física; caluniadores
eminentes, que não vacilaram no insulto ao próximo, requerem o martírio
silencioso dos surdos-mudos; desportistas eméritos e
bailarinos de prol, que envileceram os dons recebidos da Natureza, exoram
nervos doentes e glândulas deficitárias que os segreguem a distância de novas
quedas morais; traidores que expuseram corações
respeitáveis, no pelourinho da injúria, demandam a própria detenção no catre
dos paralíticos; mulheres que desertaram da excelsa missão
feminina, a se prostituírem na preguiça e na delinquência, solicitam moléstias
ocultas que lhes impeçam a expansão do sentimento enfermiço, e
expoentes da beleza e da graça que corromperam a perfeição corpórea,
convertendo-a em motivo para transgressões lamentáveis, requestam longos
estágios em quadros penfigosos que lhes desfigurem a forma, de modo a expiarem
nas chagas da presença inquietante as culpas ominosas que lhes agoniam os
pensamentos…
Ajudai-vos, assim, buscando no auxílio
constante aos outros o pagamento facilitado das dívidas do pretérito,
porquanto, amanhã, sereis na Espiritualidade as consciências que hoje somos,
abertas à fiscalização da Verdade, com a obrigação de conhecer em nós mesmos a
ulceração da treva e a carência da luz.
Nada
mais a acrescentar, senão sugerir ao leitor reler as questões acima e situá-las
no presente momento histórico da Humanidade.
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