Um médium extraordinário
Médium além de seu tempo
Orson Peter
Carrara – orsonpeter92@gmail.com
Resgatei das páginas da RIE – Revista
Internacional de Espiritismo, edição de dezembro de 2001, excelente
abordagem da querida amiga Yeda Hungria. Pela excelência da pesquisa, trazemos
aos amigos. É um trabalho para novamente ser divulgado, muita gente não conhece
esse caso da história mediúnica mundial.
Fica à sua disposição. Apesar de longo, merece ser lido. Ressalte-se
também que a citada publicação, fundada por Cairbar Schutel, completa seu
centenário de fundação no próximo mês de fevereiro de 2025.
EDGAR CAYCE - UM MÉDIUM ALÉM DE SEU TEMPO
Yeda
Hungria
Edgar Cayce foi o mais notável e o mais
documentado médium dos Estados Unidos. Era capaz, em transe inconsciente, de
diagnosticar doenças, indicar tratamentos e responder a qualquer pergunta.
Podia também identificar a aura humana e descrever as condições psicofísicas das
pessoas.
Cayce
nasceu em 18 de março de 1877, numa fazenda em Hopkinsville, Kentucky. Único
varão de uma família com cinco filhos, desde criança exibia sensibilidade além
dos cinco sentidos. Aos seis anos, contou aos pais que via e conversava com
parentes falecidos; aos treze, teve uma visão que o influenciaria para sempre:
apareceu-lhe o espírito de uma mulher que lhe indagou qual o seu maior desejo.
Era o de ajudar a todos, sobretudo, às crianças doentes.
A
partir de então, desenvolveu rara percepção. Bastava dormir sobre um livro
escolar ou documento que adquiria memória fotográfica do conteúdo, podendo
repetir palavra por palavra ou qualquer parte do texto.
Adolescente,
deixou a escola na oitava série para ajudar no sustento da família. Com a idade
de vinte anos empregou-se na livraria da cidade, quando conheceu e ficou noivo
de Gertrude Evans.
No
ano de 1900, foi acometido de paralisia nas cordas vocais e nos músculos da
garganta, ficando completamente sem voz. A despeito dos esforços médicos este
estado se prolongava por um ano. Conformara-se até em não mais poder falar,
indo, por isso, trabalhar como ajudante de fotógrafo.
Àquela
época, os espetáculos de hipnotismo em palcos estavam em moda e um artista de
nome Hart apresentava-se na cidade. Havia testemunhado curas sob hipnose e
ofereceu-se para ajudar Cayce. Na primeira sessão o paciente conseguiu falar,
mas somente hipnotizado. As sessões, entretanto, foram suspensas por lhe
causarem insônia.
Em
1901, um médico de Nova Iorque encorajou-o a prosseguir com as práticas de
hipnose para recuperar a voz, desde que essas práticas fornecessem também o
diagnóstico e o tratamento para o seu mal.
Convidou
então o amigo Al Layne, hipnotista e osteopata, para colocá-lo em transe.
Durante o sono revelou que a doença decorria de “uma situação psicológica
produzindo um efeito físico”. Esse efeito poderia ser removido no estado de
inconsciência, bastando um comando para normalizar a circulação sangüínea nas
áreas afetadas. Quando Cayce despertou, achava-se completamente curado.
Foi
a primeira das milhares de leituras –
assim chamadas as respostas - produzidas
ao longo de sua produtiva existência.
Cayce
descreveu o mecanismo de recepção da leitura.
Ao iniciar, afrouxava as roupas e deitava-se no sofá em seu escritório. Mãos
sobre a testa, “na região do terceiro olho” (plexo frontal), punha-se em
meditação. Aguardava poucos minutos, até identificar uma luz branca, algumas
vezes tendendo para dourado (quando não a via, não conseguia fornecer a leitura). As mãos iam ao plexo solar, a
respiração tornava-se profunda e rítmica por breves instantes. Os olhos
fechados começavam a piscar e se abriam lentamente. O acompanhante sabia,
então, que ele estava pronto para iniciar a leitura.
Se ela se referisse à saúde, lhe bastavam apenas o nome e o endereço do
consulente. Ele repetia-os vagarosamente até o paciente ser localizado, quando
iniciava a descrição dos sintomas. Em seguida, expunha o diagnóstico e o
tratamento. Cayce mantinha-se em total estado de inconsciência durante o
processo.
Um
médico homeopata, o dr. Wesley Ketchum, recém-chegado à cidade, quis testar-lhe
os talentos e procurou-o para confirmar sua apendicite. A leitura, no entanto, revelou resultado completamente diferente.
Cético, o dr. Ketchum recorreu a um colega, mas para sua surpresa, a informação
do sensitivo estava correta. O homeopata passou a solicitar-lhe diagnósticos
para seus casos difíceis...
No
mês de junho de 1903 Cayce casou-se com Gertrude Evans, e quatro anos depois
nasceu-lhes Hugh Lynn.
A
este, seguiu-se Milton Porter, em 1911, apresentando graves problemas de saúde.
A revelação da leitura que a doença era fatal transtornou-lhes a vida.
Após
a desencarnação do filho, Gertrude foi acometida de tuberculose, sem
possibilidade terapêutica, segundo os médicos. Cayce, orientado pelas leituras, preparou-lhe uma mistura de
ervas e alopáticos. Decorridos dois dias, ela sentia-se melhor. Ao cabo de
cinco meses curara-se completamente.
Em
1912, o dr. Hugo Münsterberg, da Universidade de Harvard, pesquisou o trabalho
de Cayce com o intuito de descobrir fraude. Concluída a investigação, o clínico
estava convencido da autenticidade e da eficácia das recomendações das leituras.
Cayce
obteve emprego como fotógrafo no Alabama e no ano seguinte comprou o estúdio
onde trabalhava.
A
quietude da vida lhe durou pouco. O filho Hugh Lynn, atingido no rosto pela
explosão de um ‘flash’ no estúdio, teve os olhos gravemente queimados. Devido à
extensão da lesão, os médicos recomendaram a retirada do olho direito. A leitura, entretanto, informou que a
cirurgia era desnecessária, porquanto a visão estava preservada. Foi indicada
uma medicação associada à prescrita pelos clínicos, repouso total no escuro,
olhos vendados durante duas semanas. Retirada a oclusão, Hugh Lynn voltou a
enxergar normalmente. Os jornais divulgaram mais essa cura. A fama de Cayce aumentava e dezenas de
pessoas começavam a procurá-lo.
Devido
ao crescente volume de leituras, foi
admitida, em 1923, a secretária Gladys Davis para estenografá-las.
De
1901 à 1923 as comunicações limitaram-se a diagnósticos e tratamentos de
doenças. Desde então passaram a abordar temas diversos, como reencarnação,
embora isso parecesse estranho à fé religiosa de Cayce. Após minucioso estudo e
interpretação da Bíblia – seu livro de cabeceira – convenceu-se de que a idéia
das vidas sucessivas não era incompatível com o Cristianismo.
Tais
comunicações, chamadas de “leituras da
Vida”, abordavam existências passadas, espiritualidade, meditação,
virtudes, leis naturais, civilizações antigas, filosofia, psicologia, história,
profecias, relações humanas, os anos desconhecidos da vida de Jesus, e outros.
A
reencarnação é apresentada como necessária ao aprimoramento do espírito, e a
causa das enfermidades encontra-se nas agressões às leis divinas em nosso
passado milenar.
O
crescimento espiritual era tema constante nas leituras. Enfatizava que somos seres espirituais, ligados a um
corpo físico a fim de aprender, evolver e compreender nossa verdadeira relação
com Deus. Para atingir esse crescimento devemos exercer a bondade, a
tolerância, a paciência, o amor enfim. A meditação e a prece eram descritas como práticas para aquietar a mente
e relaxar o corpo, focando a atenção para o nosso íntimo em busca da
auto-análise e da correção de rumo.
Esses
registros proporcionaram fascinante visão de algumas antigas civilizações. As
duas mais notáveis eram as da Atlântida e do Egito. Segundo Cayce, muitas das
tecnologias contemporâneas a ele eram, na verdade, a redescoberta de
conhecimentos e informações dos atlantes. Alguns deles, prevendo a destruição
do continente, emigraram para o Egito, que se tornou líder em programas sociais
e de transformação pessoal.
A
par da sua fama nacional surgiam céticos para tentar apontar fraudes, mas
acabavam por se render à evidência das leituras.
Um deles, Thomas Sugrue, convencido da realidade e da importância daquele
trabalho, culminou por lançar uma das melhores biografias do médium – There is a River – publicada em 1943, quando ainda vivia o biografado.
A despeito dos avisos para serem dadas somente
duas leituras por dia, a fim de
preservar a saúde, Cayce produzia até
oito delas. Sentia-se na obrigação de atender a todos que lhe pediam
ajuda.
No
início de1944 apresentava sinais de cansaço. No mês de setembro, acometido de
exaustão, recebeu o último aviso para que repousasse até o final de seus dias.
Decorrido pouco tempo, um derrame cerebral deixou-o parcialmente imobilizado.
Retornou
ao Mundo da Luz, aos 67 anos, em 3 de janeiro de 1945, dois dias após o
previsto por ele. Três meses depois seguiu-lhe a devotada esposa.
Cayce
produziu 14.256 leituras ao longo de
43 anos de intensa atividade dedicada ao esclarecimento e ao alívio do
sofrimento físico de mais de 10.000 pessoas. Jamais reivindicou qualquer
privilégio por seu trabalho nem se considerava um profeta. Suas leituras não pregavam a aceitação de uma
nova crença religiosa, apenas convidavam a experimentar os princípios nelas
expostos.
Sem
o conhecimento espírita, que lhe daria outra visão do fenômeno, as leituras para ele emanavam do
subconsciente do consulente e dos arquivos acásicos – fonte etérica constituída
dos pensamentos, palavras e ações produzidas na Terra.
Homem
profundamente espiritualizado, dizia que buscava sintonizar com a vontade de
Deus recorrendo constantemente à oração e doando-se ao próximo.
Nunca
foi tão atual e profética sua afirmação em 1932: “A Terra passa por um momento em que as
pessoas procuram em toda parte saber mais acerca dos mistérios da mente e da
alma.”
Interessante
é a identidade de princípios entre aspectos do ideário das leituras e os postulados da Doutrina Espírita, prova incontestável
da universalidade dos ensinos dos Seres de Luz...
Claudeen
Cowell, da Associação para a Pesquisa e o Conhecimento, onde se encontra
depositado o acervo de Cayce, declarou-nos que seus seguidores não o consideram
um médium e sim um “canal que se comunicava com os planos divinos”.
Para
nós, espíritas, no entanto, não resta qualquer dúvida quanto à atuação
medianímica de Edgar Cayce nas abençoadas leituras,
as quais entendemos como mensagens dos Benfeitores Espirituais.
A ASSOCIAÇÃO PARA A PESQUISA E O CONHECIMENTO
Nasceu
da realização de antigo sonho de Edgar Cayce de construir um hospital capaz de
fornecer os tratamentos indicados pelas leituras
e de proporcionar ajuda espiritual aos pacientes.
A
cidade balneária de Virginia Beach, no Estado da Virginia, foi o local
recomendado, para onde Cayce mudou-se em setembro de 1925 com a família e a
secretária Gladys Davis.
Após mal sucedida tentativa com alguns
sócios, alheios à natureza da sua missão, um empresário de Nova Iorque, Morton
Blumenthal, apresentou-se para financiar a obra.
Localizado em suave elevação, com vista
para o Oceano Atlântico, o Hospital Cayce foi inaugurado em novembro de 1928.
Médicos e técnicos qualificados produziam os medicamentos, conforme as
orientações das leituras, para os
pacientes que vinham de todo o país.
A despeito do sucesso inicial, o hospital
acabou por sofrer o impacto das crises causadas pela quebra da Bolsa americana e pela depressão
econômica resultante. Sem suporte financeiro encerrou as atividades em fevereiro
de 1931.
Em junho do mesmo ano, Cayce e um grupo de
amigos fundaram a Associação para a Pesquisa e o Conhecimento nas terras do
antigo hospital. Foi criada como uma organização sem fins lucrativos para
preservar, pesquisar e oferecer ao público os ensinos contidos nas leituras, entre eles, saúde holística,
percepção extra-sensorial, vida após a morte, espiritualização do homem,
desenvolvimento do potencial psíquico, e outros. Até hoje esses ideais são
perseguidos.
A Associação está localizada na rua 67,
número 215. Ocupa um amplo e moderno edifício com três pavimentos e confortáveis instalações.
Ao nível da rua, o estacionamento de veículos; à esquerda, repousante e
acolhedor bosque – o Jardim da Meditação - oferece momentos de silêncio e
reflexão. Mais além, o prédio do histórico hospital abriga o setor
administrativo, a Escola Cayce/Reilly de Massoterapia com diversos cursos e os
serviços de saúde baseados nas leituras.
O Centro de Visitantes, no primeiro andar
da Associação, dispõe de recepção, salão de conferências e livraria com títulos
sobre metafísica, saúde holística e os relacionados com as respostas de Cayce. Oferece também artigos para
presentes, calendários, fitas de vídeo e medicamentos produzidos segundo as leituras. Ainda no saguão, elevador e
escada conduzem aos pavimentos superiores.
No segundo andar funcionam diversos cursos
e uma grande biblioteca onde se encontram as leituras. A preservação delas se deve à dedicação e à competência da secretária Gladys Davis que as
classificou e catalogou, após a morte do médium, durante 26 anos, tornando-as acessíveis à consulta.
A biblioteca abriga ainda coleções de
obras sobre metafísica, incluindo saúde holística, psicologia, parapsicologia,
religião comparada, reencarnação etc.
Para nossa surpresa, encontramos
exemplares de O Livro dos Espíritos e O Livro
dos Médiuns, de Allan Kardec, em
espanhol, e O Homem dos Milagres
(biografia de Cayce), A Voz do Antigo
Egito, de F.V. Lorenz e Projeciologia,
de Waldo Vieira, todos em português.
No terceiro andar, um salão exclusivo para
meditação, transmite indescritível sensação de paz e elevação, resultantes da
psicosfera moldada pelos freqüentadores. Na parede frontal, amplo terraço
descortina exuberante panorama do Atlântico. À esquerda, artístico vitral
filtra em belas nuanças a luz do poente.
Na parede oposta, expressivo óleo de George Inness Jr. – “Viagem para o
Egito”- adotado por Cayce como símbolo para meditação e, ao lado, em suaves
tintas, a excelsa figura do Divino Mestre. Outras telas favorecem a reflexão e
a harmonia interior.
O ingresso nesse ambiente nos foi
permitido pela administração que, desde o início de nossa visitação, ao
declararmos nosso interesse e objetivo, mostrou-se extremamente cooperativa,
destacando funcionárias para nos assessorar.
Também em Virginia Beach funcionam a
Universidade Atlântica, com mestrado em estudos transpessoais; Instituto Edgar
Cayce para Estudos Intuitivos, dirigido ao desenvolvimento do potencial
psíquico; Programas para Jovens e Famílias, voltados para a dinâmica
educacional; Programa para Procura de Deus e Crescimento Espiritual, fórum onde
se discute o conteúdo das leituras e sua aplicação; Serviços de Preces,
constituído de grupos dedicados à oração e o Programa Além da Prisão, de apoio
espiritual aos internos, ajudando-os a entender suas realidades. Fornece também
livros edificantes para bibliotecas de estabelecimentos prisionais.
Após a desencarnação de Edgar Cayce, o
primogênito Hugh Lynn conduziu com sucesso os destinos da Associação,
dinamizando e expandindo mundialmente suas atividades.
Dirigida por Charles Thomas Cayce, neto do
fundador, é uma organização atuante e dinâmica, empenhada integralmente na
construção do homem espiritual, voltado para a exteriorização dos mais puros e
nobres sentimentos.
Edgar
Cayce, por sua vida e obra, foi realmente um médium muito além do seu tempo.
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