Prática espírita - decepções e dificuldades
Decepções
e dificuldades na prática espírita – Orson Peter Carrara
Quais as decepções que o leitor tem encontrado na vivência
espírita? Com o grupo a que se vincula? Com a instituição a que se filiou? Com
dirigentes, escritores, palestrantes ou médiuns?
E quais as principais dificuldades? São consigo mesmo, no
perceber mais claro das próprias percepções? Ou é com o grupo mediúnico? Ou com
o dirigente? Ou são oriundas de dúvidas?
Vejam quantos panoramas se abrem....
Mas o Codificador Allan Kardec afirma em O Livro dos
Médiuns, no primeiro parágrafo:
“Todos os dias a experiência nos traz a confirmação de que
as dificuldades e os desenganos, com que muitos topam na prática do
Espiritismo, se originam da ignorância dos princípios desta ciência (...)”.
É o caso de nos perguntarmos: temos conhecimento dos
princípios que orientam e sustentam o edifício doutrinário do Espiritismo?
Não temos que decorar, temos que saber, pois que destes
princípios se originam todos os demais desdobramentos.
Tal conhecimento nos previne de expectativas dispensáveis.
Ou seja, saberemos que os espíritos – estejam desencarnados ou encarnados –
estão em diferentes níveis evolutivos (tanto de intelecto, quanto de
moralidade) e por isso caracterizamo-nos todos de imperfeições que se
apresentam de diferentes maneiras, a depender da intensidade ou grau com que as
circunstâncias de dificuldades se apresentem.
Para citar um único exemplo será interessante sugerir ao
leitor que busque a Introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo,
em seu subtítulo II – Autoridade da Doutrina Espírita – Controle Universal
do ensinamento dos Espíritos, que é uma verdadeira vacina preventiva contra
enganos e decepções, pois que nos situa a todos como criaturas ainda em
aprendizado.
Em outras palavras, os espíritos não sabem tudo. Estão em
diferentes níveis de maturidade, portanto derruba-se aí expectativas que podem
frustrar alguém. No mesmo raciocínio enquadram-se os encarnados, também em
diferentes níveis de entendimento doutrinário, igualmente nos libertando de
expectativas que podem trazer decepções.
Quanto às dificuldades, são próprias de nossa condição
humana e deveremos estudar, pesquisar sempre, para melhor compreensão do
entendimento doutrinário em toda sua inteireza, inesgotável para abordagens,
estudos, pesquisas, reflexões.
Mesmo aquelas que possamos sentir na percepção intuitiva ou
mediúnica. Ou nas interpretações que ouvimos ou ecoam de nós mesmos.
Então é preciso conhecer, estudar.
Nenhum de nós está dispensando de estudar continuamente, de
prosseguir pesquisando. Isso faz superar dificuldades e prevenir decepções.
Essas deixam de existir quando compreendemos nossa própria limitação,
individual ou coletiva.
Valendo-me novamente da citação das Obras Básicas, vez por
outra é comum ouvir-se: Ah, eu já li esse livro há mais de 30 anos. É
uma afirmação incoerente, descabida. Se a pessoa leu há 30 anos, está
completamente desatualizada, face aos progressos da mentalidade humana, em
todas as direções, o que dá mais ampla percepção do conteúdo das obras.
Quando alguém também diz que: “sou médium há 30 anos e não
preciso estudar, já sei tudo isso aí...” pratica uma verdadeira agressão ao
conhecimento espírita, face à necessidade de permanente de estudar e
atualizar-se, pois sempre estamos descobrindo novos ângulos de abordagem e
análise na genialidade de Kardec.
Mas não é só com a questão mediúnica. É no contexto geral.
As dificuldades e decepções surgem exatamente pela falta de
reflexão sobre os postulados doutrinários. Muitos conceitos distorcidos são
falados ou escritos por ausência de aprofundamento nas questões do
livre-arbítrio, da lei de causa e efeito, da imortalidade e mesmo influência
dos espíritos. E, normalmente, quando se adentra a área das comunicações,
verdadeiras aberrações doutrinárias são apresentadas, justamente pela falta de
amadurecimento do que se vai conhecendo.
A advertência de Kardec está, pois, no primeiro parágrafo de
O Livro dos Médiuns.
Vamos, pois, prestar mais atenção. A prática espírita não é
brincadeira, não é divertimento ou disputa de egos, é compromisso de trabalho
para o bem geral.
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