Simples também na parte moral
Simples também na parte moral – Orson Peter
Carrara
Na abordagem primeira, que colocamos
com o título Vejam como é simples e racional, transcrevemos trecho
parcial da Introdução, em seu item VI, de O Livro dos Espíritos.
E aqui concluímos com a parte
final daquele item, dada a importância de informações tão importantes e muitas
vezes desconhecidas ou desconsideradas. Prossigamos aqui:
19 - As diferentes existências
corpóreas do Espírito são sempre progressivas e nunca regressivas; mas a
rapidez do seu progresso depende dos esforços que faça para chegar à perfeição.
20 - As qualidades da alma são as do Espírito que está encarnado em nós; assim,
o homem de bem é a encarnação de um Espírito bom, o homem perverso a de um
Espírito impuro.
21 - A alma possuía sua individualidade antes de encarnar; conserva-a depois de
se haver separado do corpo.
22 - Na sua volta ao mundo dos Espíritos, encontra ela todos aqueles que
conhecera na Terra, e todas as suas existências anteriores se lhe desenham na
memória, com a lembrança de todo bem e de todo mal que fez.
23 - O Espírito encarnado se acha sob a influência da matéria; o homem que
vence essa influência, pela elevação e depuração de sua alma, se aproxima dos
Espíritos bons, com os quais um dia estará. Aquele que se deixa dominar pelas
más paixões, e põe todas as suas alegrias na satisfação dos apetites
grosseiros, se aproxima dos Espíritos impuros, dando preponderância à natureza
animal.
24 - Os Espíritos encarnados habitam os diferentes globos do universo.
25 - Os não encarnados, ou errantes, não ocupam uma região determinada e
circunscrita; estão por toda parte no espaço e ao nosso lado, vendo-nos e
acotovelando-nos de contínuo. É toda uma população invisível, a mover-se em
torno de nós.
26 - Os Espíritos exercem incessante ação sobre o mundo moral e mesmo sobre o
mundo físico. Atuam sobre a matéria e sobre o pensamento e constituem uma das
potências da natureza, causa eficiente de uma multidão de fenômenos até então
não explicados ou mal explicados e que não encontram explicação racional senão
no Espiritismo.
27 - As relações dos Espíritos com os homens são constantes. Os Espíritos bons
nos atraem para o bem, nos sustentam nas provas da vida e nos ajudam a
suportá-las com coragem e resignação. Os maus nos impelem para o mal: é-lhes um
gozo ver-nos sucumbir e assemelhar-nos a eles.
28 - As comunicações dos Espíritos com os homens são ocultas ou ostensivas. As
ocultas se verificam pela influência boa ou má que exercem sobre nós, à nossa
revelia. Cabe ao nosso juízo discernir as boas das más inspirações. As
comunicações ostensivas se dão por meio da escrita, da palavra ou de outras
manifestações materiais, quase sempre pelos médiuns que lhes servem de
instrumentos.
29 - Os Espíritos se manifestam espontaneamente ou mediante evocação. Podem
evocar-se todos os Espíritos: os que animaram homens obscuros, como os das
personagens mais ilustres, seja qual for a época em que tenham vivido; os de
nossos parentes, amigos, ou inimigos, e obter-se deles, por comunicações
escritas ou verbais, conselhos, informações sobre a situação em que se
encontram no além, sobre o que pensam a nosso respeito, assim como as
revelações que lhes sejam permitidas fazer-nos.
30 - Os Espíritos são atraídos na razão da simpatia que lhes inspire a natureza
moral do meio que os evoca. Os Espíritos superiores se comprazem nas reuniões
sérias, onde predominam o amor do bem e o desejo sincero, por parte dos que as
compõem, de se instruírem e melhorarem. A presença deles afasta os Espíritos
inferiores que, inversamente, encontram livre acesso e podem obrar com toda a
liberdade entre as pessoas frívolas ou impelidas unicamente pela curiosidade e
onde quer que existam maus instintos. Longe de se obterem bons conselhos, ou
ensinamentos úteis, deles só se devem esperar futilidades, mentiras, gracejos
de mau gosto, ou mistificações, pois que muitas vezes tomam nomes venerados, a
fim de melhor induzirem ao erro.
31 - Distinguir os bons dos maus Espíritos é extremamente fácil. Os Espíritos
superiores usam constantemente de linguagem digna, nobre, repassada da mais
alta moralidade, escoimada de qualquer paixão inferior; a mais pura sabedoria
lhes transparece dos conselhos, que objetivam sempre o nosso melhoramento e o
bem da humanidade. A dos Espíritos inferiores, ao contrário, é inconsequente,
amiúde trivial e até grosseira. Se, por vezes, dizem alguma coisa boa e
verdadeira, muito mais vezes dizem falsidades e absurdos, por malícia ou
ignorância. Zombam da credulidade dos homens e se divertem à custa dos que os
interrogam, lisonjeando-lhes a vaidade, alimentando-lhes os desejos com falsas
esperanças. Em resumo, as comunicações sérias, na mais ampla acepção do termo,
só são dadas nos centros sérios, onde reine íntima comunhão de pensamentos,
tendo em vista o bem.
32 - A moral dos Espíritos superiores se resume, como a do Cristo, nesta máxima
evangélica: Fazer aos outros o que quereríamos que os outros nos fizessem, isto
é, fazer o bem e não o mal. Nesse princípio encontra o homem uma regra
universal de proceder, mesmo para as suas menores ações.
33 - Ensinam-nos que o egoísmo, o orgulho, a sensualidade são paixões que nos
aproximam da natureza animal, prendendo-nos à matéria; que o homem que, já
neste mundo, se desliga da matéria, desprezando as futilidades mundanas e
amando o próximo, se avizinha da natureza espiritual; que cada um deve
tornar-se útil, de acordo com as faculdades e os meios que Deus lhe pôs nas
mãos para experimentá-lo; que o Forte e o Poderoso devem amparo e proteção ao
Fraco, porquanto transgride a lei de Deus aquele que abusa da força e do poder
para oprimir o seu semelhante. Ensinam, finalmente, que, no mundo dos
Espíritos, nada podendo estar oculto, o hipócrita será desmascarado e
patenteadas todas as suas torpezas, que a presença inevitável, e de todos os
instantes, daqueles para com quem houvermos procedido mal constitui um dos
castigos que nos estão reservados; que ao estado de inferioridade e
superioridade dos Espíritos correspondem penas e gozos desconhecidos na Terra.
34 - Mas, ensinam também não haver faltas irremissíveis, que a expiação não
possa apagar. Meio de consegui-lo encontra o homem nas diferentes existências
que lhe permitem avançar, conforme seus desejos e esforços, na senda do
progresso, para a perfeição, que é o seu destino final.
Farto material para estudo,
pesquisa e reflexão, não é mesmo.
Tudo está reunido no item VI da Introdução
de O Livro dos Espíritos.
A primeira parte está na outra abordagem
com o título Vejam como é simples e racional, também disponível aqui no
blog.
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