Algemas....
Egoísmo,
orgulho, sensualidade – Orson Peter Carrara
Afirma Kardec, no final do item VI da Introdução de O
Livro dos Espíritos, que as três palavras que usamos como título, “são
paixões que nos aproximam da natureza animal”. Nada mais coerente. Cada uma
daquelas palavras abre uma perspectiva imensa de análises, reflexões e
desdobramentos na vida humana, respondendo pela maioria das tragédias e dramas
humanos.
Afinal, em linhas gerais, o egoísmo é indiferente e na maioria
das vezes, omisso, mas também gerador de apegos múltiplos; o orgulho cria ilusões
variadas de superioridade ou de exagerado autovalor perante o semelhante e a
sensualidade é causadora de muitos conflitos interiores e de relacionamentos. É
que normalmente criam os grandes apegos à vida material.
Diz o Codificador que esses ensinamentos foram transmitidos pelos
Espíritos e acrescenta: “que o homem que, já neste mundo, se desliga da
matéria, desprezando as futilidades mundanas e amando o próximo, se avizinha da
natureza espiritual”. Muito oportuno! Esse “desligar da matéria e desprezo das
futilidades mundanas” não é sinônimo de negligência com as necessidades da vida
material, mas não apego, não escravização às questões materiais. Sabe-se, em
primeira mão, que o espírito tem imensa necessidade da vida material para
progredir. Vide item 25 do capítulo 4 de O Evangelho Segundo o Espiritismo,
no subtítulo Necessidade da encarnação.
É que é exatamente nas existências corpóreas que o espírito se
desenvolve no intelecto, na moralidade, no sentimento, aprimorando-se,
exercitando-se. E então os Espíritos ensinaram e Kardec coloca ali naquele já
citado item da Introdução: “que cada um deve tornar-se útil, de acordo
com suas faculdades e os meios que Deus lhes pôs nas mãos para experimentá-lo”.
Notemos, com clareza, que “esse tornar-se útil” é o oposto
daquelas paixões que escravizam o espírito durante a experiência carnal. E
mais: “que o forte e o poderoso devem amparo e proteção ao fraco, porquanto
transgride a Lei de Deus aquele que abusa da força e do poder para oprimir o
seu semelhante.”
Nesse pequeno último trecho transcrito, observando sua
atualidade nos quadros em vigor no planeta – influência direta daquelas paixões
– vemos a luta que o espírito encarnado se defronta em seu próprio cotidiano.
Tudo isso de vez que, conforme também o trecho em referência:
“que, no mundo dos Espíritos, nada podendo estar oculto, o hipócrita será
desmascarado e patenteadas todas as suas torpezas; que a presença inevitável, e
de todos os instantes, daqueles para com houvermos procedido mal constitui um
dos castigos que nos estão reservados “. E cite-se: não existem castigos, mas
meras consequências, meros desdobramentos de nossas próprias ações.
As citações aqui trazidas são parciais do resumo da Doutrina
Espírita, que os Espíritos ensinaram, e que Kardec apresenta naquele item da Introdução
de O Livro dos Espíritos.
Será interessante que se busque o item, o de número VI, para
leitura integral. Muito se aprenderá na leitura atenta, reflexiva, só sobre
aquele item. O acréscimo de raciocínio que forma base para outros, é imenso.
É isso. É a riqueza do conhecimento espírita. Sua lucidez e
grandeza estão sempre a nos ensinar, mas é preciso a iniciativa de buscar e
estudar.
Se ainda não conseguimos nos libertar daquelas mazelas, pelo
menos já vamos exercitando, ainda que mentalmente, para depois viver na prática
o dispensar dessas algemas que ainda fazem sofrer, gerando quadros de angústia.
“O mundo espírita, que preexiste e sobrevive a tudo.”
“Decerto. Eles são independentes; contudo, é incessante a correlação entre ambos, porquanto um sobre o outro incessantemente reagem.”
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