Ainda o centenário

 



Centenário da RIE – Revista Internacional de Espiritismo

Orson Peter Carrara

 

Desde garoto acompanhei meu pai com exemplares do jornal O Clarim e da Revista Internacional de Espiritismo, que ele recebia pelo correio. Cheguei, inclusive, conhecer o representante das publicações que visitava a cidade para recolher as renovações de assinaturas. Não me lembro o nome dele (Onofre, parece-me, pela lembrança vaga), mas as recordações viajam no tempo e trazem essas imagens do passado.

Aliás, a chegada das publicações e mesmo dos livros era sempre motivo de festa. Eu gostava de ver as capas dos livros que meu pai – como bibliotecário à época – organizava na instituição a que nos vinculávamos na pequena Mineiros do Tietê, no interior de São Paulo, e mesmo levava quando acompanhava meu tio Pedro Carrara, nas palestras que proferia em outras cidades próximas.

O cheiro próprio de papel, das capas, era muito característico, e marcou a memória infantil, até porque sempre via meu pai, à tarde, encostar a cadeira no muro do quintal para ler as publicações. Essa imagem, associada às embalagens com seu aroma próprio, é inapagável.

Cairbar Schutel, quando fundou em Matão, suas duas tradicionais publicações, não imaginava o alcance de seu esforço. O jornal já é centenário e a revista atinge agora seu primeiro século.

Como conhecido, era seu objetivo estimular a pesquisa científica e trazer aos leitores as conquistas da ciência de sua época no terreno do psiquismo e também oferecer a sábia contribuição literária dos sábios de seu tempo, especialmente de outros países, com quem mantinha regular correspondência. Isso também com a intenção de oferecer conteúdo literário mais vasto aos habituados à leitura e estudo mais aprofundados, já que o jornal se destinava às pessoas mais acostumadas ao estudo mais compacto e rápido.

Alcançando, agora em 2025, seu centenário, a publicação tem muito a comemorar. Por suas páginas, conteúdos de grandes autores estiveram à disposição de seus assinantes e leitores. Estudiosos da ciência espírita, ponderações vastas da filosofia à luz do Espiritismo e, claro, reflexões profundas sobre o caráter moral ou religioso da Doutrina Espírita, ali estiveram nas luminosas e perseverantes edições mensais da tradicional RIE.

Com o progresso das artes gráficas, ela passou do formato preto e branco para a figuração colorida, abrindo outro universo através das cores em suas chamadas e bonitas capas, sem nunca perder seu compromisso sério com a divulgação espírita, além de cumprir também seu papel noticioso e igualmente ter seu espaço de opiniões e entrevistas, que sempre valorizou esforços de diversos segmentos e personalidades do movimento espírita, no país e no exterior.

Aliás o perfil internacional – que atinge dezenas de países – também contemplou matérias e reportagens bilingue, e o parque gráfico da editora – atualmente desativado, tendo terceirizado as publicações – também imprimiu edições da Revue Spirit, entre outras iniciativas envolvendo outros idiomas.

Em outras palavras, o esforço inicial de Schutel não se perdeu. A editora, que foi fundada em 1905, prosseguiu sua trajetória e permanece ativa. E sua principal publicação, a RIE, com um século de circulação, reafirma o compromisso do ideal de seu fundador, no esforço consciente de seus continuadores.

Por minha vez, nunca imaginava que aquelas publicações que via circular em casa, quando criança – flagrando momentos de leitura de meus pais –, e na instituição onde sempre foi divulgada em minha e nas cidades vizinhas, inclusive com articulistas e notícias daquela região, viesse um dia ocupar diretamente as atenções dentro da própria família! Durante alguns anos participei diretamente na elaboração da publicação, na escolha das matérias, contatos para matérias e entrevistados, integrando inclusive o Conselho de Redação. Foram anos de muito aprendizado, onde a admiração, o reconhecimento a Cairbar ainda mais se reforçaram. E, um pouco mais tarde, meu próprio filho Cássio – hoje editor da RIE – no mesmo processo.

Naquele contato mais direto com a editora e seus objetivos doutrinários é inevitável não perceber o cuidado e firmeza de condução de um ideal formado pelo seu fundador, inspirado pelo amor ao Evangelho e pela lucidez da Doutrina codificada por Allan Kardec.

O compromisso é sério e grave. Seus diretores, especialmente, nas diferentes gestões, deram provas dessa consciência, mantendo a firmeza delineada por Cairbar Schutel. Este, defendendo a Doutrina Espírita de seus detratores à época e enfrentando obstáculos que não temos como dimensionar nos dias atuais, apenas vinte anos adiante, funda a sua revista, um grande sonho que se concretizou para aprofundar as questões, com o auxílio de um de seus nobres admiradores, devido à sua coragem e ousadia criativa e respeitosa.

As lutas não foram fáceis, nem pequenas. Ao longo das décadas seus continuadores envidaram esforços variados para mantê-la em circulação. Nomes contemporâneos como Leão Pitta, entre outros, viajaram o país em busca de assinaturas e também para divulgar as publicações da editora. Com tudo isso, a editora fortaleceu-se de maneira intensa, especialmente com a chegada de Wallace Leal V. Rodrigues, cujo centenário de nascimento também foi lembrado e fartamente comemorado com várias ações que destacaram o valoroso autor, editor e tradutor que tanto fez pela editora, e sempre presente na RIE.

A história se confunde entre a editora e suas publicações, de um jornal e uma revista, além dos livros, é óbvio, papel da editora, mas o fato concreto é que o trabalho prossegue.

Hoje a RIE é distribuída em várias cidades e estados do país e qualquer instituição pode aderir ao formato de aquisição coletiva dos exemplares para revenda e distribuição junto aos seus frequentadores e voluntários. Basta um contato com a editora para essa informação.

Disponível também no formato digital, a assinatura da publicação é de grande importância para disseminação do conhecimento espírita. Com suas colunas especiais e específicas, sempre presentes nas edições mensais, a oportunidade de reflexão é muito abrangente.

Assinar a revista (e existe também a opção de assinar conjuntamente com jornal O Clarim e mesmo presentear outra pessoa com uma assinatura) é valorizar o esforço de Cairbar Schutel.

Por outro lado, no decorrer de 2025 vários e conhecidos autores e articulistas estarão presentes nas páginas das edições valorizando a história centenária.

É realmente um grande acontecimento para os espíritas!

 

Nota do autor: artigo publicado originariamente na edição de maio/25 da RIE - Revista Internacional e Espiritismo, com adaptações. 

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