Vovô, usa “eche”!
– Orson Peter Carrara
Incrível a experiência vivida com
as crianças! Somente a sabedoria de Deus poderia mesmo ter estabelecido leis
que determinam que a vinda dos seres humanos ao planeta para os estágios de
aprendizado se dê por meio de uma fase de inocência e pureza, com as alegrias e
emoções próprias trazidas pela infância.
As crianças encantam a vida e nos
fazem enxergar a vida de outra forma, nos ensinam muito e nos devolvem as
lembranças carinhosas da infância. O que mais impressiona, porém, são as
descobertas sucessivas que elas fazem, surpreendendo os adultos com a agilidade
que lhes caracterizam as atitudes.
A netinha que chegou na família
há pouco mais de dois anos e que agora vai ganhar irmãozinho, surpreendeu-me
esta semana com o hábito próprio infantil de imitar os adultos.
Com meu celular à mão, ou melhor,
nos ouvidos, andava pela casa e pela varanda externa, balbuciando frases que só
ela mesmo devia entender. Eu, por minha vez, estava naturalmente preocupado que
ela deixasse o celular cair ou o entregasse – como faz de hábito com tudo – à
cachorrinha que também vive em casa: D. Kika, expert em mastigar objetos
variados.
Eis que diante de meu pedido
insistente: Amanda, empresta o celular para o vovô, preciso fazer uma ligação,
obtive surpreso a seguinte resposta, após ela correr e apanhar o fixo:
– Usa “eche”, vovô! E continuou sua trajetória de frases que só
ela mesmo entende...
Em outra ocasião em que a chave
da porta lateral havia sumido, ficamos todos a comentar tumultuados na procura
da chave, ela saiu e foi buscar a chave...
Raciocínio rápido, inteligente,
ágil.
Bem próprio de um cérebro
novinho, denotando conquistas já assimiladas, imitadas ou compreendidas.
Isso não é apenas aprendizado, é
também experiência adquirida anteriormente, agora facilitada pelo meio na
convivência de observação e pelos recursos do próprio corpo em desenvolvimento.
O fato notável é que é mesmo
admirável ver o desenvolvimento de uma criança e suas conquistas em qualquer
ângulo que se queira analisar.
Afinal a alma que habita o corpo
de uma criança pode ser tão ou mais desenvolvido que de um adulto. Na criança
os órgãos infantis, ainda em formação, é que impedem a plena manifestação da
alma ali presente.
O mais importante desse
raciocínio todo, porém, é que todos vimos ao mundo para progredir, passando
pela fase de infância, que é facilitadora às impressões educativas que recebe
dos pais, dos adultos e educadores, do meio em que vive. É uma fase mais
acessível à influência dos bons exemplos e para a qual devemos contribuir todos
aqueles que estejamos encarregados de sua educação.
Na adolescência, quando intensas
modificações físicas e mesmo no caráter se apresentam, é a fase que o habitante
que voltou e viveu primeiro a fase infantil, retoma agora sua natureza e se
mostra como ele era.
As crianças são os seres que
retornam para os processos de continuidade no aprendizado e as aparências de
inocência é para facilitar os mecanismos educativos, para os quais os pais e
responsáveis devem estar atentos.
Mas claro que não é só isso.
Também existe a necessidade de proteção e total dependência de cuidados,
despertando o interesse e cuidados dos pais ou responsáveis.
Daí o empenho que nós, os
adultos, devemos dedicar ao bom amparo aos pequeninos que nos rodeiam na
condição consanguínea ou não, pois tais investimentos educativos e afetuosos –
calcados no exemplo – resultarão no adulto responsável e bom, o que mais
precisamos nessa sociedade que se debate com tantos conflitos, resultantes em
muitos casos dos descuidos com a educação e da falta de bons exemplos.
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