Tensão ou harmonia nos grupos espíritas
– Orson Peter Carrara
Da preciosa coleção da Revista Espírita (editada por Kardec no
período de 1858 a 1869), extraímos para o leitor pequeno trecho do texto Organização do Espiritismo – publicado
na edição de dezembro de 1861 –, cuja atualidade impressiona face aos desafios
sempre encontrados pelas instituições e grupos no que se refere aos
relacionamentos entre seus integrantes.
A velha questão dos melindres de
suscetibilidades, dos conflitos de opinião e daí os desdobramentos próprios da
desorganização das ideias diferentes, leva muitas iniciativas ao fracasso,
interrompe bênçãos de trabalho, afasta valorosos cooperadores, com prejuízos
evidentes à proposta espírita.
Como o fim do Espiritismo é
essencialmente moral, espera-se que busquemos nesse esforço do auto
aprimoramento as bases de nossa atuação individual e coletiva, para não
ocorrência dos prejuízos bem próprios de nossa condição humana.
Acompanhemos o pequeno trecho
selecionado, que se refere aos grupos:
“(...) Se eles forem formados de bons elementos, serão tantas
boas raízes que darão bons rebentos. Se, ao contrário, são formados de
elementos heterogêneos e antipáticos, de espíritas duvidosos, se ocupando mais
da forma que do fundo, considerando a moral como a parte acessória e
secundária, é preciso se prever polêmicas irritantes e sem desfecho, melindres
de suscetibilidades, seguido de conflitos precursores da desorganização. Entre
verdadeiros espíritas, tais como os havemos definido, vendo o propósito
essencial do Espiritismo na moral, que é a mesma para todos, haverá sempre
abnegação da personalidade, condescendência e benevolência, e, por
consequência, certeza e estabilidade nos relacionamentos. Eis porque insistimos
tanto nas qualidades fundamentais. (...)”
A sempre constante questão dos conflitos ou da harmonia está no
comportamento individual que se reflete diretamente nos grupos. Exatamente
aquele comportamento de boa vontade que busca superar e egoísmo e a vaidade
para o bem coletivo. Quando nos fechamos em pontos de vistas, quando nos
achamos melhores que os demais, quando pensamos que nossa opinião é a melhor,
quando não valorizamos o esforço alheio ou quando optamos pelos tristes
caminhos do orgulho, serão nossos acompanhantes a irritação, a intolerância e
seus desdobramentos próprios.
Quando, todavia, optamos pelo caráter solidário dos
relacionamentos, quando desejamos sinceramente o bem de todos ou direcionamos
nossas ações para a permanência da harmonia, os frutos de nossas realizações
conjuntas serão doces e sempre com benefícios gerais que extrapolam os limites
do próprio grupo, pois que se irradiam de si mesmo em favor de muitos.
É que o afeto é capaz desses prodígios. O afeto há que ser
construído, valorizado, conquistado, estimulado, vivido e cultivado.
Será de muito oportunismo uma releitura do texto Organização do
Espiritismo, especificamente voltado à formação ou manutenção de grupos
espíritas.