Predições do Evangelho
Orson
Peter Carrara
O título da presente
abordagem é o mesmo utilizado por Allan Kardec no capítulo XVII de A Gênese, obra integrante da Codificação
Espírita e publicada em 1868. A significativa expressão engloba estudos de
Kardec sobre diferentes passagens anotadas pelos evangelistas e com a
perspectiva de previsão, ou anúncio do que vai acontecer, predito, previsto até
por conjectura, em recurso didático bastante utilizado por Jesus nos diálogos
com seus discípulos.
O capítulo em
referência traz diversos subtítulos com essa finalidade de estudo e análise dos
textos dos Evangelhos. No item 30, no texto do subtítulo Parábola dos Vinhateiros Homicidas, traz importante advertência às
nossas distrações ou negligências com a evolução moral.
Peço ao leitor ler
novamente a parábola, que bem é uma predição do comportamento geral humano
frente às lições de amor enviadas por Deus aos filhos, por meio de mensageiros
diversos em todos os tempos, culminando com a presença viva de Jesus, que não
foi compreendido e morto pela ignorância reinante.
O notável texto de
Kardec é de uma atualidade impressionante. Ele inicia assim no item citado
(30): “O pai de família é Deus; a vinha que plantou é a lei que estabeleceu; os
vinhateiros aos quais arrendou a sua vinha são os homens que devem ensinar e
praticar a sua lei; os servidores que enviou para eles são os profetas que
fizeram perecer; seu filho que enviou, enfim, é Jesus, que fizeram perecer do
mesmo modo. (...)”.
Depois prossegue no
texto que desejamos destacar pensando nas desorientações generalizadas que
encontramos na atualidade do planeta:
“(...) Que fizeram os homens das máximas de
caridade, de amor e de tolerância de Jesus? Que fizeram das recomendações que
fez a Seus apóstolos para que convertessem os homens pela brandura e pela
persuasão; da simplicidade, da humildade, do desinteresse e de todas as
virtudes que Ele exemplificou?! Em Seu nome, os homens se
anatematizaram mutuamente e reciprocamente se amaldiçoaram; estrangularam-se em
nome d`Aquele que disse: “Todos os homens são irmãos”. Do Deus
infinitamente justo, bom e misericordioso que Ele revelou, fizeram um Deus
cioso, cruel, vingativo e parcial; àquele Deus, de paz e de verdade,
sacrificaram nas fogueiras, pelas torturas e perseguições, muito maior número
de vítimas do que as que em todos os tempos os pagãos sacrificaram aos seus
falsos deuses; venderam-se as orações e as graças do Céu em nome d`Aquele que
expulsou do Templo os vendedores e que disse a Seus discípulos: “Dai de
graça o que de graça recebestes”.
E
conclui com sabedoria:
“Que diria o Cristo, se viesse hoje entre nós? Se
visse os que se dizem Seus representantes a ambicionar as honras, as riquezas,
o poder e o fausto dos príncipes do mundo, ao passo que Ele, mais rei do que
todos os reis da Terra, fez a Sua entrada em Jerusalém montado num jumento? Não
teria o direito de dizer-lhes: “Que fizestes dos meus ensinos, vós que
incensais o bezerro de ouro, que dais a maior parte das vossas preces aos
ricos, reservando uma parte insignificante aos pobres, sem embargo de haver eu
dito: Os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros no Reino
dos Céus?”. Mas se aqui não está
carnalmente, ele o está em Espírito, e, como o senhor da parábola, virá pedir
contas aos seus vinhateiros do produto de sua vinha quando o tempo da colheita
houver chegado.”
Valemo-nos, diante de tanta clareza, todavia, do
capítulo XV – Fora da Caridade não há
salvação, de O Evangelho Segundo o
Espiritismo, onde estão os belíssimos textos d Parábola do Bom Samaritano, da Necessidade
da caridade segundo São Paulo e a extraordinária “bandeira” do Espiritismo:
Fora da Caridade não há salvação.
É desse luminoso capítulo que extraímos do
comentário de Kardec, no item 3: “Toda a moral de Jesus se resume na caridade
e na humildade, quer dizer, nas duas virtudes contrárias ao egoísmo e ao
orgulho (...)”. É aqui que queríamos chegar. As desorientações em curso, com as
perturbações sociais de variados graus de intensidade, com desdobramentos
desafiadores, provém do egoísmo e do orgulho.
E Kardec abrilhanta com seu raciocínio objetivo, no
mesmo item: “(...) Em todos os seus ensinamentos, ele mostra essas virtudes
como sendo o caminho da felicidade eterna. Bem-aventurados, disse ele, os
pobres de espírito, quer dizer, os humildes (...)”.
A humildade é a virtude que nos tem faltado ao
coração; o egoísmo ainda nos avassala os sentimentos. Paulo, o Apóstolo, nos
chama a atenção em sua conhecida Epístola sobre o sentimento contrário ao
egoísmo em trecho também destacado por Kardec no mesmo capítulo: “(...) A caridade
é paciente, é doce e benfazeja; a caridade não é invejosa; não é temerária e
precipitada; não se enche de orgulho; não é desdenhosa; não procura seus
próprios interesses; não se melindra e não se irrita com nada; não suspeita
mal; não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade; tudo
suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre (...)”.
Percebe-se com clareza que o momento aflitivo, de
conturbação, com guerras, conflitos, prevalência dos interesses pessoais em
detrimento do interesse coletivo, é fruto do egoísmo ainda imperante no
comportamento humano. A parábola em referência é bem uma advertência para que
prestemos atenção aos "chamados” de fraternidade, incessantemente enviados
ao nosso sentimento individual e coletivo.
A conclusão da parábola – que necessita ser
entendida além das palavras – é verdadeiramente um predição: “(...) o senhor
(...) arrendará a sua vinha a outros vinhateiros, que lhe entregarão os frutos
em sua época.”, conforme anotou Mateus no capítulo XXI, v. de 33 a 41.
Por isso, para aqueles que nos consideramos
cristãos, o apelo é direto, como afirma o mesmo Paulo, igualmente no mesmo
capítulo XV de O Evangelho Segundo o
Espiritismo, item 10: “(...) Submetei todas as vossas ações ao controle da
caridade; (...) não somente ela vos evitará de fazer o mal, mas vos levará a
fazer o bem: porque não basta uma virtude negativa, é preciso uma virtude
ativa; para fazer o bem, é preciso sempre a ação da vontade; para não fazer o
mal, frequentemente, a inércia e a negligência (...)”.
Ação
da vontade! Afinal, conclui o apóstolo: “(...) todos aqueles que praticam a
caridade são os discípulos de Jesus, qualquer seja o culto a que pertençam.”